André Pereira (*)
À indagação crucial de Susan Pinker, psicóloga canadense especializada em desenvolvimento humano, convidada do Fronteiras do Pensamento, na segunda-feira (4), ninguém no auditório atento do Salão de Atos da Ufrgs ousou responder.
A pergunta irrespondida confirma a teoria de Pinker: estamos cada vez mais nos relacionando virtual e superficialmente (como ocorre pelo facebook, e-mail, whas app,na rede em geral), perdendo o contato presencial, fundamental para estabelecer vínculos de confiança tão sólidos que permitam o pedido de empréstimo de dinheiro, inesperado e no meio da noite, a três ou mais amigos.
Pesquisas comportamentais recentes mostram que um quarto dos viventes neste lado ocidental tem duas pessoas em quem podem se amparar. Três, já é luxo.
É claro que a palestra da especialista foi muito mais profunda que este meu exemplo rude, porém simbólico da tese do “Efeito Vilarejo” que a psicóloga propaga, principalmente através de um livro com este título, ainda não traduzido no Brasil. (The Village Effect: Why Face to Face Contact Matters – 2014).
Susan Pinker pesquisou a comunidade de Villagrande, na Sardenha, para tentar descobrir porque lá existem tantas pessoas centenárias. Existem no vilarejo seis vezes mais centenários do que a Itália continental, e dez vezes mais do que a América do Norte. E mais curioso ainda: lá, ao contrário dos outros lugares do mundo, os homens vivem tão longevamente quanto as mulheres.
Porque? Sobretudo pelo convívio social, disse ela, exibindo uma fotografia na qual o lugarejo da ilha italiana mais parece uma favela carioca edificada na planície, acentuando a proximidade geográfica dos moradores, vizinhos, amigos e parentes.
Ela traça gráficos e mais tabelas de valoração para justificar a longevidade. Exercício físico, rejeição ao fumo e à bebida, prevenção contra doenças, tudo isto conta pontos valiosos.
Disposição genética e dieta de baixa caloria sem glúten tem seu grande valor.
Mas Pinker não abre mão do principal elemento de qualidade de vida que se alonga saudável: os relacionamentos pessoais próximos e às interações cara a cara.
Entenda-se que não é só uma questão visual; é tátil e olfativa.
Na conversa olho no olho, além de tudo, capturam-se sinais indisfarçáveis de honestidade nos movimentos do corpo (de concordância, desinteresse ou contrariedade) escamoteados nas redes sociais.
A psicóloga ainda observa que o caloroso contato pessoal, face a face, causa a liberação de hormônios como a oxitocina, associada à confiança, e a beta-endorfina, uma das mediadoras da sensação de bem-estar, bem como diminui os níveis de cortisol, o hormônio do estresse.
Pondera, enfim, que estímulos a criação de espaços de convivência das pessoas fortalecem os laços das comunidades, isto é, das gentes que as compõem.
E aconselha Pinker: “tratem de construir seu próprios vilarejos”. Mas sem a barreira intransponível da internet.
(*) André Pereira é jornalista.