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24 de abril de 2012
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15:00

Livros, quais folhas nesse outono em Porto Alegre

Por
Sul 21
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Pois estimados sulvinteumenses que me lêem nesse abril de plátanos doirados (espero que estejam doirados mesmo, já que aqui no Norte profundo estações são uma abstração), nessa terça-feira vou a Porto Alegre para a prática do nobre esporte de lançamento de livros. Vou lançar livro na Palavraria, ali na Vasco da Gama, onde aprontamos muitas e boas, o Carpinejar e eu, com o nosso invencível concurso de beleza para contos e poemas, o Miss Cultura.

Há os que olimpicamente preferem lançar discos ou dardos, algo que nunca fez muito sentido nessa minha cabeça nada olímpica. Lançar coisas que tendem a cair ali adiante, não deixando mais nada do que uma marca sobre o gramado me parece tão antigo quanto inútil. Lançar livros, desde que no sentido metafórico, me parece algo seguro, pelo menos em comparação com discos de metal pesando toneladas e dardos com pontas, das que fazem dodói.

Esse livro a ser lançado representa mais uma busca por uma linguagem contemporânea o bastante para dar conta desse nosso contemporâneo excessivamente contemporâneo. A literatura costuma apreciar uma distância mais ou menos olímpica de fenômenos excessivamente recentes, mas quem disse que o que eu pratico seja literatura? O que eu tento fazer, estimados leitores, é rock, por outros métodos.

Nessa terça, quem quiser e puder ir até a Palavraria, esvaziando ainda mais o show do chatíssimo Bob Dylan, vai encontrar a mim e a maravilhosa Cláudia Laitano, um caso sério de intelectual culta e bem humorada, debatendo o livro novo, suavemente intitulado Primeira Vez e Muitas Vacas. Quem quiser ver, verá. Mas tem que, ao menos, aparecer.

Já, e no assunto livros, o meu estimado parceiro de pancadaria literária, Fabrício Carpinejar, foi assunto hoje no país inteiro, por ter chutado o balde da Feira Mais ou Menos do Livro de Bento Gonçalves. Fabrício enviou uma carta aberta à organização da Feira dizendo que abriria mão do convite para participar e do cachê correspondente, de mil reais. Segundo ele, se a Feira estava disposta a pagar um cachê de mil reais para autores de livros, ao mesmo tempo em que se dispunha a pagar 170 mil reais pela presença de Gabriel, o Pensador, ele, Fabricio, sentia que a Feira tinha feito a sua escolha por ser uma feira de outras coisas, que não livros. E ele, autor, não se sentia comprometido com feiras de pensadores, mas, sim, de livros.

Eu não tenho nada contra Gabriel, o Pensador, ganhar 170 mil reais. Eu não pagaria 170 reais para ver o Gabriel pensar. Eu não pagaria 17 reais para ver o Gabriel pensar. Eu não pagaria coisa alguma para ver o Gabriel pensar.  Mas, isso, sou eu.

Agora, uma feira de livros precisa escolher que raio de feira ela deseja ser. E uma feira que paga mil reais para escritores e 170 mil reais para pensadores que nem ao menos demonstram pensar lá muita coisa, é uma feira que não sabe o que é, mesmo que saiba o que quer.

Esses dinheiros de lei de incentivo são importantes para que se tenha produção cultural no país. Mas ele é fácil, por vezes, talvez demais. Talvez alguns queiram feiras de livros cheias de gente, mesmo que eles estejam ali pelo churrasquinho e pelo Gabriel, o Pensador.

Eu conheço feiras de livro o suficiente para saber que existem as boas e as más. As boas, querem promover a leitura e um clima cultural mais presente para sua cidades. As boas planejam e esperam resultados no longo prazo, e não são seduzidas por facilidades. Elas começam com bibliotecas, com pessoas comprometidas e envolvem os autores em suas propostas. Elas são pouco ruidosas, mas permanecem. Elas não desperdiçam recursos com o que apenas dá um foguinho, mas não rende calor no inverno de nossas vidas sem luzes ou idéias. Elas sabem o que querem e pensam a si mesmas,  e definitivamente não contratam um Gabriel para pensar o que precisam. Elas mesmas, sozinhas, pensam. E é a essas que o Carpinejar, eu, gente que gosta do resultado, muito mais do que balacobaco, vamos. Fica a dica.


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