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18 de novembro de 2018
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10:36

‘Isso é poesia, magrão!’: Artista independente lança cordel sobre Porto Alegre

Por
Sul 21
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Marcelo Azambuja, com cópias impressas do cordel ‘Isso é poesia, magrão!’. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Giovana Fleck

No final da década de 1980, em uma sexta-feira à noite, se você caminhasse pela avenida Osvaldo Aranha e dobrasse a esquina do Largo Dr. Lubianco, onde hoje funciona uma floricultura, encontraria o Bar Escaler. O espaço era pequeno, mas possuía um palco onde se apresentavam bandas locais que faziam certo sucesso na época. Marco na cena punk de Porto Alegre, o Escaler era famoso por reunir uma pequena multidão nos finais das tardes de domingo no Bom Fim.

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“Bah! Eu ia toda semana no Escaler!”, é o que o poeta Marcelo Azambuja, com recorrência, escuta quando entrega uma das impressões de seu cordel. Na capa, a foto do bar aparece acima do título: ‘Isso é poesia, Magrão!”. “O Escaler é um símbolo. Assim como marcou a minha juventude, marcou a de muitas outras pessoas”. Na contracapa, outra referência porto-alegrense: uma lata de sopa Campbell’s, símbolo das obras de Andy Warhol, sabor ‘Van Gogh’ – alusão ao Bar e Restaurante Van Gogh, na esquina da João Pessoa com a Rua da República, famoso pela sua sopa de capeletti.

“A gente se vê na cultura local. É o que nos representa”, diz o autor. Ao longo de dez anos, Azambuja trabalhou como corretor de imóveis. Antes disso, foi porteiro e teve um confecção de mochilas. Nos intervalos do trabalho desprovido de criatividade, Azambuja escrevia. “Passei os anos colecionando pequenos textos e poemas.”

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As produções escritas ganharam corpo quando ele se decidiu sobre o formato em que queria publicá-las. “Sou encantado pela literatura de cordel. Mas achei que um ‘cordel punk’ seria mais apropriado para essa cidade”. O gênero literário, cujo nome tem origem na forma como tradicionalmente os folhetos eram expostos para venda, pendurados em cordas, é composto por poemas e xilogravuras. Carregado de expressões bairristas e referências locais, ‘Isso é poesia, magrão!’ ilustra as contradições de Porto Alegre com ironia e bom humor.

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“Porto Alegre é cheia de dicotomias. O gremista e o colorado, o pobre e o rico, o tradicionalista e o roqueiro… Acho que quanto mais assumirmos nossas identidades e explicitamos isso de um jeito engraçado, melhor conseguimos lidar com uma realidade desigual que requer aceitação”.

Azambuja distribui o livreto gratuitamente pelos bairros Bom Fim e Centro, especialmente. “A cidade mudou muito. Geograficamente e politicamente. Ainda assim, a cultura une. É incrível ver as pessoas interagindo com o teu trabalho. Para mim, o projeto foi um resgate”. Ele planeja lançar mais textos, em outros formatos, mas para serem distribuídos da mesma forma e de maneira igualmente independente. “Foi uma experiência para comprovar que não podemos ficar acomodados”.

Feira do livro

A literatura de cordel também é tema da 64ª Feira do Livro de Porto Alegre. Uma ‘cordelteca’ e uma exposição ficarão abrigadas até o dia 18 de novembro (domingo) na Biblioteca Moacyr Scliar, localizada no térreo do Memorial do Rio Grande do Sul.

A exposição traça a trajetória do autor paraibano Leandro Gomes de Barros. A mostra foi organizada em 2015 pelo Museu de Arte Popular da Paraíba, de Campina Grande. Já o projeto itinerante ‘Cordelteca Leandro Gomes de Barros’ disponibiliza dezenas de exemplares de mais de 50 autores para o público. As obras foram trazidas da Paraíba, estado ao qual se atribui a origem do cordel.

Confira mais fotos: 

Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21

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