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10 de maio de 2019
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19:04

Em defesa da educação

Por
Sul 21
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Em defesa da educação
Em defesa da educação
Foto: Divulgação/MEC

Céli Pinto (*)

É verdade que o ensino superior público, tanto de graduação como de pós-graduação (mestrado e doutorado), é o que há de mais estruturado e qualificado no sistema de ensino no país. As universidades federais e estaduais têm um ensino de alta qualidade e são responsáveis por mais de 95% da pesquisa feita no Brasil. Seus professores são relativamente bem pagos e a quase a totalidade possui doutorado.

Enquanto isto, os ensinos fundamental e médio públicos sofrem com o descaso, com a falta de estrutura, com professores mal pagos e com dificuldades para se qualificarem. Infelizmente os governos brasileiros até 2016, ainda sobre plena democracia, não tiveram condições ou vontade política de enfrentar o grande problema da educação brasileira.

A desqualificação do ensino público fundamental e médio no Brasil é, ao mesmo tempo, causa e efeito da desigualdade social que tem dado lastro a um capitalismo sem freios, por séculos.

O que fazer? Aí mora o perigo. O pior dos mundos é tentar resolver a base destruindo o que há de melhor, as universidades. Que fique bem claro, isto não é o que pretende o bolsonarismo no poder. Eles não pretendem construir nada. Não lhes interessa nada que se aproxime de políticas pública. Eles querem destruir tudo que possa parecer inclusão, ampliação de direitos, expansão do pensamento cientifico e filosófico.

Minha preocupação é outra, é com pessoas bem-intencionadas, que incorporaram preconceitos contra as universidades e possam vir a acreditar que é possível resolver o ensino fundamental e médio através da destruição do ensino superior. Não há exemplo no planeta de país com alta qualidade de educação para crianças e adolescentes que não tenha excelentes universidades. Mais do que isto, a grande maioria delas é de fácil acesso aos estudantes que terminam o ensino médio e queiram continuar estudando.

Não teremos um país capaz de levar à frente o ensino público de qualidade sem professores de qualidade, formados nos cursos de graduação. Professores com carreiras bem estruturadas e salários dignos. Não se constrói uma educação de qualidade sem reflexão científica sobre educação, o que se faz nas pesquisas realizadas em programas de mestrado e doutorado. Portanto, não se faz educação básica de qualidade sem uma universidade de qualidade.

Sem ela também não teremos historiadores, médicos, filósofos, engenheiros, arte-educadores, advogados, cientistas sociais, químicos, físicos, matemáticos, arquitetos, economistas, analistas de sistemas, enfim profissionais e cientistas fundamentais para qualquer sociedade preocupada com suas crianças, seus adolescentes e sua população adulta.

Precisamos de políticas públicas sérias para a educação, que transformem a triste realidade do ensino fundamental e médio e fortaleçam as universidades, para que elas possam acolher uma grande quantidade de jovens, todos os que assim o desejarem. Somente desta forma conseguiremos caminhar na direção de uma sociedade mais justa, igualitária e solidária.

Urge uma reação a este desgoverno obscurantista para salvar as universidades. Mais do que isto, nós – que vivemos dentro delas – devemos nos unir em prol da educação em geral, em todos os níveis. Temos qualificação, voz e precisamos ter vontade política de liderar uma forte oposição ao desmonte do país, que está sendo levado a efeito por uma ação desqualificada, reacionária, elitista e cínica do atual governo.

(*) Professora Titular do Departamento de História da UFRGS.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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