Colunas>Adeli Sell
|
21 de março de 2017
|
10:00

Era uma vez o Centro Histórico

Por
Sul 21
[email protected]
Era uma vez o Centro Histórico
Era uma vez o Centro Histórico
Foto: Guilherme Santos/Sul21

Por Adeli Sell

O Centro Histórico de Porto Alegre já foi espaço nobre para o porto-alegrense e os turistas. Na década de 50, era densamente edificado e tinha a Rua da Praia como a principal passarela da elite. Era uma zona do comércio elegante, atraindo a instalação de inúmeros cafés, confeitarias, cinemas e restaurantes. Aos poucos, ela se tornou o espaço referência para a cultura urbana, onde circulavam bens e ideias, espaço cultural e literário da cidade.

A decadência do Centro Histórico iniciou quando se deu permissão, nos anos 60, para que ali atuassem camelôs. Hoje, o que se vê é um lugar que assusta o morador da cidade e espanta todo e qualquer turista. Quando fecho os olhos e penso no nosso Centro Histórico, imagino um lugar onde uma bomba foi detonada e se espalhou por todos os lados. Há pedaços de entulhos junto com pessoas comercializando o que bem entendem, sem respeito aos que andam pela rua e tornando um dos nossos cartões postais num lugar poluído pela ilegalidade.

Saindo da Rua da Praia, mas continuando no Centro, a Salgado Filho, que é o fim da linha de inúmeros ônibus (que aliás, vivem atrasados, causando filas imensas de usuários e outras grande confusões), dão espaço aos vendedores de frutas e verduras que tomaram conta das calçadas, das rampas de acesso aos cadeirantes e que impedem que pessoas cegas, por exemplo, andem com alguma tranquilidade e dignidade. A esquina da Borges e com a Andrade Neves é o pior exemplo disso. Se não bastasse, entre aqueles vendedores, no meio de toda aquela “muvuca”, estão batedores de carteira, olheiros de ladrões, traficantes, todos misturados com moradores de rua que mal te deixam entrar numa agência bancária.

As frutas comercializadas são, na maioria, restos da Ceasa, maturadas, que estragam antes de chegar em casa. Sem que as pessoas saibam, elas ficam armazenadas à noite, em um depósito na Praça Conde, jogadas entre ratos e baratas. Acredito que isso ninguém fiscaliza.

A pirataria é fruto de trabalho infantil e escravo, não tem qualidade, não paga tributo, consequência também do escambo do narcotráfico, cujos produtos tem marcas de sangue.

Cortaram 35% das horas extras dos fiscais, que não são orientados devidamente nas ações. E me pergunto: onde estão nossas autoridades? Fiscalizamos, denunciamos, mas… entra governo e sai governo e nada muda. Não consigo ficar calado, pois estão prejudicadas todas as pessoas da nossa cidade. Não estamos abertos ao turismo, somo intimidados no Centro e não vamos conhecer nenhum cartão postal. Os empreendedores legalizados estão se descapitalizando, o número de assaltos só cresce, a gritaria espanta. Ou seja, só temos ausências de ação, de policiamento, de fiscalização das leis e de direitos dos cidadãos que pagam tributos. Não nos calaremos e devemos lutar pela volta do Centro e da Porto Alegre para as pessoas.

.oOo.

Adeli Sell, vereador em Porto Alegre.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora