Cidades
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18 de junho de 2014
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21:37

Forte aparato policial impede manifestação contra a Copa em Porto Alegre

Por
Sul 21
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 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Manifestantes não conseguiram romper barreiras montadas pelos brigadianos | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Nícolas Pasinato

Policiais reprimiram com bombas de efeito moral protesto nesta quarta-feira (18) contra a Copa do Mundo em Porto Alegre. Um forte aparato policial foi preparado para acompanhar a manifestação, que teve início ainda durante a manhã, na Praça Argentina, localizada na avenida João Pessoa, próximo à Santa Casa. As bombas foram lançadas no início da marcha, por volta das 13h, quando manifestantes se dirigiam ao centro da cidade, em direção à avenida Salgado Filho, sem nenhum gesto de violência por parte dos ativistas.

A mobilização começou por volta das 11h, na praça Argentina. Aos poucos, a praça passou a ser preenchida por manifestantes e por volta das 13 horas, quando o número de pessoas chegava a cerca de cem, eles decidiram dar início à marcha.  Os ativistas carregavam alguns instrumentos musicais, faixas e bandeiras. Na frente do movimento que se preparava para sair, foi estendida uma faixa com os dizeres  “Copa sem povo, estamos na rua de novo”, assinada pelo Bloco de Luta. Além disso, um carro com caixa de som estava preparado para acompanhar os ativistas.

 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21

No início da caminhada, o grito mais cantado era:  “E no Beira Rio, enquanto a bola rola, não tem saúde, não tem transporte, não tem escola”. Após o lançamento das bombas pelos policiais, os gritos passaram a ser contra os brigadianos: “Que vergonha deve ser espancar trabalhador para ter o que comer”, bradavam os manifestantes, que recuaram após os disparos. Os estilhaços da bomba atingiram cinco manifestantes do Bloco e três jornalistas, causando ferimentos. Os jornalistas Daniel Favero, do Portal Terra, e Cristiano Soares, da Rádio Guaíba, e o fotógrafo Alexandre Cavalcanti foram atendidos no Pronto Socorro.

Jornalista Daniel Favero, do portal Terra, teve o braço perfurado por estilhaço das bombas de efeito moral lançadas pela Brigada Militar | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Jornalista Daniel Favero, do portal Terra, teve o braço perfurado por estilhaço das bombas de efeito moral lançadas pela Brigada Militar | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Os brigadianos cercaram os manifestantes em praticamente todos os sentidos:  em frente à praça Raul Pilla, próximo à Santa Casa, foi colocado cordão de isolamento. O mesmo foi feito no sentido contrário da João Pessoa, em direção à Redenção. A  avenida Osvaldo Aranha e a rua André da Rocha também foram bloqueadas.

A ação policial gerou indignação entre os manifestantes e pavor em algumas das pessoas que passavam no local. Uma senhora passou mal e desmaiou mais de uma vez no meio do tumulto. Ela estava vindo de lotação para uma faxina no centro. Com os lançamentos das bombas, teve uma crise de pânico.

“Eles vão me pegar, eles vão me pegar. Estou indo trabalhar, não tenho nada a ver com isso”, repetia.  Um estudante a socorreu e a levou para o seu apartamento com o apoio de outras pessoas, pois ela desmaiou três vezes no caminho.  “Tivemos que nos escorar pela praça Argentina pra conseguir furar o bloqueio policial. Ela está bem. Foi medicada e já está em casa”, relatou, posteriormente, o estudante de psicologia Ramiro Catelan.

Depois da confusão, os ativistas passaram a gritar: “Oh Dilma, que papelão, Copa da Fifa é só polícia e repressão!” e “Não tem dinheiro para educação, mas tem dinheiro para armar a repressão”.

 | Foto: Carlos Latuff/Sul21
Ativistas socorrem senhora que passou mal durante  o protesto| Foto: Carlos Latuff/Sul21

Por volta das 13h30, decidiram seguir pelo único caminho onde não havia barreira policial, na rua Avaí. “Faríamos um diálogo com a população, mas nos trancaram em todos os sentidos. Não somos herói. Não podemos enfrentar essa ditadura. Vamos nos dirigir com calma até o Largo Zumbi dos Palmares para encerrar o ato”, anunciou uma das manifestantes pelo microfone. Ela ainda orientou os ativistas para que após o ato evitassem sair sozinhos e que ficassem alertas para qualquer tipo de prisão e repressão policial.

A caminhada até o Largo Zumbi dos Palmares foi acompanhada de muito perto por policiais, que cercaram os manifestante ao longo de todo o trajeto. Todas as ruas que faziam esquina com a rua Avaí e, posteriormente, na continuação da avenida Loureiro da Silva, contavam com uma barreira policial.

Uma tropa mascarada fazia o acompanhamento mais próximo do grupo, seguida pela cavalaria e pelo pelotão de choque. O efetivo também contou com o apoio de motos, viaturas, camburões e um helicóptero. Os ativistas encerraram o ato na altura da rua José do Patrocínio, perto das 14h, no Largo Zumbi dos Palmares.

No final, uma das manifestantes reforçou o pedido de precaução às pessoas, que estavam no protesto, ao se deslocarem para suas casas e prometeu uma nova manifestação na semana que vem.

A Secretaria de Segurança Pública do Estado publicou em seu site nota sobre o protesto, conforme segue na íntegra:

“O protesto contra a Copa do Mundo, em Porto Alegre, reuniu menos de cem participantes, por volta das 13h dessa quarta-feira (18), e foi de curta duração. Na Avenida Salgado Filho, próximo a Av. João Pessoa, no Centro, a Brigada Militar estendeu uma fita e posicionou-se atrás, a uma distância de 40metros. O objetivo foi garantir a segurança dos manifestantes, de quem estava no trânsito e dos pedestres.

Integrantes do protesto ultrapassaram rapidamente esse limite, rompendo a fita e avançando em direção à tropa. Para contê-los, foram lançadas quatro granadas de efeito moral pela Brigada Militar. Não foram usadas bombas de gás lacrimogênio para não atingir um número maior de pessoas que estavam nas proximidades.

Dois jornalistas, que estavam entre os manifestantes que atravessaram a linha, acabaram sendo atingidos por estilhaços das granadas. Um teve um corte na mão e outro teve lesões no braço e na barriga. Ambos foram atendidos na ambulância da Brigada Militar e liberados. A Secretaria da Segurança Pública entrou em contato com os veículos em que os profissionais trabalham, onde informaram que os dois passam bem.

O grupo seguiu pela Avenida Loureiro da Silva e se dispersou no Largo Zumbi dos Palmares. Não houve atos de vandalismo até o momento.”

Veja mais fotos:

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