Cidades|z_Areazero
|
12 de dezembro de 2018
|
17:14

‘A agroindústria é o futuro’: Expositores da 1ª Feira de Agricultura Familiar falam sobre as perspectivas para o setor

Por
Sul 21
[email protected]
Clarice é uma entre os 60 expositores da 1ª Feira da Agricultura Familiar (AgriFam). Foto: Joana Berwanger/Sul21

Giovana Fleck

Clarice Rohr começou a cultivar chás orgânicos em 2013. Na época, havia descoberto uma trombose.  Em sua casa em Picada Café, que tem pouco mais de cinco mil habitantes, mantém uma horta com quarenta tipos diferentes de ervas que usa na composição dos produtos. Fora os chás, faz biscoitos, barras de cereal e granolas. “Me apaixonei pelos chás para cuidar de mim e da minha família. Tenho reumatismo no sangue, que causa trombose. Mudei e aprendi muito com esse processo. Mas, ao mesmo tempo, entendi que tinha que passar isso para as outras pessoas.”

Sua família sempre trabalhou com a produção de laticínios. Porém, com a doença, Clarice passou a não poder carregar peso ou ficar longas horas embaixo do sol. “O que eu faria? Não é qualquer empresa que vai contratar uma pessoa doente.” Então, começou sua marca própria, a Produtos Lilien. “É quase uma farmácia”, brinca.

Clarice é uma entre os 60 expositores da 1ª Feira da Agricultura Familiar (AgriFam). Inaugurado na terça-feira (11), o espaço foi construído no Largo Glênio Peres e é promovido pela Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), do governo federal, com apoio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SMDE).

“É o futuro, né”, diz Clarice. “A vida no interior está sofrida. Eu quero poder deixar um negócio para a minha família, para as minhas duas meninas. Não dá mais pra criança achar que o leite vem da caixinha, do supermercado. Eu sou feliz por mostrar que o produtor pode se preocupar com a saúde e o bem-estar do consumidor. Isso é o futuro, não tem jeito.”

A produtora conta que trabalhar com o a agroindústria familiar ainda requer mais investimentos do que lucro durante alguns meses do ano. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Cirley dos Santos Lorenzatti trabalha há 10 anos com a agroindústria. Faz geleias, frutas cristalizadas e doces. “Eu comecei, em primeiro lugar, para segurar meus dois filhos na colônia.” Sua família sempre cultivou frutas, especialmente pêssegos, laranjas e uvas. “Fazer esses produtos ajuda a agregar valor ao que temos plantado.” Ela começou sozinha. Deu o nome à produção de Sabores da Montanha. “Moro em Pinto Bandeira. Nosso terreno é cercado por montanhas. Para olhar o sol, eu tenho que olhar para além delas.”

A produtora conta que trabalhar com o a agroindústria familiar ainda requer mais investimentos do que lucro durante alguns meses do ano. “Mas é um dinheiro diferente. Não é a mesma coisa da safra. Aqui, eu vendo direto para quem vai comer. A agroindústria acaba gerando uma renda mais para a minha família. Meus filho mais velho casou, fez uma casa e mora do meu lado por conta disso. O outro ainda mora com a gente. Mas nos mantivemos juntos.”

Rafaela Jacobes ressalta que legislações municipais que impedem uma comercialização mais abrangente de seus produtos têm barrado o crescimento da sua produção de laticínios. Foto: Joana Berwanger/Sul21

“Pode experimentar”, diz Rafaela Jacobes, convidando quem passa por sua banca a degustar queijos artesanais. Mesmo com o corpo dolorido por carregar os freezers e equipamentos para a montagem da banca no dia anterior, ela não economiza esforços para agradar. “Vocês gostam de pimenta? Orégano? Iogurte? Sorvete?”, pergunta, enquanto dispõe os produtos no balcão. Há 18 anos, sua família produz leite. Há 10, começaram a utilizar a matéria prima para a produção artesanal.

“Começamos por esporte. Mas, com o passar do tempo, fomos vendo que podia se transformar em algo a mais. Começamos a elaborar um projeto de propriedade sustentável. Então, beneficiando o leite a gente pode se tornar independente da indústria.” Toda produção da família de Rafaela se concentra, agora, em Estância Velha. Eles distribuem para escolas da rede pública e comercializam localmente.

“Temos recebido muito apoio das entidades articuladoras através das feiras. Se não fosse assim, o produtor rural não poderia se sustentar”, explica. Ainda assim, ela ressalta que legislações municipais que impedem uma comercialização mais abrangente de seus produtos têm barrado o crescimento da sua produção de laticínios.

Situação parecida é vivida por Leane Marques Borba. Ela produz mel há 24 anos com seu marido, em Tabaí, município com menos de cinco mil habitantes próximo a Lajeado. “Ele começou de curioso. Antes disso, lidávamos com corte de eucalipto e acácia.” Leane conta que a produção e a comercialização de mel têm crescido em 2018. “Mas falta muito ainda para ser perfeito. Tínhamos que ser liberados para vender em todos os estados brasileiros. A legislação do nosso município, hoje, limita muito a nossa capacidade. É um detalhezinho para o prefeito que pode mudar a vida de muita gente”, ressalta.

Leane Marques Borba produz mel há 24 anos com seu marido, em Tabaí. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Próximo da entrada do pavilhão da agricultura familiar, podes de geleia mantém um cheiro fresco de frutas no ambiente. Adriano Sander coloca pequenas porções em colheres para degustação, sem pão ou qualquer acompanhamento. “Geleia se experimenta pura.”

Há pouco menos de dois anos, ele era o proprietário de uma agência de turismo em Gramado. Questionado sobre o que o fez mudar de vida, Adriano não pensa antes de responder: “O futuro”. “Vivia na correria. Já estava habituado. Pensando na minha saúde e da minha família, decidi vender a agência e ir passar um tempo num sítio que minha família tem em Nova Petrópolis.” Ele passou a cultivar uvas, fazer sucos e, também, geleias. “Isso foi ganhando proporções maiores, até que abrimos a indústria.”

Ele diz que o retorno tem sido maior que o esperado, especialmente considerando o pouco tempo de produção. “Eu vejo o trabalho em agroindústria como algo muito positivo. Especialmente através do incentivo entre os sindicatos e as associações de produtores. É um setor muito unido e que vai crescer mais se permanecer assim.”

A feira seguirá até a sexta-feira (14) aberta entre as 8h às 19h, no Largo Glênio Peres, em frente ao Mercado Público de Porto Alegre.

Confira mais fotos:

1ª Feira da Agricultura Familiar (Agrifam) de Porto Alegre. Foto: Joana Berwanger/Sul21
Adriano Sander diz que o retorno tem sido maior que o esperado, especialmente considerando o pouco tempo de produção. Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21

Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora