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25 de agosto de 2018
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17:44

25º Porto Alegre em Cena aborda temáticas sociais relacionadas ao Brasil

Por
Sul 21
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Peça Grande Sertão Veredas, com Caio Blat, é inspirada no livro de João Guimarães Rosa | Foto: Chico Lima/Divulgação PMPA

Débora Fogliatto*

Já estão à venda desde a última quarta-feira (15) os ingressos para alguns dos espetáculos que compõem a 25ª edição do Porto Alegre em Cena. O festival acontece entre os dias 11 e 23 de setembro e traz aos palcos da capital gaúcha 49 espetáculos de dança, teatro e música. Tendo como eixo central “Brasil”, o Em Cena deste ano conta com obras com as temáticas de raça, classe, migrações e críticas sociais em geral.

O espetáculo de abertura do evento já demonstra o tom do festival: Pan Bras’Afree’Ke Vol.1, do grupo Höröyá (SP) tem como conceito o movimento Pan Africano, contando com músicos vindos do Mali, Guiné, Senegal e Burkina Fasso, além de brasileiros. Focado em músicas de matrizes negras, a banda tem como proposta misturar estilos que vão do afrobeat ao samba, passando pelo jazz e funk afro-americano. A apresentação única acontece no dia 11 de setembro no Theatro São Pedro, com ingressos entre R$ 10 e R$ 20.

O Em Cena acontece em onze espaços em diversos bairros da capital: Agulha, no São Geraldo, onde serão realizados os shows musicais; Casa de Cultura Mario Quintana, Theatro São Pedro e Teatro do SESC, no Centro Histórico; Centro Municipal de Cultura (onde ficam o Teatro Renascença e a Sala Erico Verissimo), no Menino Deus; Studio Stravaganza, no Santana; Galeria La Photo, na Cidade Baixa; Goethe Institut e Teatro CHC Santa Casa, no Independência; Instituto Ling, no Três Figueiras; e Teatro do SESI, no Sarandi.

A Bergman Affair é um dos espetáculos internacionais do festival |Foto: Guido Mencari/Divulgação PMPA

Dentre os destaques internacionais deste ano do festival está o espetáculo alemão Home Visit: Brasil em Casa, do coletivo Rimini Protokoll, que literalmente tem como palco dez casas de moradores da cidade, inscritas e selecionadas previamente através do site do POA Em Cena. Para a peça realizada aqui, o grupo desenvolveu uma dramaturgia centrada em questões brasileiras, propondo reflexões acerca da identidade cultural, valores e fronteiras. Outro grupo europeu que marca presença no evento é a companhia francesa The Wild Donkeys, que apresenta o espetáculo A Bergman Affair, livremente inspirado no romance Private Conversations, de Ingmar Bergman, que aborda os corrosivos jogos amorosos adultos, num fluxo descontrolado de palavras e imagens que põem à prova a razão e fazem com que os sentidos sejam livremente aflorados.

Uma das principais peças brasileiras que compõem o festival é Grande Sertão: Veredas – Espetáculo-instalação de Bia Lessa (RJ), inspirado na obra homônima de João Guimarães Rosa. A montagem apresenta diversas inovações de linguagem, buscando representar o sertão não apenas como um território físico, mas como “um estado de espírito, um lugar que existe dentro de cada um”, conforme define a realizadora. O espetáculo conta com atores conhecidos como Caio Blat, Luisa Arraes e Luiza Lemmertz.

Pelo menos três montagens têm como cerne a questão racial no Brasil: PRETO (PR), que parte da fala pública de uma mulher negra, como uma espécie de conferência sobre questões que incluem racismo, realidade do negro no Brasil; A mulher arrastada, elaborada a partir do caso de Claudia Silva Ferreira, traz uma reflexão acerca das barbáries a que a população periférica do país é submetida diariamente, e questiona o papel da mídia e da sociedade; Qual a diferença entre o charme e o funk? é um espetáculo que provoca um resgate às identidades negras ao recontar de variadas formas suas experiências, através de cenas autônomas e sensoriais.

Dentre as peças com temáticas raciais está PRETO, do Paraná| Foto: Nana Moraes/Divulgação PMPA

Ao mesmo tempo, o festival traz também espetáculos com outras temática sociais, como a relação entre classes. É o caso de Breguetu (PE), que propõe uma reflexão acerca das relações entre classes sociais, estilos de vida e sobre a estética da periferia; Nossos Mortos (CE), que traça um paralelo entre a Antígona – tragédia de Sófocles – e as inúmeras histórias reais dos massacres a movimentos populares, especialmente o Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, em Crato, no Ceará; e 40 mil kms (Chile), uma montagem instigante sobre a experiência migratória no Chile, sob diferentes olhares.

