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6 de dezembro de 2019
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17:43

Novos tempos, antigas lições

Por
Luís Gomes
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Novos tempos, antigas lições
Novos tempos, antigas lições
Foto: Alan Santos/PR

Sergio Araujo (*)

“É nos momentos mais escuros que devemos focar para ver a luz.”
Aristóteles

Há quem diga que o Brasil vivencia novos tempos. Onde o liberalismo econômico, associado ao conservadorismo retrógrado dos costumes, formaram uma parceria que irá colocar o país no caminho do desenvolvimento e da moralidade. Mas não é isso que se observa. Tal qual uma praga impiedosa, o conluio institucionalizado tem demonstrado diariamente seu desapego pelos princípios elementares da cidadania e a sua total dissonância com a aplicação dos princípios basilares da democracia.

Índios, negros, homossexuais, nordestinos e favelados, por exemplo, são vistos e tratados como integrantes de uma casta inferior. Veículos de comunicação independentes, que não se alinham ao pensamento dominante dos governantes de ocasião, são execrados publicamente a ponto de serem excluídos de licitações públicas e até impedidos de participarem de entrevistas coletivas.

A insensibilidade e o descaso chegaram a um ponto tal que o governo federal considera o encarecimento repentino da proteína animal, especialmente a carne, como uma vitória da política de exportação do produto. Para deleite dos grandes pecuaristas e dos donos de frigoríficos. Ou seja, pode faltar no prato do brasileiro desde que os dólares, euros e os renminbi (moeda chinesa) entrem nos cofres da União.

E o salário mínimo ó! E o desemprego zummm! E o desalento disfarçando a fome e a humilhação na forma de lágrimas, contrastando com a euforia e o empanturramento dos grandes empresários que, óbvio, apoiam e aplaudem todas as reformas propostas pelos governos que colocam o interesse financeiro acima do interesse social.

Mas o “sopro” dos tais novos tempos não bafeja apenas em Brasília. A indiferença para com os menos favorecidos se espraia Brasil à fora. Vejam o que acontece no Rio Grande do Sul com os servidores estaduais. Não bastasse serem tratados pelos governos neoliberais como párias do poder público e acusados de serem os responsáveis pelas mazelas do erário, agora estão ameaçados de perder vantagens salariais conquistadas a duras penas. Como se o castigo imposto por anos de congelamento e parcelamento dos seus parcos salários fosse insuficiente.

Os ventos implacáveis do liberalismo econômico predatório não poupam sequer os municípios. É o que ocorre em Porto Alegre, onde o prefeito desdenha do bem comum ao tratar a população como inquilinos e os servidores como estorvo. Já o tratamento destinado à iniciativa privada é de primeira linha. Ruas esburacadas, mas IPTU majorado. Funcionários desconsiderados, mas Parcerias Público-Privadas valorizadas. Obras de grande interesse público se arrastam indefinidamente, ao contrário daquelas com potencial político-eleitoral, onde nunca faltam recursos e muito menos agilidade de execução.

Reparem que independente do cenário governista dois personagens tem lugar assegurado. O trabalhador, no caso o cidadão(ã) comum, que produz e paga impostos, e os poderosos, sejam eles empresários ou políticos, que lucram financeira e politicamente. Governos que priorizam o bem comum e a justiça social, e a história é pródiga em exemplos, normalmente são bem-sucedidos e duram mais, ao contrário dos governos autoritários, que colocam o Mercado como centro das suas atenções, que dificilmente se reelegem e por isso mesmo duram pouco.

Pois é essa sequência, que se processa mais pela lógica do que pelo acaso, que está sendo reeditada no Brasil e em muitos estados e municípios. E essa é a boa nova para aqueles que hoje não se consideram representados. Maus governantes são politicamente autofágicos e suicidas. Autofágicos porque consomem a própria credibilidade e suicidas porque matam suas próprias chances de continuidade. É a sina daqueles que se acham superiores, intocáveis e predestinados. Nestes casos, parafraseando o poeta, eles passarão, e o povo, passarinho.

(*) Jornalista

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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