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6 de fevereiro de 2016
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17:33

‘Parece que passou um furacão’, diz moradora da ‘rua mais bonita do mundo’

Por
Luís Gomes
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Por Caroline Ferraz/Sul21
Rua Gonçalo de Carvalho foi devastada pelo temporal do último dia 29 | Foto: Caroline Ferraz/Sul21

Luís Eduardo Gomes

Conhecida, ao menos em Porto Alegre, como a “rua mais bonita do mundo”, a Gonçalo de Carvalho foi uma das vias destruídas pelos fortes ventos, que chegaram a quase 120 km/h, do temporal registrado no dia 29 de janeiro. No sábado (30), imagens da devastação, com a rua coberta de galhos e árvores caídas, carros destruídos, muros e cercas danificados, começaram a circular pela internet e causaram comoção.

Passada uma semana deste cenário devastador, grande parte dos galhos e troncos caídos já foram retiradas do local, mas onde antes havia um túnel verde, formado pelas árvores do gênero tipuana localizadas em ambos os lados da rua, o que se vê é uma infinidade de galhos quebrados. Devido aos clarões abertos na copa das árvores, é possível ver o céu, como em qualquer outra rua.

Pedro Proença, morador da Rua Pinheiro Machado, via também localizada no bairro Independência, costuma passear com seu cachorro, Boris, com frequência pela rua Gonçalo de Carvalho. “Vim aqui sábado de manhã. Eu não sou muito velho, mas nunca tinha visto algo assim, foi bem feio. É bem triste”, relata.

Anderson Rodrigues é funcionário de um cursinho pré-vestibular na rua e também conta que se assustou ao chegar ao local no sábado. “Estava destruído, tudo no chão. Essa rua estava tomada de mato. Esava bem feio, parecia ‘The Walking Dead’. Não tinha como andar e não se via nada até o pessoal limpar”, diz, lamentando também o estrago causado nas árvores. “Tem um amigo meu que diz que ficou que nem ‘frango depenado’. Ficou que nem aquele desenho do ‘pica-pau’ quando ele se molha. Mas eu continuo achando ela tri bonita”.

Por Caroline Ferraz/Sul21
Com a queda de inúmeros galhos, túnel verde apresenta da Gonçalo “vazios” | Foto: Caroline Ferraz/Sul21

Morando com o marido há cerca de um ano e meio em um dos prédios da rua, Ana Maria Izolan conta que voltou às pressas do litoral gaúcho no sábado após tomar conhecimento dos estragos causados pelo temporal da noite anterior. “A gente soube pela imprensa que tinha tido um temporal bastante severo e que uma das ruas que tinham sido mais atingidas foi a Gonçalo de Carvalho”, afirma. “A gente encontrou um cenário em que parecia que tinham passado aqueles furacões que a gente vê no exterior. A rua estava completamente tomada pelas árvores, pelos galhos quebrados. Tinha muito carro destruído pela ação da queda dos galhos. Foi muito triste. É bastante doloroso tu ver a nossa impotência”.

Passada a devastação, ela diz que foi um alívio não ter estado na cidade durante o temporal. “Eu me considero com sorte por não estar aqui no momento que aconteceu. Eu acredito que entraria em pânico. Porque diz que o barulho da quebra dos galhos foi ensurdecedor”.

Para o casal de idosos Roque e Maria Luiza, que há 15 anos mora em outro prédio da rua, a impressão era de que a chuva não era tão forte assim. “Eu não me impressiono muito, porque são coisas da vida. O barulho era forte, mas nada que não aconteceu antes”, diz Roque, antes de acrescentar que, quando saiu para rua, viu que a “coisa era bem mais feia”.

“Nunca tinha visto nada parecido. Sempre considerei essas árvores muito fortes, porque elas vão para lá e para cá”, diz Roque. “Os galhos dançam”, complementa Maria Luiza. “Mas tem um limite e chegou no limite de quebrar os galhos”, acrescenta ainda marido.

Foto: Milton Ribeiro/Sul21
Gonçalo de Carvalho no último sábado, antes de área ser limpa pelo DMLU | Foto: Milton Ribeiro/Sul21

Em razão do grande número de árvores partidas e de galhos quebrados, o túnel de árvores agora apresenta diversos buracos. Oficialmente, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam) registrou a queda de três árvores. Porém, a pasta não contabiliza quantas árvores foram danificadas e tiveram galhos quebrados no temporal. Devido à queda de grandes galhos, a Smam estima que a rua demore um bom tempo a ser como era antes do temporal, mas diz que não há como precisar o tempo exato.

Além de perder um pouco da beleza da rua, a queda de árvores também trouxe alterações para a rotina dos moradores. “A gente mora no oitavo andar. Normalmente ficávamos bastante isolados de sons, principalmente. Agora uma coisa que a gente notou bastante é que consegue ouvir bastante o som da rua. Claro, a visibilidade nem se fala. Antes a gente não enxergava os carros estacionados”, diz a moradora Ana Maria Izolan.

Moradores reclamam de falta de podas

Se o lamento pelo os estragos causados às árvores da Gonçalo de Carvalho são compartilhados por moradores e frequentadores da rua, por outro lado também é compartilhada a preocupação com os riscos da falta de poda e as críticas pelo o que eles consideram falta de cuidado com as vegetação.

“Felizmente ficou bastante coisa de pé. Mas eu, pelo menos, me preocupo quando a gente passeia por aqui. Não sei que tipo de manutenção que é feita. E daqui um pouco não precisa nem um temporal para uma delas cair em cima de carros, de pessoas”, diz Pedro Proença.

04/02/2016 - PORTO ALEGRE, RS - Rua Gonçalo de Carvalho, eleita a mais bonita do mundo em votação online, perdeu parte da cobertura do túnel verde com o temporal. Foto: Caroline Ferraz/Sul21
Pedro Proença diz que teme a queda de galhos ao passear pela rua | Foto: Caroline Ferraz/Sul21

Segundo Marli Souza, que há oito anos trabalha como zeladora de um prédio na rua, os moradores nunca recebem da prefeitura permissão para podar as árvores. “Nessas árvores não se pode mexer, não pode podar, mas as pessoas ficam correndo o risco”, diz.

Roque lembra que, há cerca de um ano, muitas árvores foram marcadas por funcionários da prefeitura com um sinal amarelo, o que indicaria que deveriam ser podadas ou retirados. Mas, passado esse tempo, ele diz que nenhuma ação tinha sido tomada.

A Smam, órgão responsável pela poda de árvores em vias públicas, diz que realiza permanentemente podas de galhos secos, de galhos em conflito com edificações e desobstrução de luminárias na Gonçalo de Carvalho e que o manejo das árvores visa preservar a beleza do local, que é considerado patrimônio histórico, cultural e ambiental de Porto Alegre. A secretaria também diz que nenhuma das árvores que caíram estava em condições ruins ou marcada para ser removida.

Anderson, funcionário do cursinho, sugere que a Smam deveria liberar a poda das árvores. “Eu até conversei com um pessoal se não teria como evitar que esse tipo de coisa acontecesse liberando a poda. Em qualquer outro lugar do mundo eu acho que eles liberam a poda para evitar ou pelo menos para reduzir o tipo de acidente e o caos que se transformou. Não ter árvores seria horrível, a rua é tri bonita, mas não ter um cuidado urbano, planejamento, também é ruim”, afirma.

Confira mais fotos: 

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