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4 de novembro de 2010
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15:58

Pelé e Coutinha

Por
Sul 21
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Marcelo Carneiro da Cunha *

Não sei o que os estimados sulvinteumistas sentiram ao ver a entrevista-surpresa de Lula e Dilma ontem, mas, se esse era o objetivo, funcionou, porque eu tive uma ótima surpresa.

Dupla afinada, não é mesmo, sô? Lula mandava, Dilma rebatia. Lula levantava e a Dilma pimba, no canto, às vezes riscando a trave por algum probleminha de concordância, quiçá, se bem que jamais no raciocínio.

Me agradou em especial ver o Lula carinhosamente pegando no braço da Dilma pra reforçar a proximidade entre os dois e a despedida, quando Lula se vai e Dilma fica, mas dizendo para o presidente, que se afasta, “Nos vemos em Seul!”. Segurança tranquila e compartilhada entre companheiros que se alternam na zaga ou no ataque com a mesma facilidade, parece. Isso, acho que nem o Pelé e Coutinho faziam, naqueles tempos pré-multifuncionalidade e pró 4x2x4.

Gostei, minha gente. Gostei de sentir que o discurso começa a se tornar prática e melhor do que o prometido. Lula está ali, ele é o presidente por mais dois meses, vai cumprir tabela e nem pensar em trocar de time. Dilma está ali, mas não é mais a mesma Dilma, é outra, vocês viram?

Ela ganhou vaga no time titular, o povo inteiro mostrou que confia no talento, ou pelo menos na garra, pra começo de conversa. Já deu canelada na campanha, pra acalmar a dentadura da oposição, já recuou pra defender e marcar, naquele final de primeiro tempo esquisito dessa eleição 2010. Foi pra cima do adversário no comecinho do segundo turno e acabou ali com a dúvida. Gostei, – por mim, tirem já o Douglas que eu sei quem eu gostaria de ver comandando o Gremão em campo.

Foi enfática a Dilma ontem com relação ao Irã, coisa que todos esperávamos ouvir, diga-se, e que ela provavelmente ainda pode falar por não ter recebido a faixa de campeã. Mandou ver nas questões econômicas, assertiva e sem tergiversar.

Pense você, estimado sulvinteumista, que dureza entrar em campo como capitã, num time onde o centroavante vem matando a pau pelos últimos oito anos. Entrando em campo com o país, o mundo inteiro olhando e o PSDB enterrando sapo atrás do gol.

Pois, olhem que está me surpreendendo, e muito, a pose. Vim, vi, agora é vencer, nos diz a aparência da Dilma. E isso, essa tal de atitude, conta e muito, no jogo e especialmente na política, não é mesmo? Nessa hora a oposição, do lado de lá da linha do meio campo olha e treme a perna. Começa a pensar se vale mesmo partir pra uma pancadaria digna de um Arthur Virgílio ou repensar a estratégia. O DEM já começa a olhar pro lado e ver se não existem cabides suficientes em alguma administração estadual, calma, tranquila, e também com acesso a verbas federais. Entrar em campo, é sim, atitude.

Dilma é, foi, uma enorme interrogação, em especial para quem votou nela e estava afirmando ali a sua crença em algo não muito claro. Mas, não é sempre assim? Você traz o cracão que arrasou no Real Madrid e ele não se adapta ao clima da cidade, excesso de pólen, sabe? Você pega um sujeito que até parecia bom no seu local de origem e ele desaparece com a responsabilidade de jogar diante de multidões. Você vota em um candidato, mas elege um presidente. Craque mesmo é o que consegue fazer a transição. Lula, deus meu, olhem o que ele fez depois que andou naquele Rolls-Royce vintage?

E, na pose dos dois ontem, no sorriso matreiro de quem dizia um para o outro que agora todos viam o que eles dois apenas sabiam, vi a primeira afirmação de que aquele Rolls-Royce combina, e muito, com o jeitão da nossa ex-ministra e futura presidente. Depois da voltinha no dia 1º de janeiro teremos sim, uma, só uma, e olhem que uma, pessoa naquela poltrona no Planalto.

E, desde ontem, eu realmente acredito que vai dar gol. Falta agora, é o que eu acho, tão somente ver o placar ao final dos quatro anos e se vai haver prorrogação. Eu, desde ontem, acho que sim.

* Escritor e jornalista


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