Cidades|z_Areazero
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13 de janeiro de 2020
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21:57

Promoção da paz: escola municipal transforma pichação de ódio em grafite de Celopax

Por
Luís Gomes
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Celopax grafitou o muro da escola Monte Cristo, na Vila Nova, ao longo desta segunda-feira | Foto: Luiza Castro/Sul21

Luiza Castro e Luís Eduardo Gomes

Em 15 de abril de 2018, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Monte Cristo, localizada no bairro Vila Nova, em Porto Alegre, amanheceu pichada com palavras misóginas, ofensas a professores e frases em alusão ao massacre de Suzano — quando dois atiradores abriram fogo contra a escola Raul Brasil, no dia 13 de março, deixando oito mortos, além deles próprios. As aulas foram suspensas na ocasião. Oito meses e um intenso trabalho de promoção da paz depois, a Monte Cristo ganhou nesta segunda-feira (13) um mural grafitado pelo artista porto-alegrense Celopax na fachada da escola.

Coordenadora cultural e professora de Artes da escola, Daniela Beatriz Coletti diz que a ideia de revitalizar a escola, que completa 25 anos em 2020, acabou ganhando força com a “pichação violenta” do ano passado. “O projeto se tornou importante para resgatar a autoestima da escola”, diz.

Celopax começou a arte por volta das 10h e, no final da tarde, ainda continuava a grafitar o mural, com a possibilidade de ter que retornar para terminar o trabalho em outro dia. “Todas as escolas que eu venho trabalhando, eu vejo que carecem muito disso. Não tem um incentivo financeiro para contratar uma pessoa, então eu acho que é a hora que a arte entra como resistência. Eu faço um monte de trabalhos comerciais que possibilitam eu hoje vir aqui, pintar e conhecer a gurizada. Acho que é uma resistência poder fazer isso. E não sou só eu, tem vários artistas pintando em várias escolas”,afirmou ao Sul21.

Obras dos alunos sobre a obra de Celopax viraram uma exposição na escola | Foto: Luiza Castro/Sul21

Daniela diz que, no ano passado, entrou em contato com Celopax pelas redes sociais e o convidou para fazer a ação em parceria com a escola. “Marcelo, o Celopax, aceitou o convite e está fazendo uma ação, um voluntariado para a escola”, diz a professora, acrescentando ainda que a revitalização não contou com recursos do Município. “Ao contrário, a Prefeitura cada vez mais tira recurso da escola. A comunidade se mobilizou, fez uma campanha interna, para comprar o material para ele [Celopax] fazer o mural”.

A professora destaca ainda que, quando as conversas com o artista começaram, a arte dele passou a ser trabalhada em sala de aula, com os alunos produzindo textos, desenhos e outros conteúdos pedagógicos a partir da obra de Celopax. O resultado foi uma exposição dos trabalhos que está decorando a escola nesse início de ano. “Quando ele chegou na escola hoje, praticamente toda a comunidade sabia quem ele era. [Com a exposição] A escola devolve para ele reconhecendo a importância da obra dele para a cidade”.

Pichações de 2019

As pichações feitas na escola em abril de 2019 traziam mensagens em muros, paredes, portas de salas de aula e no piso da quadra esportiva com mensagens ofensivas contra professoras, estudantes mulheres e o diretor da escola. A quadra esportiva tinha os dizeres “Suzano voltará aqui”. No muro do lado de fora do banheiro feminino foi pichado “canto das putas”. A mensagem era uma alusão ao fato de que alunas dos últimos anos do Ensino Fundamental na escola instituíram um espaço no banheiro chamado de “canto das meninas”, um local melhor preservado para elas realizarem cuidados pessoais e para trocarem mensagens positivas e de “empoderamento”.

Confira mais fotos da ação desta segunda:

Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21

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