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28 de março de 2014
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21:25

Greves de profissionais da saúde em Porto Alegre seguem por tempo indeterminado

Por
Sul 21
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Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Servidores do Hospital de Clínicas permaneceram na entrada do hospital protestando durante esta sexta-feira | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Débora Fogliatto

Servidores de saúde de seis hospitais de Porto Alegre iniciaram um movimento de paralisação de suas atividades entre quarta (26) e quinta-feira (27) desta semana , e quatro permaneceram sem trabalhar durante esta sexta-feira (28). No Grupo Hospitalar Conceição (GHC), administrado pelo governo federal, a greve acontece por tempo indeterminado até que a categoria consiga negociar com a patronal. O GHC é composto pelos hospitais Conceição, Cristo Redentor e Fêmina.

Já nos hospitais Pronto Socorro (HPS) e Materno Infantil Presidente Vargas (HMIPV), ambos geridos pela prefeitura, a paralisação foi encerrada nesta sexta pela manhã e seguida de uma assembleia do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (SIMPA). Os servidores optaram pela manutenção do estado de greve. Isso significa que a assembleia geral da categoria, que será realizada no próximo dia 3, pode decidir por entrar em paralisação por tempo indeterminado. Os trabalhadores do Hospital de Clínicas – administrado pelo governo federal – estão mobilizados desde quinta-feira até às 19h desta sexta.

Hospitais Municipais

Nos hospitais municipais, as reivindicações de data-base e dissídio serão definidas durante a assembleia geral, mas Raul Giacobone, da direção do SIMPA, afirma que a categoria pede reajuste no valor das perdas acumuladas durante os anos somadas à inflação. “Ontem e hoje paralisamos por nomeação de mais trabalhadores, por condições de trabalho adequadas”, explicou. Além disso, ele comentou que está havendo uma perspectiva de aumento da carga horária e um processo de redução do índice de insalubridade por parte da prefeitura.

Os atendimentos de emergência não foram paralisados, mas houve mobilização de servidores nos postos da Vila Bom Jesus e Cruzeiro do Sul, assim como no HPS. De acordo com Giacoboni, o índice de atendimento diminuiu 60% nestes locais. “Isso também demonstra a fragilidade do atendimento nas unidades básicas. O que não é urgência e emergência é para ser atendido nas UBS. Como elas estão sucateadas, as pessoas não conseguem realizar sua consulta ali e se dirigem para os hospitais”, pondera.

A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) quis se manifestar apenas por meio de uma nota divulgada em seu site, em que informou que “que todos os serviços de urgência e emergência estão mantidos” durante quinta e sexta-feira. Segundo a SMS, nos pronto-atendimentos da Lomba do Pinheiro e Restinga não houve nenhuma interrupção. O SIMPA disse ainda que integrantes da Comissão de Mobilização participaram de reuniões com o governo municipal, mas nenhuma sinalização de avanço nas reivindicações da categoria foi apresentada.

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No HPS, estado de greve foi declarado, mas paralisação temporária terminou | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

GHC: greve por tempo indeterminado

O gerente de Recursos Humanos do GHC, José Pedro da Luz, reconhece que as paralisações estão afetando os atendimentos. “Ontem, de 37 cirurgias agendadas para serem feitas no Conceição, 27 foram canceladas por falta de pessoal. A greve afeta todos os setores”, admitiu Ele informou que muitas consultas foram desmarcadas e, apesar de o hospital estar aberto, as pessoas não conseguem ter acesso devido à falta de pessoal. “Isso está afetando muitas pessoas que não estão podendo consultar. Um hospital que é 100% SUS e que é 24 horas, isso tem uma repercussão imensa na saúde pública”, lamentou.

Os trabalhadores do GHC afirmaram que a diretoria não os deu nenhuma resposta. “Eles são responsáveis por todo esse tumulto, eles estão devendo para nós uma resposta”, afirmou Roberto Carlos de Oliveira, funcionário do Cristo Redentor e diretor do sindicato dos chefes de segurança do trabalho. Os servidores do GHC reivindicam plano de saúde, reajuste de 4%, aumento do vale-alimentação e o fim do que consideram um “sucateamento geral” dos hospitais, com falta de materiais e estrutura. Eles garantem, porém, que pelo menos 30% dos trabalhadores continuam atendendo.

A greve do grupo afeta os hospitais Conceição, Fêmina e Cristo Redentor, além da UPA Moacyr Scliar e das 12 unidades básicas do Serviço de Saúde Comunitária. O gerente José Pedro não considera as reivindicações pertinentes. “O Conceição é o hospital que tem a maior média salarial entre os dez maiores hospitais de Porto Alegre. Então essa greve não tem motivo”, considera. Ele também explicou que no vale-alimentação os trabalhadores estão pedindo equiparação com o Hospital de Clínicas. Ele assegurou que “todos os acordos estão sendo cumpridos e as demais pautas estão sendo discutidas”.

Os servidores haviam realizado paralisações de 12 horas nos dias 11 e 20 de março e, sem conseguirem negociar com a direção, optaram por entrar em greve indeterminada.

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Os trabalhadores esperam conversar com a patronal ainda nesta sexta-feira | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Hospital de Clínicas: paralisação até as 19h

No Hospital de Clínicas, os servidores se mobilizaram desde as 7h desta quinta-feira (27), e pretendem encerrar o movimento às 19h desta sexta. Eles realizaram vigília na frente do hospital durante a paralisação e, segundo a assessoria de imprensa do Sindicato dos Hospitais de Porto Alegre (Sindihospa), devem ser recebidos ainda na tarde desta sexta-feira pela diretoria.

Os trabalhadores pedem 21.87% de aumento de salário, 14,65% de custo de vida baseado em estudo Dieese, enquanto a patronal está oferecendo 0.78% de aumento real. Segundo Rudinei Ribeiro da Silva, vice-presidente do Sindisaúde/RS, a categoria poderia aderir a greve por tempo indeterminado se não houvesse acordo com a patronal ainda nesta sexta. Ele explicou que os trabalhadores estão se revezando para trabalhar para “não deixar a população desassistida”, e que parte da população parece estar apoiando o movimento, enquanto outros pacientes ficam “chateados por não serem atendidos”. “Tem pessoas que vão ali e dizem que é assim mesmo e que sempre foram muito bem atendidos. Isso é muito gratificante”, animou-se.

Segundo a assessoria de imprensa do Clínicas, nesta quinta-feira, quase metade das consultas marcadas no ambulatório não foram atendidas. Das 1261, apenas 622 aconteceram, enquanto o índice normal de faltas é de 10% a 15%. Na fisiatria, das 77 pessoas agendadas, 60 foram atendidas. Já a emergência já estava superlotada, portanto não foi afetada da mesma forma pela paralisação.

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Trabalhadores do Hospital Clínicas fazem vigília para conversar com a direção do hospital | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

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