Breaking News|Últimas Notícias>Geral
|
5 de março de 2016
|
19:33

Projeto de apoio incentiva jovens a ‘mudarem o mundo’ através da ciência

Por
Sul 21
[email protected]
Aos 23 anos, Kawoana coleciona vitórias em feiras de ciências e agora quer ajudar os mais jovens | Foto: Arquivo Pessoal
Aos 23 anos, Kawoana coleciona vitórias em feiras de ciências e agora quer ajudar os mais jovens | Foto: Arquivo Pessoal

Débora Fogliatto

Quando estava no Ensino Médio, a jovem Kawoana Vianna descobriu sua paixão pela pesquisa científica. Estudando na Fundação Escola Técnica Liberato, em Novo Hamburgo, onde fazia um curso técnico em Química, ela aprendeu as bases da metodologia e desenvolvimento de projetos, que transformaram sua vida. Ainda no primeiro ano do Ensino Médio, foi para uma feira de ciência em São Paulo, onde se percebeu apaixonada por aquele universo. Agora, aos 23 anos, ela pretende auxiliar adolescentes de todo o país que tenham a mesma paixão a concretizar seus projetos, a partir da plataforma Cientista Beta.

A trajetória de Kawoana é marcada pelas conquistas que realizou no âmbito científico, sempre movida pela vontade de resolver os problemas que via na sociedade, especialmente na área da saúde. Ao longo do Ensino Médio, continuou fazendo pesquisas de forma independente, e no terceiro ano, fez um projeto que produziu um curativo de nanopartículas que pudesse ser utilizado em pós-operatórios para pacientes com diabetes que tivessem tido membros amputados. A ideia, desenvolvida em conjunto com a colega Gabriela Chaves, surgiu aliando sua paixão pela ciência com um problema real da sua vida, o sofrimento da avó diabética.

A ideia era que o curativo pudesse evitar infecções e acelerar a cicatrização da pele. O projeto deu certo e as jovens foram reconhecidas ao serem selecionadas para a maior feira de ciência do mundo, nos Estados Unidos, a International Science and Engineering Fair (Isef). No ano seguinte, ela retornou à América do Norte com o experimento ainda mais avançado: além de funcionar como curativo, foi transformado em uma meia para pessoas diabéticas, que pode evitar a necessidade de amputação. “Percebi que o mais interessante era evitar que as amputações acontecessem. Descobri que é muito incidente, que é um problema de saúde mundial”, afirmou. Desta vez, ela foi a quarta colocada em Ciências Médicas e da Saúde no mesmo evento.

Seu principal projeto é uma meia para pessoas com diabetes | Foto: Arquivo Pessoal
Seu principal projeto é uma meia para pessoas com diabetes | Foto: Arquivo Pessoal

Em 2013, após concluir o Ensino Médio, foi contemplada com uma bolsa para passar um mês na Dr. Bessie Lawrence International Summer Science Institute, do Weizmann Institute, em Israel. Ao voltar a Porto Alegre, iniciou as aulas de Medicina na UFRGS. Para ela, as experiências que teve como pesquisadora facilitaram a forma de encarar o desafio do vestibular, o qual não considera como um medidor de inteligência. “Eu tinha voltado de um mês em Israel de um intercâmbio com jovens do mundo inteiro e entrar na faculdade foi aquele baque, que a galera se acha o máximo só por fazer medicina. E tem tanta coisa que as pessoas podem fazer mais do que passar num vestibular”, reflete.

No ano seguinte, foi selecionada como bolsista da Fundação Estudar, onde além de conhecer pessoas de todo o país e continuar sendo pesquisadora, aprendeu também sobre empreendedorismo social. “Percebi que minha vida inteira foi mudada por aquela experiência de fazer pesquisa. Percebi que sou mais cidadã, que penso ‘o que eu poderia fazer diferente, que solução posso propor?’, eu sou uma pessoa muito mais engajada e alguém que pode fazer a diferença, não apenas esperar o governo”, afirma.

