Adão Villaverde (*)
Respeitadas as proporções temporais e históricas, os “pseudo-moderninhos” neoliberais, rasos, toscos e tardios de hoje, lembram nossos primitivos ancestrais, que ignoravam as astúcias mercantis das negociações dos navegantes de além-mar.
Os proprietários destas terras brasileiras trocavam, com os colonizadores portugueses, seu valioso ouro e demais metais preciosos por badulaques, como luzidios espelhos, que só agregavam um ralo valor tecnológico, ou seja, um singelo recorte de moldura do vidro que reflete imagens.
Não é muito diferente do que fazem, nos dias de hoje, os que entregam nossas commodities, produtos in natura, por um baixo preço para, depois, recomprá-los lá de fora com valor agregado muitas vezes ampliado.
Nós vivemos em plena era do conhecimento, da tecnologia, da inovação, na qual os avanços científico-técnicos recorrentes e acelerados mudam o mundo de forma absolutamente extraordinária. Mas, infelizmente, o nosso país vive e convive, mesmo em meio a estes avanços, com um inaceitável déficit tecnológico. Ou seja, importamos muito mais produtos intensivos em tecnologia do que exportamos.
Enquanto este tema de agregação de valor sobre produtos e processos move o mercado e o consumo mundial, nós, cada vez mais, vamos embarcando na visão colonial e submissa de vender matéria prima sem beneficiamento para, depois, adquirir com altos custos, produtos com alta tecnologia embutida. E, pior, achando que isto é “se integrar no mundo globalizado”.
Nosso país tem a “síndrome da dependência”. Aliás, tivemos um presidente da República que se avocou a paternidade da “teoria da dependência” e, quando chegou no governo, mandou rasgarem o que escrevera e “implementou a dependência sem nenhuma teoria”. É por isso, infelizmente, que seguimos com desequilíbrio em nossa balança tecnológica, com um déficit que ultrapassa os U$ 10 bilhões.
É justamente esta visão que também informa a desastrosa estratégia do atual governo golpista e entreguista, no que concerne à política dos combustíveis.
No momento em que país atingiu a suficiência em petróleo, passou a vendê-lo sem processar para, depois, importar combustível a preços astronômicos. Na estratégia deste (des) governo, que jogou a Constituição no ralo, a gasolina e o diesel já correspondem a 20% de todos os produtos americanos importados pelo Brasil em 2017. O que fez com que a Petrobras perdesse espaço no mercado doméstico de combustíveis para suas concorrentes internacionais levando, assim, o consumidor pagar muito mais caro pelo produto.
A alta na importação desequilibra cada vez mais nossa balança comercial e fragiliza as operações de nossas refinarias, causando evidentemente um enorme desemprego. É claro que quem é prejudicado com tudo isto é a Nação e o povo, como comprova a paralisação dos caminhoneiros e suas consequências.
Esta visão submissa e subordinada aparece, muito claramente, na recente crise dos combustíveis. A política de preços foi desastrosa pois queriam mesmo era favorecer acionistas internacionais, vender ativos e implementar sua visão de rendição ao rentismo.
Em síntese, apesar das elites da chamada “Casa Grande” sempre posarem como verdadeiros globalizados ou pretensos moderno como se auto-intitulam, eles assemelham-se mais àqueles nossos primitivos e colonizados antepassados.
Uma vez que o que sabem mesmo é ser uma espécie dos “bestas alegres” do século XXI, especialistas em vendas de commodities e campeões mundiais em importação de alta tecnologia.
(*) Professor, engenheiro e deputado estadual PT/RS
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