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4 de março de 2017
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15:12

Política e marchinhas sem preconceito: Bloco da Diversidade desfila pelas ruas da Capital neste domingo

Por
Sul 21
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Política e marchinhas sem preconceito: Bloco da Diversidade desfila pelas ruas da Capital neste domingo
Política e marchinhas sem preconceito: Bloco da Diversidade desfila pelas ruas da Capital neste domingo
Por mais amor e discussões sobre comportamento nasceu o Bloco da Diversidade. (Foto: Divulgação)

Giovana Fleck

“Beijo homem, beijo mulher. Tenho direito de beijar quem eu quiser”, em ritmo de funk, o canto é entoado fervorosamente. Assim, milhares de pessoas se reúnem em torno da bateria do Bloco da Diversidade. “É bonito […] é verdadeiramente bonito”, afirma Matheus de Castro, um dos integrantes da bateria e organizadores do bloco ao se referir às apresentações do grupo.

Em sintonia, os brincantes e foliões se deslocam por ruas nos bairros Centro e Cidade Baixa de Porto Alegre. “Vale, vale tudo. Vale o que vier, vale o que quiser. Também vale dançar homem com homem e mulher com mulher”, parodiam a música de Tim Maia.

“O bloco foi construído de maneira espontânea”, afirma Matheus. Durante a campanha eleitoral de 2014, os organizadores observaram o crescimento de uma onda conservadora e preconceituosa. Militantes de esquerda, eles decidiram combater esse fluxo com “efervescência e festividade”, como classifica o percussionista. “Percebemos que tínhamos e podíamos atuar, enquanto sociedade e indivíduos, para defender direitos através do movimento cultural”, declarou.

Foto: Divulgação/Bloco da Diversidade

O processo de concepção criativa, assim como as ações e iniciativas são organizados coletivamente. As saídas oficiais do bloco ocorrem entre fevereiro e março, porém, através de oficinas e atividades lúdicas ele continua ativo durante o ano inteiro. Matheus narra como, em pouco tempo, o Bloco da Diversidade se estabeleceu como ferramenta de manifestação política. “Descobrimos formas de nos expressarmos com humor e criatividade, sem dar espaço pro desrespeito”. Assim, a adesão da comunidade se mostrou muito representativa; em uma tarde de oficinas, o BD consegue reunir centenas de pessoas – chegando a milhares nas saídas do bloco.

“Ficou Sá Sártorizando, todo mundo percebeu que tá enrolando. Sá Sártorizando. Teu governo é pegadinha de malandro. Pa Pa Parcelando. teu governo é pegadinha de malandro. Todo mundo percebeu que tá enrolando.”

Sátira da marchinha Sassaricando

“Coxinhaço” foi organizado como resposta a manifestações pró-impeachment. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Em resposta à manifestação pelo impeachment de Dilma Rousseff, o Bloco da Diversidade organizou o irônico “Coxinhaço” – que consistia em assar coxas de galinhas em churrasqueiras instaladas no Parque da Redenção. A ação buscava servir como reflexão política e marcar posição ao criticar os “movimentos do outro lado”, como define Matheus.

Qualquer interessado pode participar das atividades. As oficinas são realizadas em parceria com o grupo Areal do Futuro e  procuram ensinar e introduzir novos membros na bateria do bloco. “É, também, a nossa maneira de estarmos abertos a diversidade que queremos representar”, diz Matheus.

De maneira geral, o Bloco da Diversidade busca defender direitos individuais, coletivos e dos trabalhadores. “Mostramos que a cultura está por trás da política e que a política pode ser alegre e divertida”, define o organizador.

Fabielly em apresentação no clube Vitraux. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Eu me sinto lisonjeada”, afirma Fabielly Klimberg, madrinha de bateria do Bloco da Diversidade. Ativista transexual, ela delimita seu papel no bloco como “uma figura chamativa”. “E não é pouca coisa não”, complementa.

Com fantasia verde e prata – enfeitada com pedrarias e plumas – ela irá desfilar no dia 5 de março (domingo), na terceira saída do bloco no Carnaval de Porto Alegre. Intitulado Carnaval da Resistência, o evento também terá apresentações de Valeria Houston, Negra Jaque e da banda Expresso Livre.

“Como madrinha, é a minha figura que representa o empoderamento feminino e a diversidade sexual e de gênero”, reflete Fabielly “Mas, mesmo eu sendo a mais fantasiada, são muitas pessoas por trás de todo o conceito”. Para ela, as paródias e as bandeiras que o bloco levanta geraram uma identificação pessoal muito forte  com o grupo. “Antes do BD, carnaval era sinônimo de músicas preconceituosas. Eu me sentia rejeitada”, conta.

Mesmo buscando e lutando por espaço de expressão para diferentes grupos sociais, o Bloco da Diversidade foi – por boa parte de sua formação – composto, majoritariamente, por homens heterossexuais. “No fundo, é um bloco que não tinha necessidade de lutar pela nossa causa. Mas eles decidiram levantar essa bandeira e tem tido um impacto lindo no nosso entorno”, afirma Fabielly. Segundo afirma a organização, foi nesse último ano que mulheres passaram a compor uma maioria dentro do BD e houve, também, um crescimento expressivo da representatividade LGBT no grupo organizativo.  

Foto: Divulgação/Bloco da Diversidade

Segundo Matheus, o bloco não tem nenhum objetivo imediatista. “Queremos mudar muita coisa – e nos mudar também – mas sabemos que não é de um dia pro outro”. Segundo ele, a maior contribuição do BD foi influenciar o movimento de esquerda local, inserido música e didática de maneira que cria um diálogo mais aberto com a comunidade.

No domingo, o Bloco da Diversidade irá se concentrar às 15h no Largo dos Açorianos. As atrações especiais e a apresentação da bateria do BD começam a partir das 18h. Essa será a última saída do grupo no Carnaval de 2017. “Por isso tem que caprichar”, afirma Fabielly.


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