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4 de março de 2015
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11:07

Bloco de Luta percorre longo trajeto em protesto contra aumento da passagem

Por
Sul 21
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Protesto iniciou no começo da noite na frente da Carris e percorreu boa parte da Avenida Ipiranga|Foto Alina Souza/Sul 21
Protesto iniciou no começo da noite de terça-feira na frente da Carris e percorreu boa parte da Avenida Ipiranga|Foto Alina Souza/Sul 21

Jaqueline Silveira

O Bloco de Luta pelo Transporte Público fez na noite de terça-feira (3) mais um protesto contra o aumento da passagem na Capital e, ao mesmo tempo, o trajeto mais longo desde que iniciou as manifestações em 2013. O ato começou por volta das 18h em frente à empresa pública Carris, localizada na Rua Albion, e terminou às 22h10min, na Avenida João Pessoa, próximo ao Parque da Redenção, depois de percorrer boa parte da Avenida Ipiranga. Desde o dia 22 de fevereiro, a tarifa é R$ 3,25.

Aos poucos, os manifestantes foram se concentrando em frente a Carris com faixas com frases como “A periferia não se cala” e “Contra o Racismo Institucional e pela Demarcação para Quilombolas e Indígenas.” “A gente defende o transporte 100% público”, explicou Oro Mendes, integrante da comissão de comunicação do bloco, sobre o ato ser realizado em frente à empresa.

Além disso, o jovem esclareceu que o grupo decidiu descentralizar as manifestações em “solidariedade à periferia”, referindo, especialmente, aos moradores da Vila Cachorro Sentado, que no último protesto, terça-feira (24), foram reprimidos com violência por parte da Brigada Militar por interromperem parte da Ipiranga. “Sempre fazemos (atos) no Centro para dar uma mudada e dialogar com a periferia”, justificou Mendes, sobre a alteração do local das manifestações.

Alguns rodoviários, como delegado sindical da Carris, Luis Afonso Martins, integraram a manifestação|Foto: Alina Souza/Sul 21
Alguns rodoviários, como delegado sindical da Carris, Luis Afonso Martins, integraram a manifestação|Foto: Alina Souza/Sul 21

Apoio dos rodoviários

O Bloco de Luta ganhou o apoio de rodoviários que são oposição à atual direção do sindicato da categoria. Motorista e delegado sindical da Carris, Luis Afonso Martins disse que se uniram ao protesto para “denunciar o sucateamento” da empresa pública e contra a postura da Brigada em relação aos moradores da Cachorro Sentado. “Não podemos concordar com essa violência desproporcional”, argumentou o sindicalista.

Sobre a Carris, ele afirmou que os ônibus estão sucateados e que, por esse motivo, em alguns horários não há coletivo para “sair para rua”, ou, então, os motoristas e cobradores permanecem na garagem porque o carro está com problemas mecânicos. Ele também destacou que a participação no ato serve para a categoria mostrar à sociedade que não é responsável pelo reajuste da tarifa. “Queremos quebrar com aquele paradigma que o rodoviário é o vilã do aumento da passagem”, completou Martins.

Manifestantes cantam no trajeto

Enquanto o ato ocorria, viaturas da Brigada ficaram em ruas dos arredores da Carris. Poucos policiais estavam bem próximos. Já na entrada da empresa, integrantes da Guarda Municipal faziam a segurança – funcionários entravam e saiam normalmente. Os manifestantes ficaram em frente a Carris por mais de duas horas, tempo ocupado com a música do rapper Front LR com críticas à violência da polícia e ao abandono da periferia. Também líderes do bloco e dos rodoviários foram ao microfone do carro de som conclamar o público a lutar contra o aumento da passagem. Além disso, foram entoadas frases como: “Vem, vem , vem pra rua, vem contra o aumento.”

Depois, os cerca de 200 manifestantes, entre eles alguns encapuzados, saíram em caminhada em direção à Avenida Ipiranga, entoando ao longo do trajeto cantos como “A luta não se reprime, protesto não é crime”, “Mais um aumento, essa cidade vai parar”, e “Trabalhador não é otário, esse aumento vai para o bolso do empresário”, acompanhados de pandeiro e bateria. No acesso à Ipiranga, o trânsito fechou no sentido Centro/bairro e o grupo, que tinha algumas crianças também acompanhando, gritou palavras de ordem. Em seguida, os manifestantes passaram para outra via que ficou fechada ao longo do protesto. Em frente à Pontifícia Universidade Católica (PUC), os manifestantes pararam por alguns minutos e chegaram até sentar no chão. “Quem não pula, quer aumento”, gritaram eles, agitando-se.

