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9 de julho de 2016
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18:06

Pedal da Inclusão leva pessoas com deficiência visual para um passeio de bicicleta

Por
Sul 21
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Rita (à direita, na frente) pedalou com Mariana, que tem baixa visão | Foto: Arquivo Pessoal
Rita (à direita, na frente) pedalou com Mariana, que tem baixa visão | Foto: Arquivo Pessoal

Débora Fogliatto

A possibilidade de andar de bicicleta pode parecer distante para quem tem pouca ou nenhuma visão, mas se tornará realidade para pelo menos 15 pessoas em Porto Alegre neste domingo (10). O Pedal da Inclusão, que acontece a partir das 14h com saída no Velódromo, contará com 30 voluntários sem deficiência visual, que servirão como “pedaleiros-guias” para os interessados em participar da experiência, em parceria realizada com a Associação de Cegos do Rio Grande do Sul (Acergs).

O Pedal será realizado em bicicletas tandems — de dois lugares — nas quais o voluntário vai no banco da frente, guiando o caminho, e os dois pedalam em conjunto. Elas foram adquiridas a partir de uma ação realizada por Rita Siminovích, Assistente de Graduação da ESPM que participa de pedais como hobby, especialmente fazendo viagens curtas nos finais de semana. O dinheiro para a compra de cinco bicicletas foi arrecadado pela venda de tampinhas de garrafas pet, experiência que Rita adquiriu com o grupo Na’amat, formado por mulheres judias, que realiza trabalhos comunitários.

Por dois anos, ela participou com as voluntárias do Na’amat em Porto Alegre da arrecadação de tampinhas para a compra de equipamentos que beneficiassem alguma instituição: em 2014, ajudaram a Menino Jesus de Praga com um aparelho fisioterápico, e, em 2015, compraram uma máquina de secar roupas para a SOS Casa de Acolhida. Com a experiência adquirida na entidade aliada à vontade de ajudar e à paixão pela bicicleta, Rita criou o Pedal da Inclusão.

A tampinha é vendida a um real o quilo, o que corresponde a uma sacola de supermercado “bem cheia”. “Precisa de muita tampinha pra comprar uma bike, mas, ao mesmo tempo, é uma coisa que sempre vai fora. Então, de certa forma, estamos colaborando também pra reciclagem”, explica Rita. Ela viu, em uma reportagem, a história de empresas do Rio de Janeiro que haviam adquirido tandems para fazer esse tipo de pedal inclusivo e se interessou pelo assunto. “Em função de gostar de ciclismo decidi ir atrás, conversei com o pessoal da Acergs e eles acharam uma ideia fantástica. E começou assim o projeto. Muita gente foi chegando, a Bikeart e a Vila Velô decidiram apoiar, todo mundo se encantou com a proposta, e a gente conseguiu adquirir 5 bikes compradas e uma de doação”, comemora.

Já há 15 interessados em participar, além de 30 voluntários, inscritos no projeto | Foto: Arquivo Pessoal
Já há 15 interessados em participar, além de 30 voluntários, inscritos no projeto | Foto: Arquivo Pessoal

O evento conta com o apoio do Pedal da Luluzinha, Pedal EcoVille, Pedal da Zona Sul e Pedal das Gurias, cujos participantes irão se voluntariar como guias durante a atividade. Além das seis bicicletas que agora serão de propriedade da Acergs, com a divulgação do projeto, outras seis serão emprestadas para serem utilizadas no domingo. Já há 15 pessoas com deficiência visual inscritas para participar, dos quais três têm baixa visão e irão pedalar em bikes individuais, com um guia em uma separada, informando sobre o trajeto e possíveis obstáculos. Os “pedaleiros” voluntários que irão participar da atividade no domingo também realizarão, no sábado (9), uma formação de áudio-descrição, proporcionada pela Acergs.

No último domingo (3), Rita testou o percurso que será realizado no Pedal, contando com amigos e duas pessoas da Acergs. A jornalista Mariana Baierle foi de tandem com Rita, e seu noivo Rafael, que têm baixa visão, foi sozinho em uma bicicleta, acompanhado de um guia. “Sentir o vento no rosto. Pedalar. Cansar. Fazer força para subir lombas. Se desequilibrar. Pedalar mais forte. Ficar com dor nas pernas. Passar ao lado dos carros. Perceber a ciclovia. Sentir a vibração da cidade. Tudo isso pode ser natural para quem tem visão normal e anda de bike. Mas para mim, que jamais imaginava andar de bicicleta na avenida Ipiranga, por exemplo, foi sensacional”, descreveu Mariana em seu blog. Rita conta que, de tanta vontade que Mariana tinha de pedalar, ela própria quase nem precisou fazer força, mas apenas guiar o trajeto.

A ideia, para além da atividade, é que os ciclistas da cidade possam perceber que é possível incluir as pessoas com deficiência visual em suas pedaladas cotidianas. Para isso, seria possível pedir as bicicletas da Acergs emprestadas. Rita já pensa em usar uma delas para ir com Mariana a grupos de pedais, ou passeios nos finais de semana. “A ideia não é só ter esse pedal, mas que os ciclistas que estão por aí façam isso, convidem as pessoas cegas que conhecem para pedalar junto, as coloquem nos nossos programas”, resume a idealizadora.

Inicialmente, o Pedal da Inclusão tinha a intenção de andar apenas pela ciclovia da avenida Ipiranga, mas, com a grande procura, Rita avalia que possivelmente precise ir para as ruas mesmo. Ainda que já haja 15 inscritos, as pessoas que quiserem pedalar podem ir ao Velódromo, a partir das 14h, para participar.


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