Débora Fogliatto
Após quatro anos de obras, a Prefeitura anunciou a liberação da trincheira no cruzamento da rua Anita Garibaldi com a avenida Carlos Gomes para carros nesta segunda-feira (26). E, realmente, a abertura da via privilegia os veículos automotores, não incluindo a ciclovia que ativistas argumentam que deveria haver no local. Apesar da liberação, as obras ainda não estão completamente concluídas e algumas alças de acesso, que serão no sentido bairro-centro, não podem ser utilizadas.
Às 18h desta segunda-feira, chegar do Centro à trincheira demorou cerca de 40 minutos. A Anita, em sua maior parte, estava engarrafada, mas ao se aproximar do local recém-liberado, o trânsito fluía melhor. No local, alguns motoristas se confundiam e passavam reto pela trincheira, dando ré e voltando em seguida, atrapalhados pelos cones colocados na rua. Não havia agentes de fiscalização no local no horário em que a reportagem esteve lá.
Em certo momento, uma motorista confusa com qual lado tomar ficou alguns segundos com o carro parado no meio da rua, até se dar conta sobre como seguir na direção da Carlos Gomes. Por enquanto, um dos lados da Anita no entorno da trincheira não está sendo utilizado, embora não esteja bloqueado, o que também atrapalhou os motoristas. Um homem que corria, a pé, decidiu seguir pela trincheira, mesmo sem haver local apropriado para pedestres, e recebeu algumas buzinadas. Outra motorista foi desde a Carlos Gomes na contramão até um dos prédios do entorno, criando transtorno temporário para os que tentavam acessar a avenida.
A forma como as calçadas foram finalizadas também foi motivo de críticas dos passantes e moradoras. Uma moradora reparou que os postes ficaram “no meio” da calçada, impossibilitando a passagem de alguém em cadeira de rodas, por exemplo. Por volta das 18h45, um grupo de ciclistas pendurou uma faixa em um dos postes, questionando: “ruas para quem? Cadê a ciclovia?”.
Segundo o Plano Diretor Cicloviário Integrado (PDCI), a Anita é uma das vias da cidade em que deveria haver uma ciclovia, em toda a sua extensão. Os ciclistas que estiveram no local apontaram que, quando a obra foi realizada, deveria incluir essa modificação na rua. Segundo o Artigo 19 do PDCI, “todos os projetos de construção ou expansão das vias públicas integrantes da Rede Cicloviária Estrutural deverão incluir a implantação do sistema cicloviário previsto, com toda a sinalização horizontal, vertical e semafórica necessária”. Da mesma forma, caso haja a construção de pontes, viadutos ou abertura de túneis, tais obras também deverão ser dotadas de sistemas cicloviários integrados ao projeto.
Para protestar contra o fato de o Plano ter sido ignorado, ciclistas trancaram, por alguns minutos, o acesso à trincheira, utilizando os próprios cones de sinalização. Eles conquistaram apoio de passantes, mas indignação por parte dos motoristas, que queriam seguir pela Anita. “Nós estamos fazendo um protesto pacífico para chamar atenção para o problema”, explicou um dos participantes.
A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), porém, argumenta que esse tipo de obra não prevê ciclovia, a qual deveria ser instalada apenas quando uma via é duplicada ou expandida. No caso da Anita, a rua continua tendo a mesma largura, argumentam, apenas recebendo a trincheira. Embora a via deva receber a construção de uma ciclovia em toda a sua extensão, isso não tem relação com essa obra, afirma a EPTC.
Segundo a Prefeitura, são cerca de 80 mil veículos que passam pelo local por dia, e a obra soluciona “problemas crônicos de engarramento”. Dentre os motivos apontados para o atraso da conclusão, que estava prevista para a Copa do Mundo de 2014, estão uma disputa judicial na desapropriação de uma empresa, com necessidade de nova licitação, além do fato de ter sido encontrada uma rocha no subsolo da via.
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