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15 de outubro de 2016
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18:58

Questões culturais mantêm exploração infantil no Rio Grande do Sul

Por
Sul 21
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Foto: Reprodução
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Janaína Marques e Laísa Mendes,
Canal Feminista

Dos 101,9 milhões de Brasileiros que trabalham, 3,3 milhões têm menos de 17 anos (IBGE). Embora os índices de trabalho infantil tenham diminuído nas últimas décadas, a exploração dos menores está longe de ser erradicada. Com o corte de políticas públicas de incentivo, aumento da terceirização e os efeitos da recessão econômica, o quadro pode piorar: “Em tempos de crise, isso se agrava”, explica a juíza do trabalho Gabriela Lenz de Lacerda, representante nacional da Justiça do Trabalho no Fórum Nacional da Infância e da Juventude do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Dos dez municípios brasileiros com maior índice de trabalho infantil envolvendo crianças de dez a 14 anos, seis ficam no Rio Grande do Sul. Bozano, Itapuca, Ubiretama, Novo Xingu, Lagoa Bonita do Sul e Toropi são as piores cidades para ser criança no Estado, respectivamente, e nenhuma passa dos três mil habitantes. O problema no RS têm características bem específicas, pois as crianças se envolvem em atividades da família. Essa conflito torna a inspeção, e a desejada erradicação deste tipo de irregularidade, uma missão quase impossível na região Sul.

A questão cultural é determinante nesses índices, já que o contexto familiar dos imigrantes que lidam com agricultura carrega uma herança cultural que vai sendo aplicada nos mais jovens da casa. O pai que começou a trabalhar na lavoura aos nove anos não vê problema em dar o mesmo tratamento ao filho de dez. Neste espaço, onde a fiscalização é precária, essas condições são naturalizadas e o modelo segue de geração em geração.

O cenário no âmbito doméstico não é diferente. Embora a lei não permita que menores de 18 anos exerçam funções domésticas remuneradas, adultos seguem recrutando garotas muito jovens, em situação de extrema necessidade, para servirem em suas casas. Tanto o trabalho realizado no meio rural quanto o doméstico dificilmente são denunciados: “As pessoas naturalizaram o trabalho infantil e não enxergam quando aquela menina está fazendo a limpeza da casa, não enxergam que a aquela criança não devia estar na lavoura”, afirma a juíza. Segundo a juíza, o trabalho rural e o doméstico são os mais comuns quando se trata de exploração infantil e o mais difíceis de serem denunciados. Confira trecho da entrevista com Gabriela Lacerda sobre o tema:

Em 20 anos, o número de crianças em atividades formais caiu 59% no país através de iniciativas da Justiça do Trabalho e organizações de apoio a crianças e contra o trabalho infantil. De acordo com Gabriela Lacerda, a diminuição ocorreu, principalmente, nas grandes empresas. Empreendimentos do setor de vestuário e calçadista são exemplos tradicionais do uso de mão de obra infantil e escrava, como o caso da empresa Brooksfield, flagrada em São Paulo no ano passado mantendo cinco bolivianos em condições degradantes de convivência. Entre os escravizados, uma menina de 14 anos.

Foto: Reprodução
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De acordo com análise realizada pela Unicef (Fundo Nacional das Nações Unidas para a Infância), 638.412 meninas e meninos entre cinco e 14 anos trabalham mais de 28 horas semanais no Brasil. Se para um adulto conciliar trabalho e estudo tende a ser exaustivo, para uma criança é ainda pior. De acordo com a juíza, crianças em atividades trabalhistas acabam expostas a consequências físicas e emocionais, como problemas na coluna e tendência a depressão e ansiedade. Exigindo preparo e estrutura física que a criança ainda não possui, o trabalho precoce pode provocar problemas sérios de saúde como dificuldades respiratórias, distúrbio do sono, alergias e deformidades.

Além disso, após o surgimento de programas como o Bolsa Família, a evasão escolar diminuiu. No entanto, a presença na sala de aula não garante que as crianças estejam aprendendo. Estudo apresentado pela economista Ana Lucia Kassouf, apontou que quanto mais jovem a pessoa começa a trabalhar, menor é o seu salário na fase adulta. Esta redução no ganho financeiro é atribuída, em grande parte, à escolaridade limitada devido ao trabalho na infância.

Consideradas as piores funções possíveis a serem desenvolvidas por crianças, a prostituição e o tráfico são muito difíceis de fiscalizar. Os dados de órgãos oficiais não contabilizam os menores envolvidos com essas atividades ilícitas.


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