Débora Fogliatto
Artista especializada em mosaicos, Silvia Marcon ministra oficinas e trabalha com grandes projetos para arquitetos, instalando suas obras em calçadas, murais, piscinas – ou seja, decoração em geral. Ela trabalha profissionalmente com o ofício há cerca de quatro anos, mas foi em novembro de 2014 que começou o projeto que passou a estampar sua arte por diversas ruas da capital gaúcha, em um local de Pelotas e no Rio de Janeiro. As “Mona Lisas” que constrói, cada uma com suas caraterísticas específicas, surgiram a partir da vontade de realizar intervenções urbanas.
Uma oficina em novembro de 2014 na Casa Duplan, onde trabalham grafiteiros e outros artistas envolvidos com arte urbana, foi o ponto de partida das Mona Lisas. Anteriormente, Silvia já havia participado de pequenas intervenções, como coraçõezinhos de lajota em calçadas da Cidade Baixa e bueiros. “Eu já tinha a veia da arte urbana, mas não tinha nada definido. Vi que queria fazer isso e comecei a pensar em figuras emblemáticas, chegando na Mona Lisa. É a obra de arte que tem mais releituras até hoje no mundo, trabalho em cima disso, com a releitura”, relata a artista. No próprio evento, um workshop chamado Paxart, nasceram as duas primeiras Monas.
Em menos de duas semanas, ela foi convidada a ministrar uma oficina no festival Mira, em Pelotas, para onde levou a ideia e instalou três obras, perto da Universidade Federal de Pelotas. De volta à Capital, Silvia foi convidada para uma oficina no Vila Flores, sempre com as Monas, e instalou cinco delas no local. Quando já havia cerca de 30 Mona Lisas instaladas — atualmente, são 60 — uma artista de Buenos Aires veio ao Brasil e perguntou se poderia fazer uma “filial”, colocando obras semelhantes em sua cidade. “Eu vi bem como uma proposta de coletivo, por isso aceitei. E ela fundou um Mosaico Urbano argentino, que já tem 20 Mona Lisas instaladas atualmente”, relatou Sílvia. Ela conta ainda que há a possibilidade de o trabalho se expandir para Portugal, onde tem um aluno residindo.
As obras são instaladas sempre em lugares públicos, especialmente muros e viadutos. “Sou contra botar em lugares tombados também, não faria isso. Então eu primeiro boto olho no local. Essa do Viaduto da Conceição, na Avenida Independência, que foi colocada no domingo (20), ficou bem bom, porque ali é um lugar que não é tombado, não é ‘de ninguém’, é na via pública”, relata Silvia, destacando que as obras também trazem cor e “deixam bonita” a paisagem urbana.
Na última semana, Silvia ministrou um curso de mosaico, ensinando os interessados a fazer suas próprias Mona Lisas, em oito horas/aula. No dia seguinte, é necessário ainda reservar um turno para a instalação das obras nos locais externos. “As ideias vêm de cada pessoa, tem uma inspirada em uma Tartaruga Ninja, outra em Salvador Dalí, tem a Mona ‘Gata” e fizemos uma de caveira. Eu não sou a mais criativa para Mona Lisas, as minhas não são as mais criativas, mas os alunos sempre têm ótimas ideias”, relata.
Além das pequenas Monas espalhadas pelas ruas, Silvia também construiu uma grande Mona Lisa temática para a Ocupação Lanceiros Negros. Exposta na entrada do prédio, na esquina das ruas General Câmara e Andrade Neves, ela foi doada pela artista.
A grande Mona, na verdade, nasceu como projeto particular para o responsável por uma passagem de pedestres também chamada Lanceiros Negros. “Eu e esta minha amiga de Buenos Aires começamos a fazer essa Mona Lisa grande. Quando, de repente, eles deram para trás, a gente já estava na metade do trabalho. Aí pensamos em seguir fazendo. Um pouco depois disso, eu estava subindo para meu ateliê, que é a uma quadra da ocupação, e vejo aquela faixa escrito ‘Lanceiros Negros’”, conta.
A coincidência imediatamente chamou a atenção de Silvia, que entrou no local e conversou com os moradores sobre o assunto. Bem recebida, ela decidiu terminar a obra e doar a Mona Lanceira Negra para a ocupação. “Eles adoraram a ideia e a gente fez no amor, porque, claro, que não teríamos como cobrar deles. Para nós, foi super positivo. Acho que às vezes algumas portas se fecham e outras muito melhores se abrem, e foi o caso desse mural”, afirma Silvia.