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6 de novembro de 2015
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09:50

As máscaras das jornadas de junho de 2013

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Sul 21
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As máscaras das jornadas de junho de 2013
As máscaras das jornadas de junho de 2013

Por Adeli Sell

Nada pior do que tentar apagar ou esquecer páginas de nossa História. Todos ainda se lembram das chamadas Jornadas de Junho, denominação que buscava ligar aquilo ao Maio de 68. Escrevi vários textos, mas lembro de um em especial, publicado em vários espaços de mídia no dia 05 de outubro daquele ano, cujo título era “Caindo as máscaras, uma a uma”.

Era, na verdade, um artigo de uma série deles em que eu tentava mostrar que a maior parte da mídia vendia um produto “fake”. A falsidade era gritante, mas parecia que uma parte da população tinha descoberto as ruas e as praças. Sobre os mascarados e Black Bloc dizia:

“Andei pesquisando um pouco sobre a vida dos que se escondem, lendo seus perfis no Facebook, blogs e quetais. Foi fácil ver suas máscaras caindo uma a uma. A expulsão da moçada do PT do Bloco de Lutas não me surpreendeu, pois só poderia dar nisto: estes mascarados não toleram a diferença, não aceitam outras formas de luta que não a da pancadaria.”

Onde estão os mascarados, os Black Bloc? O que ficou além de locais pichados, janelas quebradas e destruição sem razão? Onde estão estes “lutadores” para dizer que a corrupção está espalhada no Congresso, está entre os que pregavam moral, nas empresas, vide Zelotes e outras falcatruas (tipo “leite compensado”), entre os taxistas de Porto Alegre (Operação Laranja Mecânica)? Sumiram do mapa da mesma forma como chegaram, sem agregar nada, sem deixar legado, apenas rastros de destruição sem causa. Tem destruição com causa, vide a Queda da Bastilha e do Muro de Berlin, separados por dois séculos!

Repito aqui o que acreditava e acredito: “Por isso, quero desafiar, sem xingamentos e preconcepções, para um real debate sobre o lugar da democracia, do papel da violência na História e da multiplicidade de lutas. Queremos e devemos buscar lutar com todas as formas legais, pacíficas, de bom senso, sem vandalismo, para conquistar um mundo melhor”.

No momento em que o Deutsche Bank demite 15 mil bancários, que a Grécia foi posta de joelhos, que a as pessoas são massacradas na Síria e multidões vagam pela Europa e pelo mundo, vamos retomar a análise do Brasil. As coisas não andam nada bem.

Tivemos cortes em programas sociais, na educação, na infraestrutura e muito mais. Houve, sem dúvida, resvalos que não poderiam ter acontecido na esfera federal. Mas a pergunta que fica é: a receita seria as medidas de Levy? Uma política desenvolvimentista, com controle de gastos supérfluos – existem muitos – não seria melhor do que a aplicação deste receituário que mais se preocupa com o capital financeiro do que com a vida dos mais fracos? A pergunta fica no ar, para o salutar debate que sempre proponho.

Na semana entregamos ao novo Ministro das Comunicações um documento do movimento de inclusão digital do país, propugnando a continuidade destas políticas com mais e mais avanços, pois não há educação, cultura nos rincões do país, sem o acesso universal à Internet. O Pronatec não poderia ter tido os cortes que teve, nem os outros benefícios sociais. Devemos cortar verbas do Judiciário, do Ministério Público, do Congresso, porque estes setores não tem apertado o cinto nunca. Cabe ter coragem de fazê-lo.

O Brasil tem que apostar no consumo de massas, na inclusão social, na garantia de educação, saúde e moradia. No tema da Infraestrutura, não se pode esquecer que somos um país capitalista, que o nosso socialismo não veio como se queria, logo não se pode fugir de uma saudável política de Parcerias Público Privadas.

O gigante não acordou ainda. Quem pode fazer mais e melhor não está tendo a coragem necessária. Nós estamos apenas vendo vociferações nas mídias sociais. Mas não tem jornadas pela democracia, pelos direitos fundamentais, pela dignidade da pessoa humana. Onde estarão os que descobriram na época que existe rua, praça, parques, megafones, bandeiras e faixas?

Onde estão todos aqueles agora? Dormindo! Hora de acordar! Um País não se faz apenas – como a grande mídia parece indicar – com uma guerra permanente entre situação e oposição, entre Executivo e Legislativo. E que o nosso Judiciário olhe para si, tenha vergonha na cara, porque afinal de contas “auxilio moradia” é uma imoralidade quando falta a Minha Casa, Minha Vida. E pedir agora auxílio educação é um escárnio quando nos faltam as creches.

.oOo.

Adeli Sell é professor, vereador de Porto Alegre por 16 anos.


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