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24 de março de 2020
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19:51

“Falta Palmo e Meio”

Por
Sul 21
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“Falta Palmo e Meio”
“Falta Palmo e Meio”
Foto: Jair Bolsonaro | Foto: Carolina Antunes/PR

Adão Villaverde (*)

O também irônico jornalista Breno Caldas, escreveu no início dos anos 80 dois editoriais, no standart Correio do Povo, com títulos: “falta palmo e meio”. Referia-se a um político gaúcho num duplo sentido, lhe faltava estatura física e também política.

Guardadas as proporções, como metáfora evidentemente, passagem pode ter alguma relação com o que estamos presenciando hoje no Brasil, sobretudo no seu segundo sentido.

Vivemos uma das maiores crises da história e sabemos que quando ela se encerrar, e tomara que seja logo, o mundo e a vida pós tudo isto, seguramente não serão mais os mesmos. Como aforismos para sustentar a tese, lanço mão aqui de dois pensadores que respeito muito e me identifico com o que escrevem. São eles, Domenico de Masi e Yuval Harari. Que falaram o seguinte sobre o que estamos vivendo e suas decorrências.

O primeiro sentenciou: “que o coronavírus anuncia uma revolução no modo de vida que conhecemos”, o segundo, ainda que entendendo a necessidade do auto-isolamento social, afirma que “o verdadeiro antídoto para a epidemia não é a segregação, mas sim a cooperação”.

Não parece ser o que pensa nosso presidente e sua equipe, excetuando-se talvez o ministro da saúde e parte de seus assessores. Não vou nem entrar no comportamento do Chefe de Estado, que parece ser “ciclotímico”, mas nos seus zigue-zagues políticos de gestão, da sua economia, da política, de temas da cultura e tantas outros, mas sobretudo a sua postura e a sua conduta na administração do país.

Num mundo com tantas, recorrentes e rápidas mudanças e transformações, que é pego de surpresa por esta brutal crise, as populações esperam estatura e responsabilidade de seus líderes e dirigentes. Uma conduta pró-ativa no enfrentamento desta pandemia de maneira positiva, mesmo correndo os riscos de impopularidade, porque nada é maior que a preservação de vidas. Mas não o menosprezo, as ironias, as comparações incabíveis e até mesmo bizarrices.

A história da humanidade mostra que nas grandes crises, existem os que crescem, que ficarão assim gravados para a história, e outros que se diminuem, que se apequenam, que ficarão menores para a posteridade e para as gerações que lhes seguirão.

Sei que exemplos são sempre reducionistas, mas este acho que vale, até por tratar-se de figuras que não são unanimes. Falo de Churchill, Roosevelt e Stalin, que foram projetados para a história como “os três grandes”, ao fim da segunda guerra mundial.

O que se espera de um líder, num momento de crise, é que ele comande, que seja capaz, que oriente, que dirija, que influencie a Nação, a população, as pessoas ou os grupos, que tenha diálogo externo e que seja reconhecido por seus liderados. Truques, atalhos e espertezas, não são bons conselheiros para a construção e consolidação de guias referenciais.

O líder é aquele que em tempo de normalidade tem capacidade e talento para montar equipes, formular projetos, construir relações com atores econômicos e sociais, capacidade de gestão e operacional e, sobretudo, aptidão para dirigir, com base na confiança dos seus.

E ainda cresce e se agiganta na crise. Nestes momentos que se exige equilíbrio, estabilidade, clareza, transparência e segurança na direção escolhida, atributos absolutamente imprescindíveis. Estas são aquelas horas que não existe máscaras, mas sim a essência.

A impressão que tenho infelizmente, é que a metáfora que usei acima, ao menos no que concerne ao seu segundo objetivo, se encaixa como uma luva para o caso brasileiro. Qual seja, “falta palmo e meio”, é perceptível sim, a ausência de estatura política do nosso presidente, as evidências e fatos estão aí, em larga escala.

E os líderes mundiais que serão catapultados deste processo, como referências de superação deste terrível momento porque passa a humanidade, terão logo reconhecimento global nos pós crise. E serão aqueles que se postaram responsavelmente, agiram de forma objetiva na proteção de seu povo, se solidarizaram mundialmente e lideraram verdadeiramente seus liderados, nestes tempos de um quase insuportável flagelo humano.

E nós, para o desgaste nacional e desprestígio mundial, estaremos fora disto, pois o comando do nosso país, mostrou na prática, seus verdadeiros limites, não passou no teste, revelando na vida real não estar a altura da etapa histórica que infelizmente a pandemia descortinou para a humanidade e suas Nações.

(*) Professor, engenheiro, ex-secretário de Estado/RS e ex-presidente da AL/RS

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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