Jaqueline Silveira*
Reivindicado há 20 anos pela tribo de atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, o Centro Cultural Terreira da Tribo, na Capital, começa a sair do papel. Na última quarta-feira (8), foi assinada a ordem de serviço pelo prefeito José Fortunati (PDT) para o início da obra. Contudo, o centro, que promete ser um ponto de referência para a cultura não só do bairro Cidade Baixa, mas de Porto Alegre, pode esbarrar na falta de recursos para ser concluído em dezembro de 2017. Isso porque a obra tem garantido R$ 1,4 milhão do Ministério da Cultura, mas serão necessários mais R$ 4,7 milhões dos cofres da Prefeitura, que ainda terá de buscar essas cifras.
“A obra iniciou e espera-se que termine em 18 meses. Esse dinheiro (do Ministério da Cultura) está disponível e a Prefeitura vai atrás de parcerias, de emendas parlamentares”, afirmou o assessor especial para assuntos técnicos do gabinete da Secretaria Municipal de Obras e Viação (Smov), engenheiro João Antônio Pancinha, sobre o restante da verba para a construção. Inicialmente, segundo ele, a obra, prevista para começar na próxima semana pela empresa Frame Engenharia e Telemática, será tocada com o dinheiro federal.
O Centro Cultural Terreira da Tribo será erguido na esquina da Rua João Alfredo com a Avenida Aureliano de Figueiredo Pinto em um terreno doado pela Prefeitura. Como a realização da obra se arrasta há anos, o projeto original, conforme o engenheiro, foi totalmente descartado e elaborado um novo pela equipe da Smov. O local terá três pavimentos, com mezanino, biblioteca, videoteca, foyer, cafeteria, lojas, banheiros, espaço para teatro de rua e estacionamento com 25 vagas. Serão mil e setecentos metros de área construída.
“É um centro cultural completo, todo acessível e com climatização. Vai ser um ponto de referência para a cultura de Porto Alegre”, projeta Pancinha. Depois de concluído, o local será administrado pelo Ói Nóis Aqui Traveiz. “Será uma obra fantástica, um espaço coordenado pelo grupo, mas aberto a todos, de forma plural, democrática, como estão acostumados a trabalhar”, explicou o prefeito Fortunati, durante a assinatura da ordem de serviço.
Um dos fundadores do Ói Nóis Aqui Traveiz, Paulo Flores relembrou que o centro cultural foi uma demanda aprovada no orçamento participativo das edições de 1996, 1997 e 1998. “Foram vários fóruns para discutir a necessidade de um espaço público para as atividades (da tribo). Apesar de ter sido prioridade, faltou vontade política naquele momento”, recordou ele. A tribo de atuadores surgiu no final da ditadura e foi um dos grupos pioneiros no país a levar arte para as ruas. Ao longo do tempo foi crescendo e hoje é um centro de experimentação e pesquisa cênica e uma escola de formação de atores.
Além disso, promove inúmeras oficinas de teatro popular levadas também para cidades da Região Metropolitana. “Fazemos arte pública, para a população, de graça, e por isso precisamos uma sede própria e pública. Começamos a luta em 1996, e chegamos aqui”, argumentou Tânia Farias, outra representante do grupo, durante a assinatura da ordem de serviço.
Sem sede própria, a Tribo Terreira de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz utilizou desde sua criação diversos espaços para fazer as oficinas e ensaiar as peças de teatro. Tudo começou em uma boate reformada pelos próprios integrantes do grupo, localizada na Rua Ramiro Barcelos, e depois em um galpão na Cidade Baixa, quando foi batizado de Terreira da Tribo e transformado no centro de experimentação e pesquisa cênica. No local, permaneceram por 11 anos, seguindo depois para o Bairro Navegantes. Atualmente, a tribo funciona em um prédio no Bairro São Geraldo. “São 38 anos pagando aluguel”, informou Flores.
Com apresentações em países como Argentina, Uruguai, Chile e mais recentemente em Cuba, o Ói Nóis Aqui Traveiz pretende ampliar as atividades hoje desenvolvidas. “Isso tudo numa escala menor, a gente já tem nos espaços que ocupamos”, afirmou um dos fundadores da tribo, sobre, por exemplo, a biblioteca e a videoteca. A obra projetada, segundo Flores, permitirá a instalação de um centro de referência de teatro popular, inclusive com espaço para guardar “o acervo do material do teatro gaúcho.”
Para concluir o tão sonhado centro cultural, a tribo de atuadores, que tem 25 integrantes, sabe que é preciso buscar recursos e o grupo pretende procurar deputados de diferentes partidos para ajudá-los, a exemplo do que ocorreu em 2009, quando conseguiu, por meio de emendas parlamentares, o R$ 1,4 milhão do Ministério da Cultura. “Na época daria (para fazer a obra), mas agora é um novo projeto com um custo bem maior. Certamente, o grupo vai se empenhar para conseguir emendas parlamentares”, comentou Flores, sobre o centro cultural bem mais amplo. “Acredito que é um passo importante, espero que a gente consiga levar a obra até o fim”, finalizou o ator.
Detalhes da obra do centro cultural
Pavimento térreo – 874 metros quadrados
– Foyer e sala de convivência
– Galpão cênico
– Oficina de cenário
– Camarim
– Cafeteria
– Depósito
– Sanitários
– Escadas e elevador
– Subestação/gerador
– Área externa para apresentações
Mezanino – 259 metros quadrados
– Oficina de figurinos
– Biblioteca
– Lavanderia
– Depósito
– Sanitários
– Escadas e elevador
2º pavimento – 353 metros quadrados
– Sala de ensaio
– Sala de aula
– Administrativo
– Espaço multiuso
– Sanitários
– Escadas e elevador
3º pavimento – 216 metros quadrados
– Videoteca
– Sanitários
– Escadas e elevador
*Com informações da assessoria de imprensa da Prefeitura