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11 de março de 2020
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14:35

2020: Eleições fragmentadas

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Sul 21
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2020: Eleições fragmentadas
2020: Eleições fragmentadas
Fachada da prefeitura de Porto Alegre. Foto: Luiza Castro/Sul21

Antonio Escosteguy Castro (*)

A alteração legislativa que proibiu as coligações proporcionais nas eleições municipais trazia, desde sua origem, o risco de que as eleições de 2020 ficassem muito fragmentadas , com grande número de candidatos a prefeito , de maneira a “puxar” as nominatas de vereadores. Em Porto Alegre, durante bom tempo ainda se debateu a formação de frentes, para aumentar a viabilidade de conquistar a Prefeitura da capital, um prêmio que valia algum sacrifício. Mas com a abertura da janela que permite a troca de partidos no ano eleitoral, a intensa movimentação , que viu quase um terço da Câmara Municipal da capital trocar de legenda , decretou a vitória da pequena política: Porto Alegre terá cerca de uma dúzia de candidatos a prefeito neste ano.

A Frente Ampla da Esquerda naufragou nas mazelas internas dos partidos . O PDT tem um projeto nacional de constituir um polo de centro-esquerda independente do PT ( o sonho do PDT é construir Ciro Gomes/Rodrigo Maia em 2022), e a atração do PSB na capital para a chapa que tem uma boa candidata, Juliana Brizola, atinge plenamente este objetivo. O PSOL gaúcho tem como política crescer na esteira da quebra e da desilusão com o PT. Jamais poderia , na prática, compartilhar uma chapa com os petistas. Quando tomou força a hipótese da vice do PT , pulou fora e lançou Fernanda Melchionna. O PT cedeu a cabeça de chapa para Manuela, inegável força eleitoral, mas não conseguiu sequer cogitar fazer o sacrifício de ceder também a vice , encerrando o debate. Teremos três fortes candidatas de esquerda em Porto Alegre e não é impossível que o campo progressista fique fora do segundo turno…

A Frente de Centro-Direita, que alguns setores políticos buscavam para “ isolar os extremos” , um dos mantras preferidos da grande imprensa plutocrática brasileira, também não deverá sair do campo das intenções. O MDB perdeu 40% de sua bancada na janela partidária e com isso fortaleceu-se a hipótese de ter candidato próprio, antes muito contestada internamente. Sebastião Melo terá, por fim, sua legenda e busca atrair outros partidos. Mas o PP , principal alvo da cobiça para a Frente de Centro-Direita, dificilmente aceitará ser vice do MDB . O PTB afastou-se de Marchezan , mas não deverá compor outro polo concorrente , aguardando para aderir ao novo alcaide. Sem pelo menos dois grandes partidos, esta coligação não se cria e a tendência é todos terem candidato próprio.

Na direita, Marchezan , embora ainda não tenha sequer se declarado candidato à reeleição, já obteve a adesão do PL e do PSL e, principalmente, o visível apoio do grupo RBS. Está bem consolidado. Mas não navegará em águas tranquilas porque Valter Nagelstein concorrerá , com o mesmo perfil, pelo PSD e é bem provável que o DEM , que cresceu muito na janela partidária, apresente a candidatura da Comandante Nádia, também disputando o mesmo espectro ideológico.

Ainda há a possibilidade de candidatos do Podemos, Cidadania, Republicanos e PSC , possibilidade que cresce na medida em que os grandes partidos lançam candidatos , pela lógica de puxar seus vereadores e criar força de negociação para o segundo turno, praticamente garantido neste cenário fragmentado.

E quem ganha com esta fragmentação? Ouso prever que Marchezan é favorito para chegar ao segundo turno.

Assegurou o apoio de grupos religiosos e do bolsonarismo, e com a chancela da RBS terá grande capacidade de arrecadação. Só fracassa se cometer muitos erros. A esquerda tem o nome de Manuela, que lidera as pesquisas, com forte recall, e uma militância aguerrida. Mas Melchionna e Juliana vão fazer muitos votos e a ameaça de uma divisão que tire todas do segundo turno, repita-se, é real. Sebastião Melo é um forte candidato num segundo turno, por sua capacidade de agregação, mas seu problema é chegar lá. MDB e PP vão disputar o mesmo espaço , Gustavo Paim também é um bom candidato , e não será nada fácil chegar aos 25/30 por cento de votos, que assegurará a presença na segunda volta.

O cenário, porém, ainda está muito incerto. Três ou quatro candidatos a mais ou a menos faz muita diferença, com seus votos rumando para um ou outro dos remanescentes. Mas a fragmentação está dada e, num primeiro olhar , quem se beneficia é a situação, o Executivo e sua máquina. Divide teus inimigos e reina, já se diz há muito tempo…

(*) Antonio Escosteguy Castro é advogado.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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