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13 de abril de 2016
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20:28

Centros acadêmicos da UFRGS são alvo de cartazes e pichações machistas e de extrema-direita

Por
Sul 21
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Cartazes sobre Bolsonaro e contra feminismo foram fixados em centros acadêmicos | Foto: Coletivo Primavera/ Reprodução Facebook
Cartazes sobre Bolsonaro e contra feminismo foram fixados em centros acadêmicos | Foto: Coletivo Primavera/ Reprodução Facebook

Débora Fogliatto

Os centros acadêmicos dos cursos de História, Políticas Públicas e Biologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) foram alvo de manifestações de teor machista e de extrema-direita na última segunda-feira (11). Ao chegarem ao Campus do Vale, em Porto Alegre, estudantes, professores e funcionários encontraram cartazes e pichações com dizeres como “Bolsonaro presidente”, “menos empoderamento, mais ‘empauduramento'” e “fora PT”. Já nesta quarta-feira (13), um homem entrou no Centro de Estudantes de Letras com uma camiseta em homenagem a Jair Bolsonaro. Ao ser convidado a se retirar, ele se recusou e teria ameaçado os estudantes presentes no local. Devido aos acontecimentos, estudantes, coletivos e centros acadêmicos organizam mobilizações contra o que classificam como “aumento do fascismo na universidade”.

Os cartazes foram assinados com a sigla F.O.D.A.S.C.E, “Frente de Opressão de Abobados, Socialistas, Comunistas, Etc” e um deles continha a frase “O feminismo não luta pela igualdade de direitos, mas é um movimento político socialista, inimigo da família, que estimula a mulher a largar seu marido, matar seus filhos, praticar bruxaria, destruir o capitalismo e tornar-se lésbica”. Nos cartazes, havia ainda o desenho de um pênis atravessando uma estrela vermelha. A escritora e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) Lola Aronovich, conhecida pelo blog Escreva, Lola, Escreva, também foi alvo de ofensas. Segundo ela, manifestações semelhantes aconteceram na Universidade de São Paulo (USP).

Em seu blog, Lola apontou que “não são ações isoladas, cometidas por um ou outro indivíduos. São orquestradas, cometidas por grupos fascistas que veem nas feministas suas maiores inimigas. Esses cartazes são resultado do medo que eles têm de nós. É essa gente que se une para derrubar páginas feministas no Facebook, para entupir portais de notícias com mensagens de ódio e intolerância”. Ela atribuiu as ações a eleitores de Jair Bolsonaro, exaltado nos cartazes.

Professora Lola Aronovich também foi alvo dos cartazes | Foto: Coletivo Primavera/ Reprodução Facebook
Professora Lola Aronovich também foi alvo dos cartazes | Foto: Coletivo Primavera/ Reprodução Facebook

Os centros acadêmicos e movimentos estudantis irão se reunir nesta quinta-feira (14) para articular a realização de possíveis atos em resposta aos cartazes. Kate Lima, coordenadora de Ações Afirmativas do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e integrante do Centro Acadêmico de Políticas Públicas, afirma que houve ataques também nos CAs de Relações Internacionais, Direito e Educação Física. Ela, que também é do Coletivo Indígena e do Movimento Contestação, destaca a importância de haver mobilizações contra a extrema-direita na universidade. “Acreditamos que a violência tende a aumentar. O assunto vai ser levado para o Conselho Universitário na sexta (15) e provavelmente vamos construir um ato pra semana que vem”, relata.

Segundo ela, pessoas com ideias fascistas na universidade “não são novidade”, o que é perceptível na página Conversas UFRGS e no caso de agressão ao estudante indígena Nerlei Fidelis, no final de março. “Eles usam a desculpa de liberdade de expressão e democracia. Negros e negras, índios, gays, lésbicas, transexuais, cotistas, todos estão apreensivos com essa onda conservadora”, relata.

Estudante com camiseta de Bolsonaro entrou no Centro de Estudantes de Letras | Foto: Coletivo Primavera/ Reprodução Facebook
Estudante com camiseta de Bolsonaro entrou no Centro de Estudantes de Letras | Foto: Coletivo Primavera/ Reprodução Facebook

Em seu Facebook, o Coletivo Primavera divulgou as imagens dos cartazes e do homem com uma camiseta com os dizeres “esse é meu futuro presidente, a favor da moral e dos bons costumes: Bolsonaro”. Ele  seria um estudante da universidade que, de acordo com o grupo, invadiu a Toca (sede do Centro de Estudantes de Letras) e, quando convidado a se retirar, recusou-se, “ameaçando os estudantes do curso, que estavam desconfortáveis com a sua presença”, segundo relato de uma aluna. “A esquerda da UFRGS não vai deixar passar! Estamos nos articulando para que os ambientes se mantenham seguros e livres de ataques fascistas”, afirma o Coletivo. A identidade do homem ainda não foi divulgada.

O Centro Acadêmico de Políticas Públicas (CAPP) também divulgou nota sobre o ocorrido, relatando em detalhes como eram os cartazes e vandalismos. “[Os Centros Acadêmicos] amanheceram com cartazes e pichações ‘fora PT’ , fazendo insinuações ao estupro e alusões a figuras da extrema-direita brasileira, Bolsonaro e Olavo de Carvalho, no CAPP foram arrancados os cartazes ‘mexeu com caloura, mexeu com veterana’ e a bandeira pertencente ao centro acadêmico, sendo colado um cartaz com a figura de Jair Bolsonaro na porta, evidenciando o idealismo de quem atacou os centros acadêmicos”. Para eles, esses atos acontecem para intimidar o movimento estudantil de esquerda e estão aliados a agressões e discriminação racial.

Eles também mencionam o caso da agressão a Nerlei, exigindo uma posição dos departamentos e da reitoria sobre o ocorrido. Em ato realizado cobrando providências da universidade, a reitoria afirmou que um inquérito foi aberto pela Polícia Federal para apurar os autores da tentativa de homicídio e injúria racial e também foi instalada uma sindicância pela UFRGS.

A coordenadora-geral do DCE, Kassiele Nascimento, lembra que cartazes semelhantes haviam sido colocados anteriormente na Faculdade de Direito em março e, na semana passada, na Faculdade de Ciências Econômicas. “Nesta terça-feira, foram colocados na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação. O mais preocupante é que estes não foram casos isolados”, afirma. O Diretório também se manifestou em nota, apontando que “a atual crise política do país tem favorecido para o acirramento de embates políticos entre os campos que tentam se apresentar como uma saída para a grave situação em que nos encontramos. Infelizmente, temos visto com cada vez mais frequência ações que expressão a intolerância e disseminam o ódio”.

O Departamento de História realizou uma plenária nesta terça-feira (12) para avaliar possíveis medidas a serem tomadas e também publicou nota, afirmando seu repúdio “aos ataques fascistas sofridos nesta semana pelo Centro Acadêmico de História e por outros diretórios acadêmicos da UFRGS”. “No contexto de exacerbadas disputas políticas pelo qual passa o país, a luta constante contra práticas autoritárias fundadas unicamente na discriminação social, racial e de gênero se torna cada vez mais necessária. A Universidade Pública deve se constituir como lugar privilegiado para o resguardo das práticas políticas democráticas e republicanas”, diz o texto, assinado pela chefia do Departamento.


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