Luís Eduardo Gomes
Demorou, mas a população de Porto Alegre pode agora, oficialmente, voltar a usufruir de um dos seus principais cartões postais, o Largo dos Açorianos, no Centro da cidade. Além da revitalização da Ponte de Pedra, o Largo ganhou dois espelhos d’água interligados por uma fonte, com a água circulando em circuito fechado entre eles por meio de bombas hidráulicas.
Desde abril de 2015, quando o antigo espelho d’água foi esvaziado e o espaço foi tomado pelo barro, foram diversos os adiamentos de prazos de início e, posteriormente, de conclusão das obras. A revitalização começou a ser pensada em 2015, ainda no governo de José Fortunati (então no PDT) como uma forma de recuperação da Ponte de Pedra, monumento que é patrimônio histórico da cidade. O primeiro projeto de intervenção no espaço foi lançado em outubro daquele ano, com a expectativa de conclusão para o ano seguinte. Contudo, o edital para a obra só seria lançado em julho de 2016, com os trabalhos começando apenas em outubro daquele ano, com os tapumes que isolaram o local sendo colocados no início de novembro.
Com a troca de governo municipal, a gestão de Nelson Marchezan Júnior (PSDB) determinou a revisão do contrato para a revitalização. Os trabalhos foram retomados apenas em junho de 2017. Sucederam-se então uma série de prazos, com a Prefeitura mais recentemente tendo prometido a entrega para junho passado, quando os tapumes começaram a ser retirados, mas o Largo dos Açorianos foi enfim reinaugurado oficialmente nesta quinta-feira (22). O custo final da obra foi estimado em R$ 5,4 milhões — em 2016, a previsão era de R$ 4,6 milhões –, com recursos provenientes do Fundo Pró-Defesa do Meio Ambiente
Durante a cerimônia, que contou com a apresentação musical da banda municipal, o secretário municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade, Germano Bremm, destacou que a revitalização foi um projeto complexo porque se tratava de um bem tombado. “A gente identificou diversas situações no transcurso da execução do projeto que não estavam previstas inicialmente”, disse.
Para adoção
Bremm afirmou que o objetivo da Prefeitura é buscar um parceiro privado para realizar a adoção do Largo dos Açorianos e garantir a manutenção do espaço. Ele adiantou que um edital para a adoção deve ser lançado já nesta sexta-feira (22) no site da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade (Smans). “A iniciativa privada, a comunidade, a população que tiver interesse em adotar pode nos procurar. A nossa ideia é que de fato a iniciativa privada adote e faça a conservação desse espaço”, disse.
Posteriormente, o prefeito Marchezan confirmou que a Prefeitura busca um parceiro privado, aos moldes da adoção do trecho já revitalizado da Orla do Guaíba, adotado pela Uber, mas preferiu não dar datas para a conclusão de um acordo do tipo. “Depende muito mais do desejo da iniciativa privada do que efetivamente de um prazo que a gente coloque, mas a manutenção será feita pela Prefeitura enquanto não houver um adotante”, disse.
A lei de adoção de espaços públicos garante que a entidade que adotar o Largo poderá, em troca da manutenção, realizar eventos no local e explorar institucionalmente a marca da empresa, por exemplo, no local.
Ocupação de espaços públicos
Antes de o lago que passa embaixo da Ponte de Pedra ser esvaziado e o local ser oficialmente fechado para a circulação de pessoas, o Largo vinha se tornando um dos principais espaços para encontros, festas e confraternizações ao ar livre no Centro de Porto Alegre. Questionado se o local poderá receber festas, como antigamente, o prefeito Marchezan afirmou que a eventual adoção do Largo não será um impeditivo para a ocupação do espaço pela população.
“A gente estimula até, porque o mundo inteiro faz isso, a utilização e ocupação de espaços públicos pelas pessoas. Até que ela comece a interferir no direito de outros. À noite, se não interferir no direito de outros repousarem e dormirem, a gente vai incentivar essa utilização e essa ocupação”, disse o prefeito.
Na mesma linha, o secretário Bremm afirmou que a expectativa é que a ocupação do espaço pela população também ajude a preservar o Largo e a Ponte de Pedra, que estava vandalizada antes da revitalização. “Não há uma restrição específica com relação ao uso. A população tem que vir se apropriar e até nos ajudar a promover essa manutenção, que a gente sabe que o poder público tem uma série de dificuldades de fazer e manter o cuidado”, disse. “A gente sabe que é um espaço público e, assim como outros espaços, a gente não consegue monitorar de forma integral, 24 horas. Mas a gente está com esse olhar bastante atencioso e pede o apoio da comunidade do entorno para que nos ajude a cuidar desse espaço”.
A Ponte de Pedra
Um ponte de madeira foi construída no espaço atual do Largo para a travessia do Arroio Dilúvio em 1825. O local era a então foz do Dilúvio, onde ele desembocava no Guaíba. Em 1848, foi inaugurada a atual Ponte de Pedra. O espaço passaria por uma série de transformações em decorrência do crescimento da cidade, como as mudanças no leito do Dilúvio e a criação da Avenida Ipiranga. Nos anos de 1970, o local ganhou um lago e o monumento em homenagem aos Açorianos que ajudaram a fundar a cidade, passando então a ser chamado de Largo dos Açorianos. A Ponte de Pedra foi tombada como patrimônio cultural da cidade em 1979.
