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7 de dezembro de 2015
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10:04

A economia gaúcha e o ranking dos estados

Por
Sul 21
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A economia gaúcha e o <em>ranking</em> dos estados
A economia gaúcha e o ranking dos estados

Por Cecília Hoff

A divulgação definitiva das contas regionais costuma receber pouca atenção da mídia e da população em geral, seja porque se refere a informações já passadas, quando o interesse costuma recair sobre a conjuntura, seja porque, pelo menos para o caso do Rio Grande do Sul, com frequência traz poucas alterações às taxas de crescimento do PIB divulgadas em caráter preliminar. Os resultados definitivos costumam ser disponibilizados com dois anos de defasagem em relação ao período mensurado, após diversas revisões e incorporações de novos dados, uniformização metodológica e demais ajustes para que a soma das economias estaduais e de seus setores seja consistente com os dados previamente divulgados para a economia nacional. Aqui no Estado, a metodologia utilizada pela FEE para aferir o PIB na estimativa preliminar busca reproduzir aquela que será utilizada na versão definitiva. Assim, em condições normais, a principal novidade associada à versão definitiva é a possibilidade de comparação dos resultados de uma unidade da federação com as demais, ou seja, a possibilidade de avaliar-se o desempenho da participação do Rio Grande do Sul, e de seus setores, no total nacional.

A divulgação de novembro de 2015, referente aos dados regionais do PIB de 2013, assim como a revisão do período 2010 a 2012, foi uma exceção. Tal revisão trouxe alterações importantes às estatísticas previamente disponibilizadas, na medida em que incorporou as mudanças conceituais e metodológicas já adotadas pelo IBGE na série das contas nacionais (ano-base 2010), que veio substituiu a anterior (ano-base 2002). Em termos de crescimento do produto, é lícito afirmar que não houve alterações significativas na dinâmica previamente identificada. A queda do PIB registrada no ano de 2012, devido à estiagem, revelou-se maior do que a estimada (-2,1% na série nova, contra -1,5% na série antiga), mas a recuperação do ano seguinte revelou-se também mais intensa (crescimento de 8,2% na série nova, contra 6,7% na série antiga). Nos três anos, a taxa de crescimento média de 3,4% registrada na série nova foi pouco superior à média de 3,0% da série antiga, um resultado similar ao observado nas contas nacionais, cuja revisão também implicou em taxas de crescimento pouco maiores no triênio.

A principal mudança trazida pela nova série diz respeito à participação da economia do Rio Grande do Sul na economia nacional. Enquanto, na série antiga, o PIB gaúcho representava, em 2013, 6,7% do PIB nacional, na série nova passou a representar 6,2%. Houve redução da participação do Estado nos três principais setores: perdemos 0,39 pontos percentuais (p.p.) de participação na agropecuária, 1,30 p.p. na indústria e 0,47 p.p. nos serviços. A origem da perda de participação em cada setor é puramente metodológica. Na explicação oficial, são apontados “o aumento da participação de outras unidades federativas na agropecuária, as mudanças de classificação nas atividades na indústria e, principalmente, os novos procedimentos para o cálculo do Valor Adicionado da administração pública”.

Outra novidade, essa mais noticiada, é que o Paraná, com uma participação de 6,3% no PIB nacional, ultrapassou o Estado como a quarta maior economia do País em 2013. Ainda encontra-se, contudo, atrás de São Paulo (32,1%), Rio de Janeiro (11,8%) e Minas Gerais (9,2%). O curioso é que em termos de crescimento do produto o desempenho do Rio Grande do Sul (crescimento acumulado de 10,6% entre 2010 e 2013) foi pouco superior ao do coirmão da região Sul (10,2% no período), o que mostra que a mudança do ranking tem origem na evolução dos preços relativos, e não em um desempenho relativamente pior da economia gaúcha. Na prática, o crescimento médio de toda a região Sul foi baixo entre 2011-13, refletindo a quase estagnação registrada na economia brasileira.

O Paraná já vinha “disputando” a quarta posição no PIB nacional com o Rio Grande do Sul há alguns anos, o que também ficou evidente na série nova. Ademais, o sexto lugar no ranking é Santa Catarina, ainda bem distante do Estado, com uma participação de 4,0% no PIB nacional. Por fim, o Rio Grande do Sul ainda detém o terceiro maior valor adicionado na agricultura (atrás de São Paulo e Paraná) e o terceiro maior na indústria de transformação (atrás de São Paulo e Minas Gerais), enquanto o PIB per capita continua superando em cerca de 10% o PIB per capita nacional. Na verdade, o problema não parece residir na perda de participação, desde que todas as regiões estejam crescendo de modo a aumentar os seus níveis de renda per capita e desenvolvimento. Mais do que a perda no ranking, a estagnação de 2014 e as quedas esperadas para o PIB em 2015 e 2016 representam perdas muito maiores – de renda, de emprego e de cidadania.

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Cecília Hoff é doutora em economia pela UFRJ, economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE) e professora da FACE/PUCRS.


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