Cidades|z_Areazero
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5 de junho de 2018
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14:33

Redução de 41% no prejuízo demonstra que Carris é viável e não deve ser privatizada, diz vereador

Por
Luís Gomes
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Falas do prefeito motivaram atos em defesa da Carris, como o “abraço coletivo” que ocorreu em outubro do ano passado | Foto: Maia Rubim/Sul21

Luís Eduardo Gomes

Após seis anos de prejuízos crescentes, a Carris apresentou no final de maio balanço apontando redução de 41% no déficit na comparação entre 2017 e 2016, com resultado negativo de R$ 43 milhões. Ainda que não tenha se posicionado sobre o assunto nos últimos meses, até o momento a posição do prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB) tem sido de defender que a empresa pública deve ser privatizada porque seria “inviável” manter a transferência de recursos do Tesouro Municipal para cobrir gastos da companhia. No entanto, o vereador Adeli Sell (PT) aponta que o resultado de 2017 demonstra que a Carris precisava e ainda precisa de uma melhoria de gestão, e não ser privatizada.

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O balanço patrimonial da Carris divulgado no dia 25 de maio aponta que o prejuízo da companhia caiu de R$ 74 milhões para R$ 43 milhões na comparação entre 2017 e 2016. O resultado representa uma redução de 41,8% no déficit da empresa, cujo acionista majoritário é a Prefeitura de Porto Alegre.

De acordo com a demonstração de resultados, a receita bruta da companhia com a venda de passagens somou R$ 153,5 milhões em 2017, uma redução de R$ 2 milhões ante 2016. No entanto, a Carris aponta para uma redução de mais de R$ 30 milhões nas despesas. O custo dos serviços prestados, principal despesa da companhia, caiu de R$ 169,5 mi para R$ 158,6 mi. As despesas administrativas foram reduzidas de R$ 41,7 mi para R$ 25 mi. O resultado financeiro líquido caiu de R$ -5,9 milhões para R$ -2,9 milhões e as despesas financeiras caíram de R$ 7,3 milhões para R$ 4,3 milhões.

O balanço da Carris aponta que a companhia fechou 2017 com um passivo total de R$ 100,8 milhões em dívidas (entre fornecedores, empréstimos e financiamentos, obrigações sociais e trabalhistas, antecipação de receitas e outros). Em 2016, o passivo total era de R$ 108,5 milhões. Este foi o sétimo ano consecutivo de perdas na Carris. Em 2010, a companhia havia apresentado equilíbrio entre despesas e receitas. A expectativa do governo municipal é de que a companhia volte a ter equilíbrio financeiro em 2019.

Em nota divulgada no site da Prefeitura na ocasião, a Carris diz que a interrupção na sequência de aumentos do déficit “configura em uma conquista importante no processo de reequilíbrio das contas da Carris e a manutenção desse modelo de gestão, incluindo a implantação do processo orçamentário para o exercício de 2018, deve dar continuidade a essa tendência de melhoria nos resultados financeiros”.

Adeli Sell (esq.) ao lado de Olívio Dutra (centro) em imagem de arquivo | Foto: Maia Rubim/Sul21

Por sua vez, o vereador Adeli Sell argumenta que a queda no prejuízo demonstra que a manutenção da Carris pública é viável. “Eu sistematicamente, nos últimos anos, venho dizendo que a Carris tem solução. Ficou mais do que nunca comprovado que é um problema eminentemente de gestão. Havia uma falta de competência, falta total de eficiência administrativa e gerencial. Não havia planejamento estratégico de compra de peças, não havia planejamento de absolutamente nada”, diz o vereador. “A Carris já fez uma certa higienização nos cargos de confiança e pode fazer isso drasticamente. Ela tem corpo técnico-profissional e não se admite que uma empresa pública como a Carris seja um cabide de encosto de CCs”, complementou.

Sell argumenta ainda que, além da resolução dos problemas de gestão, o resultado financeiro da Carris poderia ser melhor se houvesse uma readequação das linhas existentes e criação de novas a serem operadas pela companhia. Sugere, por exemplo, a criação de três novos Ts, além de mudanças nas linhas circulares que operam no Centro e arredores. “Essas três linhas, da forma como estão, circulam a maior parte do tempo quase vazias”, diz.

Para o vereador, a venda da Carris é, mais do que uma necessidade, uma vontade do prefeito Marchezan. “O prefeito põe algumas coisas na cabeça, como todo expoente do chamado neoliberalismo, que é essa insistência de que tudo tem que ser privatizado, tudo tem que ser Parceria Público Privado e insiste nessas questões na Carris, do DMAE”, diz.

Defesa da privatização

A ideia da privatização da Carris vem sendo ventilada por Marchezan desde o período da corrida eleitoral, em 2016. Já como prefeito, a defesa mais veemente da privatização da Carris foi feita durante entrevista à Rádio Gaúcha em 21 de setembro do ano passado, quando afirmou que a Prefeitura precisava propor uma solução para a Carris, que poderia ser a venda, privatização ou fechamento da companhia. Em entrevista à Rádio Guaíba em 7 de novembro, Marchezan voltou a dizer que a Carris estava com “os dias contados”.

A última vez em que ele se posicionou publicamente pela extinção da companhia foi em fevereiro deste ano, em um discurso na Associação Comercial de Porto Alegre. “Tem que extinguir a Carris, tem. Alguém aqui quer comprar? Alguém aqui conhece algum comprador?”, disse na época. Em todas as ocasiões, o argumento central do prefeito era de que seria “inviável” a Prefeitura continuar transferindo recursos para cobrir um déficit anual superior a R$ 60 milhões.

Procurada nesta manhã, a Prefeitura disse, por meio de sua assessoria, que irá divulgar nos próximos dias um edital para contratação de auditoria externa que visa à reestruturação da Carris. O objetivo é que a consultoria faça um diagnóstico da situação e sugira os possíveis cenários de o que é mais viável para diminuir os prejuízos da companhia e diminuir os aportes realizados pela Prefeitura na empresa.


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