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5 de julho de 2019
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19:04

Pura ideologia, nenhum projeto

Por
Sul 21
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Pura ideologia, nenhum projeto
Pura ideologia, nenhum projeto
Governador Eduardo Leite. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Antonio Escosteguy Castro (*)

Na última terça-feira, 2 de julho, a Assembleia Legislativa aprovou a privatização de três estatais gaúchas, a CEEE, a CRM e a Sulgás. Foi, sem dúvida , uma vitória do Governador Eduardo Leite, que muito se esforçou por essa aprovação.

O Governo estava necessitado de boas notícias. Nos dias que antecederam à votação na Assembleia, a crise econômica se abatera com força no Rio Grande. A Paquetá entrou em recuperação judicial, demitindo trabalhadores e as fábricas da Duratex em São Leopoldo e da Nestlé em Palmeira das Missões foram fechadas, com mais centenas de demissões.

O Acordo Comercial Mercosul/União Europeia foi fechado às pressas pelo Governo Bolsonaro, que para tanto abriu mão de obter quotas mais generosas de exportação agropecuária , motivo que vinha dificultando as negociações. As vantagens brasileiras ficaram muito aquém do que deveriam. O vinho europeu foi praticamente liberado, o que ameaça diretamente uma indústria em expansão em nosso estado. E muito embora haja perspectivas de boas exportações do setor primário, o crescente envenenamento de nossa produção pelos pesticidas liberados por Bolsonaro pode levar a Europa a levantar barreiras “sanitárias” que inviabilizem um ganho efetivo de nossos produtores rurais. A recente devolução de um lote de frango contaminado pela Inglaterra haverá de servir de advertência da seriedade dos europeus com os temas sanitários.

E o que o Governador está pensando sobre estes problemas que têm surgido? Quais seus projetos para superar o fechamento de fábricas e as ameaças que pairam sobre nossa produção agropecuária? Respostas simples: Nada. Nenhum. Silêncio total no Piratini.

Qual a relação ente a privatização de três estatais com a superação da paralisia econômica de nosso estado?

Resposta igualmente simples: Nenhuma. E ainda por cima o Governador , que havia prometido na campanha investir o dinheiro obtido com as privatizações , o que poderia incentivar nossa economia, agora afirma que utilizará estes valores para pagar contas , para reduzir passivo. Já usei a metáfora em outro artigo: vai vender a geladeira para pagar o armazém. Para que serve isso?

A única consequência concreta certa das privatizações será a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal do governo federal , com a abertura de novos espaços de crédito. O RRF é uma moratória , em que os valores não pagos agora à União serão cobrados mais adiante com juros e correção. Novos empréstimos igualmente deverão ser pagos , com seus juros e sua correção. Se o Rio Grande não crescer , o resultado de vender a CEEE, a CRM e a Sulgás será ter aumentado a dívida do Estado…

Nem todo o apoio da grande mídia plutocrática , que usa todos seus espaços, suas rádios, seus telejornais, seus diários , para defender a privatização, consegue obscurecer o fato, de cristalina clareza, que o governo não tem projeto algum para nossa economia. Vender as empresas estatais é pura ideologia, não está conectado com nenhum programa de desenvolvimento , com nenhum projeto de investimento público ou privado em setor algum.

Um governo inerte age com base em crenças políticas, sem projeto algum. Só nos resta rezar por um milagre. As chances de dar certo são as mesmas de darem certo as privatizações de Eduardo Leite.

(*) Antonio Escosteguy Castro é advogado.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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