Cidades
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5 de setembro de 2017
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18:43

‘A Independência tem muitos passos a dar’: 7 de setembro terá Grito dos Excluídos em Porto Alegre

Por
Sul 21
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Entidades chamam a população a se mobilizar “pacificamente, na defesa da dignidade” diante do “grave e prolongado momento triste vivido no país”.  Foto: Maia Rubim/Sul21

Gregório Mascarenhas

O Grito dos Excluídos – um movimento nacional articulado por igrejas cristãs, movimentos sociais, sindicatos e partidos de esquerda – acontece novamente, em Porto Alegre e em outras cidades brasileiras, neste ano. Em paralelo às atividades oficiais do dia 7 de setembro, a 23ª edição vai “interagir com o desfile da Independência” por conta do que os organizadores caracterizam como ameaça a direitos e avanços democráticos conquistados nas últimas décadas. A direção nacional da CNBB, uma das entidades que participa da organização, chama a população a se mobilizar “pacificamente, na defesa da dignidade” diante do “grave e prolongado momento triste vivido no país”.

Aqui, a programação consiste em uma concentração na Rótula das Cuias, a partir das 9h da quinta-feira, para depois seguir em caminhada pela Avenida Beira Rio até a Ipiranga, local de dispersão do desfile militar. Ao meio-dia, pretende-se realizar um almoço compartilhado na praça Júlio Mesquita, em frente ao Gasômetro, com oficinas, serviços voluntários e trocas.

Entidades organizadoras – entre as quais estão movimentos de catadores, de mulheres, do povo negro, de migrantes, cultura, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra,  do sindicato de servidores de fundações estaduais e da Central Única dos Trabalhadores – realizaram, na manhã desta terça-feira (05), uma coletiva de imprensa na Igreja das Dores, no Centro Histórico, para apresentar o que se pretende e as justificativas do movimento neste ano.

O bispo Adilson Pedro Busin diz que a Igreja das Dores é muito simbólica por sua história, pela “dor de um povo sofredor como foi o povo escravo”. Foto: Maia Rubim/Sul21

Para o bispo Adilson Pedro Busin, trata-se de um espaço necessário “em um momento no qual o povo brasileiro se encontra anestesiado”. Vivemos, diz ele, um momento de “certa desesperança”, para o qual o Grito dos Excluídos é uma oportuna manifestação. “Em um momento de tanta violência e insegurança – não em um sentido social, embora essa também exista – muitos excluídos se somam a tantos outros que já haviam”, diz Busin. O bispo diz que a Igreja das Dores é muito simbólica por sua história, pela “dor de um povo sofredor como foi o povo escravo”, referindo-se à utilização de mão-de-obra de negros escravizados na construção do prédio. “É simbólico que diante de tantas dores do brasileiro, estamos aqui para que sejamos membros dessa busca por mais direitos e participação”, afirma.

O representante do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs no Brasil, Humberto Maiztegui, avalia que as igrejas vêm se manifestando há muito tempo quanto a questões sociais e políticas há muito tempo. “Agora, com o golpe à democracia brasileira, as igrejas têm se manifestado com uma contundência muito grande, inclusive em uma amplitude até surpreendente. Há igrejas que até este momento ficavam caladas, que entendiam que este aspecto da vida política não correspondia à sua missão religiosa, mas estão agora se manifestando”, explica.

Ele diz que há ataques inclusive “à própria natureza” e que em relação à Amazônia, “o bioma mais simbólico para o Brasil e para o mundo”, há possibilidade de aprovação de decretos “para acabar com um patrimônio que não é de um governo, não é de empresários. É de todo o povo brasileiro e é de Deus”. “Este grito é para formar cidadãos. Nós vamos à rua para fazer a pedagogia de Jesus, que não ensinava em templos, chegava no máximo às escadarias”, disse, em referência à localização da coletiva – que seria realizada na escadaria da igreja, mas transferida para a área interna por conta da possibilidade de chuva. “A igreja, com os movimentos sociais, com as pessoas de boa vontade, com quem quer um Brasil e um mundo justos, vai para a rua gritar”, disse.

É a primeira edição do Grito dos Excluídos na qual os coletivos de migrantes fazem parte da organização. Foto: Maia Rubim/Sul21

É a primeira edição do Grito dos Excluídos na qual os coletivos de migrantes fazem parte da organização. Presnor Joseph, haitiano que vive em Porto Alegre, os representou na coletiva. “A população precisa conhecer a realidade do migrante, vê-lo como pessoa, com dignidade, valores, cultura e costumes específicos, e não como mercadoria, objeto a ser usado. Nós migramos porque infelizmente em nossos países faltam oportunidades para termos uma vida digna”, disse. Ele propõe que existam políticas públicas específicas em saúde, ensino, habitação e capacitação profissional para a população migrante, “e exigimos o fim do racismo, da xenofobia e da discriminação”, protestou.

Trata-se, ressaltam os organizadores, de uma marcha pacífica que quer se dirigir às pessoas “de boa vontade” – entre as que estão no desfile oficial – composto sobretudo dos militares – e também ao público do acampamento farroupilha, no Parque Harmonia, nas imediações. “A Independência tem muitos passos a dar”, finalizou o bispo Busin.

Para Claudir Nespolo, da CUT, tempos atuais são de “sacrifício ao Deus Mercado”. Foto: Maia Rubim/Sul21

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