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14 de março de 2018
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19:38

No máximo, duas estrelas: novo aplicativo do BikePoa é alvo de reclamações de usuários

Por
Sul 21
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Em 2018, a tarifa diária do programa de aluguel de bicicletas, conveniado com a prefeitura municipal, passou de R$ 5 para R$ 8. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Giovana Fleck

Aumento dos preços. Usabilidade defasada. Inovações que não funcionam como deveriam. Operando desde o início de março em Porto Alegre, o novo sistema do BikePoa foi “abraçado pela população”, segundo nota da assessoria de imprensa do aplicativo. Mas essa realidade não se reflete nas avaliações de usuários. Na App Store, compatível com dispositivos IOS, o aplicativo mal supera a marca de duas estrelas. Já na Google Play, loja dos dispositivos Android, a nota fica em uma estrela.

Depois de tentativas falhas, Daniel considerou um alívio o sucesso na retirada. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Na tarde da terça-feira (13), o cozinheiro Daniel Bittencourt conseguiu retirar sua bicicleta da estação pela primeira vez. Depois de tentativas falhas, considerou um alívio o sucesso na retirada. Ele não costuma andar de bicicleta, mas reconhece a economia em pequenos trajetos. Na últimas duas semanas, foi até as estações ativas no Centro Histórico para pegar as “laranjas”, mas acabou fazendo seu trajeto a pé. “Pedia para tentar novamente, novamente e novamente. Eventualmente tu desiste”, explica. Ele não reportou o erro ao aplicativo, mas o relato não é incomum. “Eu espero que eles cumpram o que prometeram, porque ter acesso a esse tipo de transporte é muito importante para Porto Alegre.” A assessoria responsável afirma que todas as estações existentes antes do novo contrato voltarão a operar até o mês de abril.

Na estação da rua Duque de Caxias, Jarbas Poléns, servidor público, afirma ter deixado de usar o sistema em diversas ocasiões por conta da diminuição de pontos de retirada. Pela primeira vez desde o início das operações, conseguiu conciliar seu trajeto com a disponibilidade do serviço. Em uma hora, sairia da Duque rumo à Farrapos e voltaria para o Centro para devolver a bicicleta. “Não tem estações por lá, mas se eu pedalar bem vai dar certo.” Mesmo se atrapalhando um pouco com a liberação por código, conseguiu o transporte. Porém, Jarbas argumenta que vai ter que comprovar se o aumento dos preços se justifica. “Antes era a metade. As bicicletas parecem mais firmes, mas tem que andar pra ver se vale”, afirma, inciando sua pedalada apressada para conseguir vencer o limite de uma hora.

Na estação da rua Duque de Caxias, Jarbas Poléns, servidor público, afirma ter deixado de usar o sistema em diversas ocasiões por conta da diminuição de pontos de retirada. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Tarifa

Em 2018, a tarifa diária do programa de aluguel de bicicletas, conveniado com a prefeitura municipal, passou de R$ 5 para R$ 8. Já o passe mensal, aumentou de R$ 10 para R$ 20.

A assessoria afirma que os novos valores são referentes ao serviço com maior “qualidade e segurança”. De fato, as novas bicicletas são mais robustas. As peças que não podem ser usadas em outras bicicletas, nem vendidas, e foram fabricadas pela empresa canadense PBSC Urban Solutions. Porém, logo que o novo sistema começou a operar, o vereador Marcelo Sgarbossa (PT) entregou ao Ministério Público de Contas um requerimento para averiguar se houve irregularidade nos reajustes de tarifas.

Sgarbossa argumenta que o edital de licitação do programa aponta em um dos itens que “os valores das tarifas não estão sujeitos a reajuste ou revisão”. O contrato firmado em maio de 2016, antes que Nelson Marchezan Jr. (PSDB) assumisse a prefeitura, também não prevê reajuste ou revisão.

A assessoria responsável afirma que todas as estações existentes antes do novo contrato voltarão a operar até o mês de abril. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Além disso, nas lojas do aplicativo, os usuários descrevem cobranças de até R$ 600 após a compra do passe mensal. A assessoria esclarece que quando um plano é adquirido uma pré-autorização é feita em valor mínimo de R$ 300 – impactando no limite de crédito do ciclista. O valor só será desconsiderado se a bicicleta for devolvida no período estipulado; mas isso pode levar até quatro dias. Se algum problema com a bicicleta for detectado, o valor será automaticamente descontado. “Absurdo”, é como caracterizam alguns usuários, questionando os critérios de avaliação e o impacto em suas contas.

Outro ponto de descontentamento se refere ao crédito que os ciclistas teriam no aplicativo antigo. Com a mudança, o dinheiro foi perdido. A tembici., no entanto, afirma que todos os cadastrados no sistema antigo receberam um e-mail com um código de cadastramento para um mês de passeios gratuitos.

“Passei dois anos com esse serviço e de repente meu cadastro foi cancelado e o valor ficou R$ 10 mais caro”, escreve um dos usuários que, também, apresenta um cálculo para enfatizar que o que vale mais a pena, em custo-benefício – é comprar um bicicleta própria. Em um ano, ele pagaria R$ 240 ao aplicativo, o que seria investido em uma bicicleta usada. “Tô fora”, conclui.

Histórico 

Seguindo exemplo de outras capitais, o BikePoa começou a operar em Porto Alegre em 2012. Com patrocínio do Banco Itaú, a empresa Serttel, focada em mobilidade urbana, foi contratada no ano de lançamento para oferecer o serviço através de um chamamento público — processo em que não há licitação. Assim, o sistema era operado em troca da garantia de manutenção pela Prefeitura.

Em 2015, um processo de licitação foi aberto para a escolha de um novo administrador. Com a mudança de regras, a ganhadora da licitação deveria repassar um percentual do faturamento à prefeitura, que não poderá ser inferior a 10%. A empresa vencedora seria aquela que poderia oferecer o maior percentual de repasse mensal. Além disso, a frota de bicicletas deveria dobrar – de 400 para 800 – e 10 novas estações deveriam ser construídas.

Depois de meses adiando o processo por falta de interessados, no início de outubro do mesmo ano, a Prefeitura suspendeu a licitação. Em caráter emergencial, o contrato com a Serttel foi renovado por 180 dias para que o sistema não fosse desativado. Um novo edital só foi aberto no início de 2016 – e a única empresa interessada fazia parte de uma divisão da Serttel. 

Após a retirada de algumas exigências do poder público, a Samba Transportes Sustentáveis LTDA assumiu o contrato em maio de 2016. O contrato manteve os valores iniciais (R$ 5 por dia e R$ 10 o passe mensal) e as 400 bicicletas em circulação, sem a instalação de novas estações.

Em agosto de 2017, o governo anunciou a troca do sistema de bicicletas e a parceria com a empresa tembici., que também opera em São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco.

 


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