Ainda em tom de crítica social, A Tragédia e Comédia Latino-Americana (SP), aborda questões como educação, violência, consumo desenfreado, protestos, binarismo político e ideológico, não valorização da cultura e falta de consciência histórica. Já Espalhem minhas cinzas na EuroDisney convida os espectadores a um passeio futurista distópico e atemporal, apresentando ataques ao capitalismo e seus subprodutos, como alienação, consumismo, manipulação midiática e artificialidade; enquanto Dilúvio MA é uma perfomance em locais públicos, com entrada franca, em que os artistas buscam estabelecer uma relação de contrafluxo ao ritmo urbano, voltando o olhar para espaços da cidade carentes de cuidado e atenção, atuando sobre o vazio que distancia o indivíduo e o ambiente em que ele habita.

Além de Dilúvio MA, Pontilhados (PE) também tem entrada franca, com saída da Igreja das Dores, apresentando-se como uma “intervenção humana em um ambiente urbano”, a partir da ideia de explorar as cidades brasileiras onde localizam-se pontos turísticos, pessoas, monumentos e histórias. Outro espetáculo gratuito é Teatro dos Seres Imaginários, que consiste em uma manipulação de bonecos dentro de uma caixa de tecido suspensa, em que o espectador fica com o rosto praticamente colado à cena, acompanhando de perto a encenação.

Pontilhados percorre pontos turísticos de Porto Alegre, com entrada franca | Foto: Rogerio Alves/Divulgação PMPA

A dança estará presente no Em Cena com quatro espetáculos: Caverna, da Companhia Municipal de Dança de Porto Alegre, é uma metáfora da vida atual, em que o ser humano busca refúgios para escapar de tudo que o enfraquece e adoece física, emocional e socialmente; Zambo (PE) apresenta uma leitura coreográfica para as analogias do homem-caranguejo, com movimentos específicos, naturais e orgânicos, em comunhão com a história do Recife; Hiato, solo de dança contemporânea de Paula Finn, é centrado na figura de um corpo-tronco, cujo foco principal de movimento está nos braços e na coluna da performer, remetendo a raízes, folhas; e Vincent – Obra contemporânea em dança performativa tem como ponto de partida a obra do pintor holandês Van Gogh.

Atividades paralelas

Além dos espetáculos, o Em Cena traz também atividades formativas, com oficinas, workshops, residências artísticas e debates. Nesse âmbito, um dos workshops é de dança senegalesa, promovido pelo dançarino oriundo do país africano Ibrahim Sarr, do grupo Höröyá. Já a residência artística Night of the living dead redux será ministrada pela performer Morven Macbeth e o técnico Marco Turcich, integrantes do grupo britânico Imitating the dog. Algumas atividades de formação, porém, exigiam inscrição prévia.

O espetáculo de dança Zambo traz elementos da cultura recifense | Foto: Wellington Dantas/Divulgação PMPA

Dentre os eventos do “Reflexões em Cena”, compostos por debates acerca de temas relacionados à cultura, a conexão com o continente africano volta a aparecer no Diálogo Imigrações I: a formação de uma nova nação (África), com a participação de integrantes do Grupo Höröyá, enquanto o Diálogo Imigrações II: a formação de uma nação (América Latina) será protagonizado pelos artistas chilenos da peça 40mil km. Ambos os eventos contarão também com convidados do CIBAI Migrações e da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA). Outra convidada internacional é a Croata Iva Horvat, da Art Republic, de Barcelona, que falará do assunto Internacionalização das Artes Cênicas.

Prêmio Braskem em Cena

Esta é a 13ª edição do Prêmio Braskem em Cena, que acontece de forma integrada ao festival, aclamando artistas locais, e se tornou um dos principais prêmios culturais de Porto Alegre. Os dez espetáculos escolhidos são apresentados durante o Em Cena e, dentre eles, são eleitos o melhor espetáculo (júri oficial), melhor diretor ou coreógrafo, melhor ator ou bailarino, melhor atriz ou bailarina, melhor espetáculo (júri popular) e uma peça destaque.

Os espetáculos escolhidos para o Prêmio Braskem deste ano são: A Mulher Arrastada, Chapeuzinho Vermelho, Dilúvio MA, Espalhem Minhas Cinzas na EuroDisney, Hiato, Imobilhados, Pequeno Trabalho para Velhos Palhaços, Qual a diferença entre o charme e o funk?, Teatro dos Seres Imaginários e Vincent – Obra Contemporânea em Dança Performativa.

*Com informações do POA Em Cena


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