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31 de janeiro de 2020
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18:18

Leite saiu menor do que entrou

Por
Sul 21
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Leite saiu menor do que entrou
Leite saiu menor do que entrou
 Foto: Luiza Castro/Sul21

Antonio Escosteguy Castro (*)

Não, caro leitor, você não leu errado. No meio de tantas matérias  e colunas laudatórias na grande imprensa local sobre a vitória de Eduardo Leite na votação do Pacotaço na Assembleia , ouso trazer relativizações em sentido contrário.

Não raro, vitórias parlamentares são apenas isto : vitórias no âmbito do parlamento. Temer aprovou a reforma trabalhista no Congresso para criar milhões de empregos e três anos depois temos 12 milhões de desempregados e uma informalidade recorde. Bolsonaro aprovou a reforma da previdência para retomar os investimentos e a saída de capital do Brasil neste mês de janeiro é recorde. É preciso um olhar mais amplo para avaliar os resultados finais das votações nos parlamentos.

No meio da maior crise econômica do país nos últimos 40 anos, Leite aprovou um pacote ultra recessivo. Centenas de milhões de reais foram retirados do mercado. Os 200 reais que serão descontados do salário da professora aposentada que ganha 3 mil não iam para fundos de investimentos, mas para a quitanda, a farmácia e a lojinha do bairro. Em 2019, o RS surfou na soja e no milho  e cresceu mais que o Brasil. Mas neste ano, a estiagem , o acordo China/EUA e o coronavírus trarão nosso estado ao nível do fiasco nacional. E o funcionalismo público com ainda menor poder de compra.

Todo o peso da crise foi jogado nos ombros do trabalhadores. O Pacote massacrou o funcionalismo público, em especial os professores e os brigadianos. A turma do Moinhos de Vento e da Bela Vista continua com seus créditos subsidiados e suas facilidades com o ICMS. O pessoal das coberturas não paga um centavo pela crise do estado. Os professores protestaram e lutaram. Fizeram uma greve longa e sólida e a alteração de mais de 60% do projeto originalmente enviado demonstra que tinham razão em fazê-la. Mas a retaliação de Leite contra os professores foi brutal, buscando liquidar o movimento e impedir futuras greves , ainda que justas e legais como esta. A imagem do bom moço que dialoga e respeita a democracia, convenhamos, foi pro beleléu.

O MDB pintou e bordou neste processo. Foi, voltou , chantageou , exigiu. E saiu como o artífice dos (poucos) avanços que se verificaram nas votações. Parlamentar aprende rápido. Todos agora sabem que  espernear e cobrar rende frutos. A base do governo saiu mais frágil e fragmentada desta convocação extraordinária.

Leite até agora não governou. Limitou-se a gerenciar a folha de pagamento. Não se viu um só projeto para induzir o crescimento de nossa economia nestes 13 meses. A estiagem passou ao largo do Piratini , que não tomou nas mãos o combate a seus efeitos (como fez Tarso Genro na seca de 2012 – veja aqui) , malgrado a quebra que pode chegar a 20% de nossas safras de verão. Quando a diplomacia caótica e ideológica de Bolsonaro ameaçou os mercados árabes, chinês e argentino , que são fundamentais para o Rio Grande , nada foi feito para apoiar nossos exportadores.

Agora ele obteve um pacote de austeridade cujos efeitos reais se darão a médio e longo prazo. No fluxo de caixa imediato, muito pouco. E de onde surgirão as ideias e projetos em prol do Estado que até agora não existiram? Leite queimou as pontes com os movimentos sociais e a intelectualidade, queimou a gordura que tinha com a opinião pública e não tem outra opção senão fazer, rápido, o que até o momento não demonstrou a menor vocação: fazer crescer e desenvolver o Estado. De fato, Leite saiu menor do que entrou.

(*) Antonio Escosteguy Castro é advogado.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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