A exemplo de outros protestos, policiais protegeram estabelecimentos comerciais|Foto: Alina Souza/Sul 21
A exemplo de outros protestos, policiais protegeram estabelecimentos comerciais|Foto: Alina Souza/Sul 21

A polícia acompanhou o protesto à distância, enquanto os agentes da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) iam fechando as ruas à medida que o grupo de aproximava e comunicando os desvios dos ônibus. No entanto, em frente às concessionárias de carros, como ocorreu em outros protestos, o batalhão de choque fez a proteção, bem como no MacDonalds. Ao passarem pelos policiais, os manifestantes gritavam “Espancar trabalhador para ter o que comer, que vergonha, que vergonha deve ser” ou “Como é trabalhar sem horas extras, o Sartori cortou as horas”, numa referências aos cortes de despesas feitos pelo governo José Ivo Sartori.

Manifestantes pararam na Ipiranga em solidariedade aos moradores da Vila Cachorro Sentado, que teriam sidos reprimidos pela polícia na manifestação anterior|Foto: Alina Souza/Sul 21
Manifestantes percorreram boa parte da Ipiranga e se solidarizaram com os moradores da Vila Cachorro Sentado, que teriam sidos reprimidos pela polícia na manifestação anterior|Foto: Alina Souza/Sul 21

Solidariedade com a Vila Cachorro Sentado

Em frente à vila Cachorro Sentado ou São Pedro, como também é conhecida, os manifestantes permaneceram por cerca de 30 minutos. Moradores que acompanhavam do outro lado da Ipiranga foram conclamados a se juntar ao protesto, alguns se integraram ao ato. Muitas palavras de solidariedade e de incentivo à comunidade foram entoadas: “São Pedro não se entrega, resiste, resiste!  Enquanto permaneceram no local,  os dois sentidos da Avenida Ipiranga ficaram fechados.

À medida que o trajeto avançava, o número de manifestantes reduzia pelo cansaço e distância. Na frente, os líderes ditavam o ritmo, quando era para apressar e diminuir o passo. Pediam para todos caminharem próximos. Na passagem pelo ginásio da Brigada Militar, um trio encapuzado chegou a arremessar um pedaço de taquara e foi logo recriminado pelos líderes do bloco, ocorrendo um rápido bate-boca.

Ao final, depois de quase cinco quilômetros de caminhada e antes da dispersão, os líderes conclamaram os demais manifestantes para os próximos atos. “Valeu, galera”, agradeceu um deles, sob aplausos de todos. A próxima reunião do bloco ocorre às 18h30 da próxima quinta-feira (5) para definir as próximas ações.

Licitação do transporte sai em maio

Também na terça-feira (3), a prefeitura anunciou que o terceiro edital de licitação para o transporte público de Porto Alegre será lançado no dia 6 de maio. Nos dois processos licitatórios anteriores não houve empresa interessada e a EPTC foi obrigada a lançar novo edital. O diretor-presidente EPTC, Vanderlei Cappellari, afirmou na terça que essa é a “última tentativa”. Caso não tenha consórcios interessados em operar o transporte da Capital, a Carris deverá assumir o serviço.

“Essa iniciativa deveria ter sido tomada a primeira vez (do lançamento do edital), o que faltou foi coragem”, avaliou o delegado sindical da Carris, Luis Afonso Martins, enfatizando que chegou a sugerir a Cappellari a operacionalização do serviço só pela empresa pública. “A Carris já deveria ter assumido”, acrescentou ele. Questionado se o sucateamento da frota da empresa denunciada por ele próprio não inviabilizaria a Carris assumir o serviço, Martins afirmou que isso só ocorreu, justamente, para “favorecer a iniciativa privada”, referindo-se aos empresários do transporte da Capital.

Confira mais fotos do protesto:

Foto: Alina Souza/Sul21
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