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25 de maio de 2015
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11:06

Ainda vai piorar antes de melhorar

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Sul 21
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Por Cecília Hoff

As manchetes do final da semana foram curiosas. De um lado, a diretora-gerente do FMI, em visita ao Brasil, declarou que a política econômica do país está “claramente no caminho certo”. De outro, foram divulgados os dados do CAGED, que mostraram o fechamento, em abril, de quase 100 mil vagas no mercado de trabalho formal. Os meses passam, o ajuste da economia avança e os indicadores do mercado de trabalho continuam piorando. Na média do primeiro quadrimestre de 2015, a taxa de desemprego aberto foi de 5,9% (na média das seis regiões metropolitanas que compõem a Pesquisa Mensal de Emprego/IBGE), um aumento de 0,9 ponto percentual em relação ao mesmo período do ano passado. A taxa de desemprego mostra, ademais, uma tendência de crescimento na margem, tendo alcançado 6,4% no mês de abril (contra 4,9% em abril de 2014).

O aumento da taxa de desemprego passou a alinhar-se aos resultados pouco animadores de outros indicadores de nível de atividade. Espera-se uma contração do PIB nacional entre 1,0% a 1,5% em 2015, após a estagnação de 2014, e uma redução de 4,0% a 5,0% na produção industrial, após contração de 3,2% no ano passado. O valor exportado pelo país reduziu-se em 16,4% nos primeiros quatro meses de 2015, na sequência de uma queda de 7,0% em 2014. A produção de insumos para a construção civil reduziu-se em 8,2%, no primeiro trimestre de 2015, após uma queda de 5,9% no ano passado. E as receitas nominais com serviços, que até pouco tempo registravam desempenho positivo, também começaram a ceder, crescendo, nos 12 meses encerrados em março, menos do que a inflação acumulada no período (expansão de 4,6%, contra uma inflação, medida pelo IPCA, de 6,8% na mesma base de comparação). Não se espera um movimento diferenciado na economia gaúcha. Talvez os resultados não sejam tão negativos, em função de mais uma safra recorde de soja, cuja venda também pode ser favorecida pela desvalorização do real (que está compensando, a rigor, a queda do preço do grão no mercado internacional). Mas, dada a magnitude da contração nacional, será difícil escapar de um resultado negativo aqui também.

O aumento da taxa de desocupação é generalizado entre as regiões e decorre, na média nacional, mais do fechamento de vagas do que do aumento da procura por emprego. Tomando-se o primeiro quadrimestre de 2015, em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto a População Economicamente Ativa (PEA) ampliou-se em 71 mil pessoas, o aumento do número de desempregados foi de 242 mil pessoas. Há diferenças regionais, mas o movimento de redução da ocupação, assim como da taxa de desemprego, foi generalizado entre as regiões metropolitanas pesquisadas. A região de Salvador registrou a maior taxa de desemprego em abril (10,9%, contra 8,9% em abril de 2014), enquanto a menor continua sendo a de Porto Alegre (4,6% em abril de 2015, contra 3,1% no mesmo mês em 2014). Em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, a PEA ainda se reduziu, o que contribuiu para um menor crescimento da taxa de desemprego. Em Porto Alegre e em Salvador, porém, a PEA já voltou a crescer, um movimento que logo deve começar a ficar evidente também nas outras regiões, tendo em vista a queda no rendimento médio real dos trabalhadores. Por faixa etária, o movimento de aumento da PEA ocorre, principalmente, nas faixa superior à 50 anos (segundo as informações da pesquisa, A PEA jovem ainda se reduz). Em termos setoriais, o fechamento de vagas se concentra na construção civil e na indústria de transformação.

O governo vem adotando um conjunto de medidas macroeconômicas contracionistas, todas ao mesmo tempo. Talvez algumas fossem necessárias, em resposta à elevação da inflação, da necessidade de financiamento do setor público e do déficit em transações correntes. Note-se, porém, que as medidas de contingenciamento dos gastos públicos, a recomposição de impostos e de preços públicos, o aumento dos juros, a redução da participação dos bancos públicos no crédito e a redução dos financiamentos imobiliários, já teriam, sozinhas, um potencial contracionista considerável. Na conjuntura atual, essas medidas estão sendo reforçadas pela crise na Petrobras e nas empreiteiras, bem como pelo cenário internacional ainda ruim – em que pese algum otimismo, talvez excessivo, com os EUA. Os estados e municípios também devem fazer a sua parte no corte dos gastos, seja devido à queda nas receitas fiscais, associada à redução da atividade econômica, seja devido à redução dos repasses federais. No caso do governo gaúcho, que já não tinha gordura para queimar, a situação é crítica. O aumento do desemprego e a queda da renda, somados ao endurecimento do acesso ao crédito, ao seguro-desemprego e ao abono salarial, têm potencial para induzir um ciclo de aumento na inadimplência – dada a forte ampliação do nível de crédito nos últimos anos –, que reforçaria o cenário de crise.

Entre as possíveis fontes de crescimento, restaram apenas as concessões em infraestrutura e a retomada da confiança dos empresários, esta um tanto escorregadia. Parece pouco. O governo espera uma recuperação já no segundo semestre, mas o fato é que não há pistas sobre quando será a retomada, nem sobre como viabilizá-la. O certo é que, antes disso, a crise vai se agravar, principalmente para os trabalhadores.

Cecília Hoff é doutora em economia pela UFRJ, economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE) e professora da FACE/PUCRS.


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