Cidades|z_Areazero
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5 de fevereiro de 2018
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21:37

‘Esse aumento é um assalto’: Trensurb tem protesto no primeiro dia útil da nova tarifa

Por
Sul 21
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Protesto contra o aumento da tarifa do Trensurb na Estação do Mercado, em Porto Alegre, nesta segunda | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Fernanda Canofre

“Aumentaram tudo isso, é um absurdo. Quem paga do bolso, como fica? Eu não sei se vou ficar com serviço, porque os patrões não querem saber, ter que pagar todo esse aumento”, diz a auxiliar de serviços gerais, Vera Regina dos Santos. Moradora de Canoas, ela usa o Trensurb todos os dias, para vir trabalhar na Av. Protásio Alves, em Porto Alegre.

Assim como milhares de usuários que trafegam entre a Capital e a Região Metropolitana, nesta segunda-feira (05), ela passou a pagar R$ 3,30 pela viagem que, até o último sábado, custava R$1,70. O aumento de 94% foi concedido com autorização do governo de Michel Temer (MDB) e anunciado menos de uma semana antes de entrar em validade.

Vera estava entre os milhares de usuários que passaram a pagar mais nesta segunda | Foto: Joana Berwanger/Sul21

No primeiro dia útil da nova tarifa, representantes de entidades, sindicatos, movimentos sociais, partidos políticos e usuários organizaram um ato junto às catracas para protestar contra o aumento.

“É abusivo, de quase 100%, numa tacada só. Ele vai atingir mais de 200 mil pessoas que dependem desse transporte todos os dias. A questão toda é o povo se dar conta do que está acontecendo e se organizar, não por partidos. Transporte é direito, não pode ser tratado como mercadoria”, afirma um integrante do movimento Resistência Popular, apartidário, que preferiu não se identificar.

Segundo o presidente do Sindimetrô, sindicato dos trabalhadores do Trensurb, Luis Henrique Chagas, a notícia surpreendeu até mesmo a categoria. Até o final do ano passado, ele diz que a própria Trensurb falava em corrigir o valor que já estava há anos sem reajuste para R$ 2,50. Voltou com a decisão do próprio governo federal de elevar para R$ 3,30.

“Com certeza é um aumento de alguém que vive em uma sala com ar-condicionado, não utiliza o trem e não ganha um salário mínimo. A notícia para nós é impactante, é totalmente fora de conjuntura”, diz Chagas.

O sindicato aponta ainda que a empresa tem, pelo menos, 15 trens parados há 3 anos e sem manutenção. “Hoje, temos 25 trens velhos, que mantêm o serviço”. Em nenhum momento foi falado se o aumento poderá ser redirecionado como investimento para isso.

Na semana em que foi anunciado o aumento da passagem, a Trensurb divulgou dados de 2017 apontando queda no número de passageiros. Para o sindicato, o aumento que quase dobrou o valor pode impactar ainda mais.

“Nós já tivemos um decréscimo em função da crise, parece que isso só vale para o trabalhador, porque em cima disso ainda aumentam quase 100%. É óbvio que isso vai ter um efeito grande. Isso é preparar a empresa para a privatização. Deixar o preço lá em cima, para quando o empresário assumir, o ônus já ter ficado com o Estado”, avalia.

Fernanda Melchionna está entre os membros do PSOL que assina ação | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Ação popular para reverter

Nesta terça-feira, o PSOL e o Sindimetrô irão protocolar uma ação popular questionando o aumento e os meios que o autorizaram, junto à Justiça Federal. A medida é assinada pela ex-deputada Luciana Genro, pelo deputado Pedro Ruas, pelos vereadores de Porto Alegre Roberto Robaina, Fernanda Melchionna e Alex Fraga, entre outros.

Segundo Fernanda Melchionna, o primeiro argumento é que o aumento está acima da inflação do próprio período. “A inflação foi de 79% e o aumento foi de 94%. Segundo, esse aumento não poderia ter sido concedido, porque desde a lei de mobilidade, quem tem autorização para fazer o aumento da tarifa é o governo estadual e a Metroplan (poder concedente). Esses aumentos, só podem ser feitos a partir de mecanismos de consulta. Nada foi feito”, diz ela.

O aumento teria sido autorizado por meio de um ofício da Trensurb, que foi apresentado ao Ministério do Transporte, tendo por base uma nota técnica do governo federal. Nela, segundo Melchionna, “fica clara a ação orquestrada por algumas empresas da região metropolitana, que querem aumentar o valor do Trensurb aos mesmos patamares do transporte rodoviário”.

“Inclusive, já prevê um aumento para 2019 de R$ 0,90 e um novo reajuste em 2020, segundo a nota técnica do governo federal. Isso é um absurdo”, analisa a vereadora.

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Foto: Joana Berwanger/Sul21
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