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30 de março de 2015
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12:58

O emprego começa a ceder

Por
Sul 21
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O emprego começa a ceder
O emprego começa a ceder

Por Cecilia Rutkoski Hoff

Já amplamente antecipado, até com algum exagero, o aumento da taxa de desemprego começa a se tornar visível nos indicadores divulgados mensalmente. A ancoragem da taxa nos patamares mínimos da série histórica, além de evidenciar alguma rigidez no mercado de trabalho e uma dinâmica setorial que, nos últimos quatro anos, privilegiou o crescimento dos serviços, parecia inconsistente com os dados do PIB que vinham sendo divulgados até então. A nova série do PIB, lançada pelo IBGE na última semana, de fato mostrou um crescimento mais elevado da economia brasileira entre 2011 e 2013. Segundo as estatísticas apuradas, o PIB nacional registrou um aumento acumulado de 8,6% nos três anos (média de 2,8%), contra uma expansão de 6,4% (média de 2,1%) na série anterior. Os novos dados não mudam a história dos últimos quatro anos, na medida em que a taxa média de crescimento continuou baixa e abaixo da alcançada nos anos anteriores, mas ajudam a explicar o enigma da continuidade do crescimento do emprego no período, sobretudo nos anos iniciais (2011 e 2012). Em 2014, o crescimento de 0,1% do PIB confirmou a estagnação da economia, e mostra-se consistente com a estabilidade do emprego em relação a 2013. Os primeiros meses de 2015, por seu turno, apontam para uma redução do PIB e para a queda no nível de emprego, agora com reflexos na taxa de desemprego.

Apesar da desaceleração da taxa de crescimento da oferta de emprego nos últimos anos, a procura por emprego desacelerou-se ainda mais. Tomando-se os dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME/IBGE), a taxa de crescimento média da ocupação nas principais regiões metropolitanas do país foi de cerca de 2,0% em 2011 e 2012, reduziu-se para 1,0% em 2013 e tornou-se negativa em 2014 (-0,1%). Nesse período, a População Economicamente Ativa (PEA) cresceu ainda menos (1,5% em 2011 e 2012, 0,6% em 2013 e -0,7% em 2014). Assim, a taxa de desemprego continuou caindo, a despeito da desaceleração econômica, tendo alcançado a mínima histórica em dezembro de 2014 (4,3%). No primeiro bimestre de 2015, a PEA manteve-se relativamente estável em relação ao mesmo período do ano anterior, mas a ocupação reduziu-se, de modo que a taxa de desemprego aumentou – de 5,0%, no primeiro bimestre de 2014, para 5,6%, em 2015. Afora a sazonalidade, típica dos meses iniciais, os resultados de 2015 já mostram uma piora das condições no mercado de trabalho em nível nacional. Na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), o movimento de elevação da taxa de desemprego antecipou-se ao nacional, tendo início já no segundo semestre de 2014, devido ao maior crescimento da PEA, e a despeito de um pequeno crescimento do nível de ocupação. Essa dinâmica continuou a ser observada nos primeiros meses do corrente ano.

Os dados da RMPA já apontam, assim, para o crescimento da procura por emprego, possivelmente em reflexo do menor crescimento da renda familiar e das incertezas presentes no cenário econômico, em especial no que diz respeito ao acesso ao crédito, à dinâmica da inflação e ao emprego propriamente dito. O emprego industrial, tanto no estado, quanto em nível nacional, recuperou o patamar de 2008 apenas em meados de 2011 e, desde então, vem se reduzindo, em linha com as dificuldades enfrentadas pelo setor no pós-crise. Ao que parece, os empregos industriais foram inicialmente sustentados, mesmo em um cenário de estagnação da produção, para preservar a mão-de-obra em caso de recuperação da demanda – dados os elevados custos de rescisão e admissão. Como está claro que essa recuperação não virá em 2015 (e possivelmente também não em 2016), o enxugamento tende a continuar. Por outro lado, até o ano passado, a geração de vagas no mercado formal continuava a ser positiva graças ao bom desempenho do setor de serviços. Em 2015, esse segmento também começou a arrefecer. A desaceleração dos serviços, mesmo que justificada pela necessidade de controle da inflação – para limitar os repasses dos recentes aumentos dos preços administrados e da desvalorização cambial aos preços livres – pode custar caro ao emprego e ao PIB, ampliando a sensação de mal-estar em relação aos rumos da economia.

Cecília Hoff é doutora em economia pela UFRJ, economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE) e professora da FACE/PUCRS.


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