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29 de junho de 2017
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11:35

Vereadores questionam ausência de diálogo com Prefeitura para reabertura do Hospital Parque Belém

Por
Sul 21
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UTI de 20 leitos no Hospital Parque Belém, completamente fechado desde o final de maio, tem equipamentos prontos para uso. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Gregório Mascarenhas

Porto Alegre tem, hoje, mais de 30 pessoas à espera de vagas para tratamento intensivo. O problema, todavia, não se explica somente pela simples falta de leitos em casas de saúde: no Hospital Parque Belém, na zona sul da cidade, existem 20 leitos em uma UTI totalmente equipada e parada há cerca de um ano. Há também 20 vagas na emergência, cuja reforma tem dois anos, mas nunca foi utilizada para tal função. São, no total, 208 leitos hospitalares, e, desses, 151 chegaram a ser utilizados para atendimento na rede pública de saúde. O bloco cirúrgico, disponível para operações de alta densidade tecnológica, existe há dois anos e nunca chegou a ser utilizado. Custou, de acordo com a instituição, cerca de R$ 500 mil.

O hospital, que funcionava parcialmente, apenas com atendimentos na ala psiquiátrica, encerrou totalmente suas atividades no dia 24 de maio, devido a problemas financeiros e a um impasse na contratualização com o Executivo municipal.

Dezenas de pessoas se reuniram no auditório do hospital para acompanhar o lançamento da frente parlamentar pela reabertura da casa. O secretário de saúde do Município, embora tenha confirmado presença, não participou do ato. Foto: Guilherme Santos/Sul21

“Temos aqui a questão mais importante da saúde pública na Capital do Rio Grande do Sul”, disse o deputado estadual Tiago Simon (PMDB). Ele foi um dos participantes, na manhã de quarta-feira (29), do lançamento da Frente Parlamentar em Defesa do Hospital Parque Belém, ocorrida na própria sede da instituição de saúde. Além do parlamentar, participaram vereadores, líderes comunitários e de movimentos sociais, e a mantenedora do hospital. As ausências mais sentidas – e comentadas durante o ato – foram do secretário municipal de Saúde, Erno Harzheim, e do titular da pasta estadual, João Gabbardo dos Reis. Erno, de acordo com a organização do evento, havia inclusive confirmado presença. Gabbardo, informa a assessoria da pasta, não chegou a fazê-lo.

A Secretaria Estadual de Saúde chegou a lançar, na tarde de terça, uma nota informando que os secretários estiveram reunidos para reafirmar uma “parceria estratégica” com foco no Hospital Parque Belém. Eles falaram, de acordo com o texto, em “compromisso de reabertura” via financiamento conjunto entre secretaria municipal e estadual de saúde – que dependeria, entretanto, de um “acordo comercial entre a nova instituição interessada na gestão do hospital” com os atuais mantenedores, eximindo a futura gestão dos passivos financeiros e judiciais.

“Quem é esse parceiro privado?”, questionou o vereador André Carus (PMDB). Ele relatou que o lançamento da frente parlamentar já estava previsto desde o final de abril, ainda antes do fechamento completo do Parque Belém – e que a reunião a portas fechadas entre os dois secretários foi um “desrespeito à comunidade, aos profissionais do hospital e à Câmara”. O vereador Dr.Thiago Duarte (DEM), no mesmo tom, disse que “queremos saber quem é o agente citado pela nota”. O parlamentar, que mediou a mesa, disse que encaminhará uma convocação ao secretário municipal para que ele explique a reunião com Gabbardo, além da realização de uma plenária aberta para que o tema não seja discutido “entre quatro paredes”.  Para Aldacir Oliboni, do PT, o questionamento refere-se à parceria entre prefeitura e governo estadual: “quero saber se o ‘parceiro’ vai ser público ou privado”. Ele falou sobre a criação de um sistema de controle popular para fiscalizar o hospital e que a incorporação do Parque Belém pelo poder público é uma alternativa possível.

Há, no hospital, salas cirúrgicas de alta densidade tecnológica com equipamentos nunca utilizados. Foto: Guilherme Santos/Sul21

A mantenedora diz que “se coloca aberta” e está à disposição para buscar outra entidade para gerir o hospital, inclusive para ceder a gestão. “Equipamos o hospital e não conseguimos que a contratualização com a prefeitura ocorresse”, explicou Luiz Augusto Pereira, presidente da Associação Sanatório Belém. Ele afirmou que só para a emergência seria necessário um custeio de cerca de R$ 600 mil mensais, e, para a UTI – que precisa de pelo menos dois médicos permanentes e dez técnicos de enfermagem – o valor seria, em estimativa, de R$ 400 mil. “O que fechou o Parque Belém foi o financiamento, pois havia acesso, qualidade de instalações e gestão”, disse Pereira, que relatou ter havido inclusive doação de equipamentos ociosos ao posto de saúde da Vila Cruzeiro.

O tom geral das falas, no ato, foi de indignação a respeito da quantidade de leitos e equipamentos parados frente a uma “saúde em Porto Alegre vivendo uma grave crise, com emergências fechadas e Postos de Atendimento com salas lotadas que se transformaram em ‘hospitais clandestinos’”, conforme disse o diretor do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, Jorge Eltz. A solução mais comumente apontada foi a de que a Secretaria Municipal de Saúde assuma a gestão do hospital. “Os equipamentos foram comprados com recursos públicos, a instituição deve, portanto, atender integralmente via Sistema Único de Saúde”, disse Estevão Finger, presidente do Sindicato dos Enfermeiros.

Para Enilson Gambarra, integrante do Conselho Popular da Grande Glória, no sul da Capital, uma das necessidades mais urgentes é a da abertura da emergência no Parque Belém. Ele conta que levou, na noite anterior, sua mãe ao Hospital Vila Nova, no bairro homônimo. “Havia 40 pessoas na frente dela”, relatou, dizendo que foram destinados recursos ao hospital através de emendas do Orçamento Participativo na região.

A Assessoria de Imprensa da Secretaria Municipal de Saúde informou que a ausência do secretário se deveu ao ato se tratar de um “evento político” e que já tem ações efetivas “que não são somente discussão”, referindo-se ao encontro ocorrido ontem entre Erno Harzheim e João Gabbardo dos Reis. O município, diz a secretaria, não tem gerência sobre o Parque Belém, mantido até então por uma entidade privada. A assessoria afirma que o governo municipal tem mantido diálogo desde o início do ano com a gestão do hospital e tem trabalhado junto com a Secretaria Estadual para a reabertura da casa de saúde.

“Equipamos o hospital e não conseguimos que a contratualização com a prefeitura ocorresse”, explicou Luiz Augusto Pereira (segundo da direita para a esquerda), presidente da Associação Sanatório Belém. Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21

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