Cidades
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25 de setembro de 2018
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19:10

Após denúncia de contaminação por bactérias no HPS, Conselho cobra providências da Secretaria da Saúde

Por
Sul 21
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A partir da denúncia dos servidores do HPS, o Conselho organizou uma visita com o objetivo de fiscalizar o prédio e os serviços prestados. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Giovana Fleck

Na metade de setembro, uma denúncia de funcionários da enfermagem do Hospital de Pronto Socorro (HPS) fez o Conselho Municipal de Saúde (CMS) ficar em estado de alerta. “Reportaram que havia uma contaminação por bactérias multirresistentes. Ou seja, pacientes que já estão doentes estavam suscetíveis a serem infectados e terem sua cura retardada, ficando mais vulneráveis”, explica Maria Letícia de Oliveira Garcia, coordenadora do CMS.

Além disso, segundo Maria Letícia, os trabalhadores informaram que problemas técnicos provocaram a suspensão temporária de hemodiálises no Hospital. Somado a isso, relataram falta de funcionários no atendimento da emergência e que quatro dos cinco elevadores do prédio se encontram fora de funcionamento.

A partir da denúncia, o Conselho organizou uma visita com o objetivo de fiscalizar o prédio e os serviços prestados. No dia 18 (terça-feira), representantes do CMS, do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa) e da Associação de Servidores do HPS (ASHPS) constataram “alto índice de contaminação por bactérias multirresistentes Acinetobacter e KPC nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) do 3º e 4º andar, que ultrapassa 80% dos pacientes internados”, segundo Maria Letícia.

A falta de recursos humanos também foi destacada pela coordenadora do CMS, que enfatiza a inadequação do atendimento. Na visita, teria sido confirmada falta de insumos para os equipamentos de hemodiálise – que estava sendo realizada de forma parcial desde o dia 15 (sábado).

Após a visita, o CMS solicitou uma reunião de urgência com o secretário municipal de Saúde, Erno Harzeim. No entanto, no dia 19 (quarta-feira), o secretário enviou assessores técnicos da Secretaria para representá-lo. “Fizeram uma série de promessas”, diz Maria Letícia. “Primeiro, garantiram que iriam realizar o chamamento do concurso vigente para repor o corpo de enfermeiros. Porém, não disseram quantos ou quando. Segundo, disseram que realizaram os procedimentos para evitar qualquer contágio. Porém, contaminações como essa ocorrem em hospitais onde as assepsias não são feitas.”

A coordenadora ressalta que desde 2017 o Conselho tem denunciado o que classifica como “situação de calamidade” no HPS. Foto: Joana Berwanger/Sul21

De acordo com a coordenadora, dos oito internos na área contaminada, quatro foram infectados pela Acinetobacter e uma pela KPC. Segundo a coordenadora, no laudo técnico apresentado pela Secretaria da Saúde, providências técnicas teriam sido listadas e a situação caracterizada como “surto”. No entanto, a assessoria de comunicação da SMS usa um outro termo para se referir ao ocorrido: colonização. A diferença estaria basicamente no fator assintomático da presença das bactérias no organismo. “Todas as UTIs sempre têm bactérias multirresistentes. Alguns pacientes são colonizados, não significa infectados. Os pacientes são avaliados constantemente, uma das melhores microbiologias é a do HPS. São realizadas manobras de higienização e tudo é determinado pelo setor de controle de infecção do HPS “, informa a SMS. Ainda segundo a Secretaria, os pacientes foram remanejados internamente e a UTI passa por um processo de limpeza.

A Secretaria também teria informado, na reunião, que a situação do contrato com a empresa terceirizada que realiza serviços de nefrologia, que inclui a hemodiálise, estaria em trâmite para renovação. A Nefroclínica LTDA é responsável por garantir médicos nefrologistas, equipamentos, kits e insumos. A SMS teria tido problemas no encaminhamento do termo aditivo ao contrato, mas o problema já teria sido solucionado na terça-feira (18). “Todas as pessoas foram atendidas. Ocorreu um desabastecimento momentâneo por questões burocráticas, reposto no mesmo dia com insumos emprestados pelo Hospital de Clínicas”, diz a SMS em nota.

“Mas isso é algo que os servidores contrapõem – ficou a palavra deles contra a da Secretaria”, afirma Maria Letícia. Por isso, o Conselho se encarregou de verificar boletins e prontuários para averiguar se houve prejuízo para algum paciente neste período.

Sobre os elevadores, a SMS afirma que apenas dois estavam fora de uso – sendo que um já foi consertado e o outro será reparado até a quinta-feira (27).

A coordenadora ressalta que desde 2017 o Conselho tem denunciado o que classifica como “situação de calamidade” no HPS. Ela lembra uma das últimas visitas de fiscalização, no dia 6 de agosto, quando o CMS registrou imagens de dois leitos fechados na Unidade de Tratamento Intensivo, no 5º andar, e do setor de coleta de sangue do Banco de Sangue. Os vídeos mostram portas fechadas e pontos de deterioração do Hospital, como buracos no teto e fiação exposta. “Há quase um ano estamos aguardando documentos que precisem quantos funcionários o Hospital, de fato, tem e qual o número de funcionários ideal para que possamos estudar a melhor maneira de proceder”.

Ao final da reunião, foi acordado que a SMS solicitaria uma avaliação à Comissão Municipal de Controle de Infecção Hospitalar, coordenada pela Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde (CGVS), sobre a situação da contaminação das UTIs do HPS. Além disso, o Conselho buscará uma nova agenda com o Ministério Público Estadual para receber informações com relação ao Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que seria protocolado pelos defensores encarregados contra o HPS.

 


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