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22 de junho de 2015
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11:07

A indústria desce a ladeira

Por
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A indústria desce a ladeira
A indústria desce a ladeira

Por Cecilia Rutkoski Hoff

Ao contrário dos ciclos anteriores de expansão da economia brasileira, notadamente entre o pós-guerra e os anos 1970, quando a indústria foi o motor do crescimento, no período 2004-10 a taxa de crescimento da produção industrial foi inferior à média da economia. Se, naquele período, o crescimento do PIB deu-se em resposta ao intenso processo de mudança estrutural e industrialização, nas décadas mais recentes tomou forma um processo precoce de redução da participação da indústria na economia brasileira. Ainda que se reconheça o avanço da importância dos serviços nas economias modernas, a expansão puxada pela indústria continua a ser o meio mais eficaz de garantir o crescimento sustentado, seja porque traz ganhos de produtividade e inovações, com efeitos que transbordam para os demais setores, seja porque gera excedentes exportáveis que contribuem para a manutenção do equilíbrio externo. No último ciclo de expansão, enquanto o PIB brasileiro cresceu 4,4%, em média, entre 2004 e 2010, e o consumo das famílias e o investimento expandiram-se em médias anuais de 5,3% e 8,0%, respectivamente, a produção da indústria de transformação cresceu 3,0%. Esse modelo de crescimento gerou desequilíbrios, tanto nas contas externas quanto na inflação, que até 2010 ficaram encobertos pela elevação dos preços das commodities e pela apreciação cambial. Após 2011, os desequilíbrios vieram à tona, junto com o fim do ciclo de expansão.

Entre 2011 e 2014, o crescimento médio do PIB brasileiro foi de 2,1%, enquanto o crescimento da produção da indústria de transformação foi nulo. Ou seja, o nível de produção encontrava-se, no final do ano passado, em patamar muito próximo ao alcançado em 2010 (e também em 2008, dado que o crescimento de 2010 apenas recuperou o nível prévio à crise de 2009). Na margem, observa-se uma tendência acentuada de queda da produção. Após uma pequena recuperação de 2,8% em 2013, empurrada por uma série de incentivos do governo, a produção física da indústria de transformação voltou a reduzir-se em 2014, registrando queda de 4,2% (PIM-PF/IBGE). Nos primeiros quatro meses de 2015, o ritmo de queda intensificou-se, para 8,5%, movimento que se mostra generalizado entre as diversas regiões do país. Entre os estados com maior participação na indústria de transformação nacional, as maiores quedas foram registradas na Bahia (-12,8%), no Rio de Janeiro (-11,1%) e em Minas Gerais (-9,8%). As menores, no Paraná (-8,5%), no Rio Grande do Sul (-8,1%), em São Paulo (-7,1%) e em Santa Catarina (-6,7%). As quedas também foram generalizadas entre os principais setores da transformação, com destaque para o automotivo (-21,3% no ano) e o de máquinas e equipamentos (-9,1%). A redução da produção nesses dois setores refletiu-se, também, em outros da cadeia metal-mecânica, bem como na produção de borracha e de equipamentos de informática.

No Rio Grande do Sul, o desempenho da indústria reproduz a dinâmica nacional, resguardadas algumas especificidades, que resultam da maior ou menor concentração de setores no território estadual. Para a queda de 8,1% da indústria gaúcha, contribuíram, assim como no país, o desempenho dos setores automotivo (-12,7%) e de máquinas e equipamentos (-24,8%), com reflexos também nos demais elos de suas cadeias produtivas. Porém, para o desempenho estadual também foram determinantes as quedas na produção de derivados de petróleo (-10,6%) e de móveis (-9,1%). De outro lado, e ao contrário do observado em nível nacional, o setor petroquímico mostra recuperação (crescimento de 11,7% no estado, face uma queda de 3,0% em nível nacional), assim como a produção de bebidas (crescimento de 5,7% no estado, face uma redução de 7,0% no país).

Nos últimos anos, a produção industrial ficou estagnada, a despeito de uma série de incentivos fiscais voltados ao seu crescimento. Na conjuntura atual, a retirada dos incentivos ao consumo e a redução daqueles ao investimento, no âmbito do programa de ajuste fiscal do governo federal, e a queda da demanda, face à deterioração da renda real, do crédito e da confiança, estão impondo um ajuste dramático aos níveis de produção e emprego na indústria. Ainda que a “brincadeira” da desoneração da folha de pagamentos possa ter custado caro aos cofres públicos, por certo contribuiu, em conjunto com a perspectiva de que em algum momento a demanda voltaria a se recuperar, para preservar os empregos em um cenário de estagnação produção. Hoje, a julgar pelo fechamento de vagas na indústria (em maio foram 60 mil em todo país), esse cálculo parece já não fazer mais sentido.

Cecília Hoff é doutora em economia pela UFRJ, economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE) e professora da FACE/PUCRS.


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