Débora Fogliatto
Há exatos cinco anos, no dia 25 de fevereiro de 2011, cerca de 150 ciclistas pedalavam pela região central de Porto Alegre, quando foram atropelados na esquina das ruas José do Patrocínio e Luiz Afonso. Eles eram ligados ao Massa Crítica, movimento que pedala pelas principais ruas da cidade, sempre nas sextas-feiras à noite, e foram atingidos por um Golf preto, que acelerou na direção do grupo ferindo cerca de 15 pessoas. Até hoje, o responsável pelo atropelamento, o bancário José Ricardo Neis, não foi punido.
Para protestar contra a demora em julgar Neis, todos os anos ciclistas da cidade realizam atos lembrando o caso e cobrando a resposta da Justiça. Ele é acusado de 11 tentativas de homicídio, mas ainda não há uma data marcada para seu julgamento. Este ano, durante toda a semana de 22 a 26 de fevereiro, ciclistas realizaram protestos de cinco minutos na esquina em que ocorreu o atropelamento, em atos intitulados “Cinco Dias por Cinco Anos”.
Nesta quinta-feira (25), a Mobicidade — Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta — também realizou um evento no Largo dos Açorianos, onde será a nova sede da Cidade da Bicicleta, para pedir punição pelo crime e refletir sobre transporte e os rumos da cidade. O ato contou com apresentações do Turucutá, do Conjunto Bluegrass Portoalegrense e do cantor Valentin.
Em ritmo de festa, o evento teve como objetivo ser um “ato de alegria, mas em repúdio a esta triste realidade”, conforme definiu Daniel Silva, integrante da Mobicidade e do Coletivo Cidade da Bicicleta, que organizaram o ato. Todos os anos, enquanto não houver julgamento — e possivelmente mesmo depois disso –, os ciclistas de Porto Alegre lembrarão a data, destacou ele.
Embora ressalte não acreditar no atual sistema carcerário, Daniel aponta a importância simbólica e social de haver punição para crimes no trânsito. “Achamos uma afronta um cidadão branco, de classe média, com todos os seus privilégios, nem ter sido julgado, em uma sociedade que discute a redução de maioridade penal, em que a juventude negra é dizimada, sem receber esse mesmo tratamento. Então também é um protesto por isso”, afirmou.
Mesmo com a indignação que causou, o atropelamento também serviu para fomentar o ciclismo e criar iniciativas de militância e identidade entre os que usam este meio de transporte. Foi após o episódio que surgiu o primeiro Fórum Mundial da Bicicleta, que neste ano será realizado no Chile, após duas vezes ter acontecido em Porto Alegre, uma em Curitiba e uma na Colômbia. “Não vou dizer que foi positivo [o atropelamento], mas impulsionou muita coisa”, reflete.
Para finalizar a semana, nesta sexta-feira (26) ocorre o último protesto de cinco minutos na esquina onde aconteceu o crime e, em seguida, a Massa Crítica realiza sua pedalada pelas ruas da cidade, a partir das 19h30. O encontro será no Largo Zumbi dos Palmares. Paralelamente, em Montevidéu (Uruguai) e Salta (Argentina), também estarão acontecendo pedaladas para criticar a impunidade dos crimes de trânsito.
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