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24 de novembro de 2016
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20:52

‘Foi traumático’, diz Ricardo Neis ao descrever momento em que atropelou ciclistas

Por
Sul 21
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‘Foi traumático’, diz Ricardo Neis ao descrever momento em que atropelou ciclistas
‘Foi traumático’, diz Ricardo Neis ao descrever momento em que atropelou ciclistas
O réu (de costas), sustentou que se sentiu ameaçado pelos ciclistas e queria proteger o filho, que estava com ele no carro | Foto: Cristine Fogliati
O réu (de costas), sustentou que se sentiu ameaçado pelos ciclistas
e queria proteger o filho, que estava com ele no carro
| Foto: Cristine Fogliati

Da Redação*

Em depoimento nesta quinta-feira (24), segundo dia de júri popular, o bancário Ricardo Neis, que responde por 11 tentativas de homicídio e cinco casos de lesão corporal dolosa, deu sua versão sobre a noite em que atropelou ciclistas que participavam de um passeio convocado pela Massa Crítica, em 25 de fevereiro de 2011, na Cidade Bixa. Neis  começou a falar às 9h30 e relatou, entre outras coisas, uma série de detalhes pessoais, como fato de que, na época, havia conseguido uma remoção para Recife. Ele também voltou a dizer que se sentiu ameaçado pelos ciclistas e chegou a temer “ser linchado”.

Ele contou aos jurados que naquele dia saiu do trabalho, pegou comida em um restaurante para ele e o filho que estava passando a semana com ele. “Almoçamos, eu dormi um pouco, estava descansado, sem ódio de ninguém. Saí de casa para levar o meu filho na casa da mãe dele, no Partenon”. A partir deste momento, Ricardo Neis detalhou como teria sido o encontro com os ciclistas da Massa Crítica. “Quando chegamos na José do Patrocínio com a Perimetral, estávamos à esquerda. Cruzei a Perimetral e o pessoal de bicicleta estava saindo do largo Zumbi dos Palmares. A minha pista estava livre, mas um ciclista andava mais rápido e cruzou da direita até a minha pista e fechou o meu carro. Houve um pequeno choque, felizmente, sem gravidade, no pedal da bicicleta.”

O bancário disse que os outros ciclistas foram dar apoio ao colega e cercaram o carro e começaram a bater no veículo de forma violenta e ostensiva. “Já estava apavorado e eles protestavam muito. Baixei o vidro e disse: tudo bem? Estou vendo que é um protesto, mas não precisa fazer desta maneira porque a rua é ampla e tem lugar pra todos.” Depois disso, o réu afirmou que começou a andar devagar com o carro, mesmo cercado de ciclistas, que, segundo ele, continuavam batendo no veículo. “Parecia um ‘caveirão’, uma panela de pressão prestes a explodir.”

O bancário disse que não conseguiu entrar em nenhuma das ruas que atravessavam a José do Patrocínio porque estava cercado e quando estava se aproximando da rua Luiz Afonso, alguns ciclistas teriam liberado a frente e aberto a passagem. O motorista disse que ultrapassou alguns deles neste momento, mas viu que um rapaz se aproximou e com o guidão da bicicleta quebrou o espelho do carro. “Este gesto foi o estopim para os outros virem e começarem a bater de novo. Não tinha condições de ficar ali, tinha medo de ser linchado e fui procurando caminho.”

Ao narrar o momento do atropelamento, Ricardo Neis afirmou: “Foi traumático! Confesso que não achava que tinha tantos pela frente. Havia 2,3 pessoas no capô. Se eu parasse ia passar em cima deles. Algumas bicicletas ficaram presas no carro e para me livrar delas dei um leve ‘beliscão’ no freio.”

Ele seguiu o depoimento dizendo o que fez na sequência. “A primeira coisa que pensei foi largar meu filho na casa da mãe dele, mesmo com o carro ‘capenga’. Fiz um caminho diferente, entramos na garagem desesperados e já estava passando no noticiário o que tinha ocorrido. Pensei: se localizarem o carro aqui, vão invadir. Daí, me desfiz, tirei o carro dali. Passei o fim de semana febril. Sentia que meu rosto estava deformado, como um delírio de febre. Não sabia o que fazer.”

Por fim, Ricardo Neis, explicou que foi orientado por um advogado a prestar depoimento na delegacia e foi para o hospital Parque Belém.”Espero ter esclarecido tudo desde o início e não em trechos editados para o Conselho de Justiça julgar com base em fatos concretos e reais”, finalizou o réu em depoimento.

Silêncio ao ser questionado

O réu ficou em silêncio durante a maior parte dos questionamentos da Promotora de Justiça Lúcia Helena de Lima Callegari. Entre as perguntas, a Promotora quis saber se ele havia retirado as placas do veículo para não ser localizado e porque ele disse estar em casa na noite do atropelamento, mas a Brigada Militar não teria o localizado. Ele preferiu responder às indagações do Promotor de Justiça Eugênio Paes Amorim. As perguntas da promotoria foram em torno do momento do atropelamento, do período da internação de Ricardo Neis e sobre as multas que ele teve enquanto tinha habilitação de motorista.

Foi exibido um vídeo do atropelamento para que o réu apontasse quem havia lhe agredido, mas Ricardo Neis disse que não teria como fazer a identificação. “Seria uma oportunidade de mentir porque não posso ter certeza. Eu vi aquelas pessoas uma vez na vida”, explicou o bancário.

Depois de quase 4 horas, foi a vez do advogado de defesa, Manoel Castanheira, fazer as perguntas. Ele questionou o réu sobre as funções dele no Banco Central e em quantos concursos ele já foi aprovado. Perguntou também se Ricardo Neis tinha intenção de voltar a dirigir, o que foi negado pelo réu. E para finalizar, a defesa indagou os sentimentos dele no momento do atropelamento. “O sentimento era de pavor em relação a mim e ao meu filho, que eu queria proteger”, encerrou o réu.

Versão das testemunhas

Na quarta-feira, testemunhas de acusação deram seus depoimentos. Eduardo Iglesias, por exemplo, deu uma versão bem diferente da do bancário. De acordo com ele, antes do atropelamento, Neis estava “nervoso”, com a cabeça para fora da janela do carro xingando os ciclistas: “Ele dizia bando de filho da puta, vagabundos, que ele tinha o direito de passar e nós não tínhamos o direito de trancar o trânsito”.

Em outro depoimento, Thiago também disse que viu Neis “muito alterado, muito bravo” com os ciclistas desde o início do passeio, no Largo Zumbi dos Palmares. Antes de chegar ao cruzamento das ruas José do Patrocínio e República, onde o fato ocorreu, ele teria testemunhado o motorista encostando o carro contra as rodas de uma bicicleta, o que gerou uma discussão breve entre ele e os ciclistas.

Os jurados podem decidir sobre o processo ainda nesta noite.

*Com informações do TJ-RS


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