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2 de abril de 2019
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17:48

Bolsonaro, com o apoio de Leite, vai liquidar o Rio Grande

Por
Sul 21
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Bolsonaro: um desastre completo para a economia do RS. Twitter/Reprodução

Antonio Escosteguy Castro (*) 

Bolsonaro voltou de sua viagem a Israel , onde na verdade foi participar da campanha eleitoral de Benjamin Netanyahu, anunciando a abertura de um escritório de negócios  em Jerusalém. Muito embora seja diplomaticamente menos importante que uma embaixada, este escritório  é um reconhecimento de Jerusalém como cidade pertencente integralmente a Israel. E é um desastre completo para a economia do Rio Grande do Sul.

O Rio Grande é o terceiro maior exportador de frango do Brasil, e a Arábia Saudita e os países árabes são o principal destino de suas vendas. Já neste ano , os árabes descredenciaram 2 grandes frigoríficos localizados em nosso estado, derrubando em 40% nossa exportação do produto. É uma evidente retaliação à política irresponsável e ideológica de Bolsonaro no Oriente Médio e com o anúncio do escritório brasileiro em Jerusalém só tende a piorar.

Mais cedo no ano, a ridícula “guerra das bananas” , uma diatribe de Bolsonaro contra a importação de bananas do Equador (no insignificante valor de menos de 300 mil dólares por ano) levou que aquele país retirasse vantagens fiscais do calçado gaúcho, causando um prejuízo de mais de 30 milhões de dólares ao Rio Grande.

Há, ainda, a guerra verbal contra a China, que anunciou a redução de 10 bilhões de dólares na compra de soja do Brasil. Boa parte deste valor deixará de vir para nosso estado.

Em menos de 100 dias de desgoverno, uma política ideológica, tacanha e míope, que põe o interesse de grupos políticos que cercam o Presidente acima dos interesses do estado brasileiro, pode ter como consequência um brutal aprofundamento da já grave crise que o Rio Grande do Sul atravessa. Bolsonaro pode causar, diretamente, a redução da entrada de alguns bilhões de dólares em nossa combalida economia e desempregar até 50 mil pessoas na cadeia produtiva do frango halal (apto a exportar para os árabes).

Mas tão grave quanto isto é a completa inação do Governador do Estado Eduardo Leite na defesa dos interesses do Rio Grande do Sul. Vivemos numa federação e os estados membros têm autonomia , sendo os governadores responsáveis por defender seus interesses específicos perante a União. Não pode o Governador assistir parado à destruição de pilares fundamentais da economia gaúcha como a soja, o frango e o calçado!

Eduardo Leite está vinculado a Bolsonaro desde a eleição , embora tenha aderido de forma mais crítica que Sartori à uma campanha que já se mostrava tacanha e simplista desse o início. E agora o Governador joga todas as fichas de seu governo num Plano de Recuperação Fiscal que depende  fundamentalmente da atitude do executivo federal. Tudo isto leva à paralisia do Piratini frente à diplomacia irresponsável e ideológica que está atingindo duramente  a economia gaúcha.

O Governador terá de abandonar sua postura de silêncio obsequioso e olhar complacente. O Rio Grande do Sul não está em condições de ver atingidos de forma tão expressiva setores tão importantes de sua economia sem pelo menos lutar por um mínimo de racionalidade e inteligência na política da União. Ocupar o Palácio do Piratini exige privilegiar os interesses do Estado que o elegeu. E já está ficando tarde.

(*) Antonio Escosteguy Castro é advogado.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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