Devido ao sentimento de gratidão que sempre teve voltado às pessoas que a incentivaram e deram as oportunidades para que se tornasse pesquisadora, Kawoana nunca negou convites para compartilhar sua história em palestras e reportagens. A partir daí, percebeu que poderia ajudar os mais novos de forma ainda mais efetiva. É por isso que, aos 23 anos, com uma coleção de vitórias e conquistas no campo das ciências da saúde, teve a ideia de criar a plataforma que auxilie estudantes de Ensino Médio a realizar pesquisa. “Fiz uma pesquisa de campo com jovens que fizeram pesquisa e comecei a perceber o que tinha sido mais marcante, que todo jovem que faz pesquisa se transforma por meio dessa atividade. O ensino convencional nem sempre é desafiador, o grande desafio do jovem de Ensino Médio é passar no vestibular, e só decorar”, aponta.

Plataforma Beta, idealizada por Kawoana, inspira jovens a pensarem na ciência | Foto: Arquivo Pessoal
Plataforma Beta, idealizada por Kawoana, inspira jovens a pensarem na ciência | Foto: Divulgação/ Plataforma Beta

Com um projeto de pesquisa, o jovem precisa “correr atrás” e ser o protagonista do trabalho que está sendo realizado. “Todo jovem tem uma energia dentro de si para conseguir mudar o mundo, e a pesquisa pode ser um caminho para isso. E me deu uma vontade maior ainda de levar isso para jovens que, muitas vezes, não têm condições de saber que isso seria possível”, conta. Ela, então, encontrou outros pesquisadores da Fundação Estudar e da Rede Choice e foi espalhando sua ideia. Atualmente, são nove pessoas que trabalham para tirar o projeto do papel.

A ideia é ajudar os estudantes a se aproximarem da ciência e usar isso para a transformação social. “Mais do que ensinar o que está nos livros, queremos que coloque a mão na massa e faça um projeto dele, que ele tenha vontade de fazer e que possa resolver um problema que pra ele é muito importante. Não queremos só formar mais cientistas, mas sim cidadãos”, explica Kawoana. Para isso, ela percebeu que era necessário fornecer duas coisas: um meio de informação e inspiração. O site do projeto Cientista Beta busca fazer exatamente isso, a partir do espaço que é fornecido para que os próprios jovens cientistas escrevam relatando suas experiências.

Agora, o próximo passo é alavancar os projetos desses jovens de forma mais direta, a partir de um programa de mentorias. “Eu já me vi nessa posição de ser alguém que precisa de muitos conselhos para seus projetos. E quando comecei a ser reconhecida, ganhar prêmio, muitos jovens começaram a me ver como exemplo e eu sempre fui muito receptiva. A ideia é criar uma forma mais estruturada para que essas pessoas que aprenderam tanto com a pesquisa possam dar um retorno e, ao mesmo tempo, os que estão iniciando encontrem um mentor que já passou por aquele processo e agora consegue apresentar o caminho para ele, apoiando e dando dicas”, resume.

A jovem se interessa por projetos na área da saúde e atualmente cursa medicina | Foto: Arquivo Pessoal
A jovem se interessa por projetos na área da saúde e atualmente cursa medicina | Foto: Arquivo Pessoal

Em janeiro, foi realizado o processo seletivo para mentores, os quais foram escolhidos entre pesquisadores de todo o país. Agora, acontece a seleção de jovens para serem mentorados pelo Programa de Mentorias Decola Beta. Serão escolhidos 25 projetos de quaisquer áreas, que estejam em diversas fases de desenvolvimento, para serem auxiliados pelos mais experientes. “Para selecionarmos, estamos nos perguntando: qual o impacto que esse programa vai trazer para esse jovem? A gente quer que a vida desses jovens mude, que em dez anos olhem para trás e pensem que isso foi um marco na vida deles”, relata. Cada mentor será responsável por um projeto e irá acompanhar o estudante por seis meses conversando, ajudando e inspirando. Os selecionados também terão acesso a conteúdo de metodologia científica a partir de materiais didáticos que serão fornecidos sobre ciência.

Além do auxílio técnico, os mentores também trazem consigo conceitos de empreendedorismo e desenvolvimento humano. A compatibilidade entre mentores e mentorandos será feita a partir da área de pesquisa e, caso seja possível, proximidade geográfica. “Certamente será feito de forma online, mas temos mentores no Brasil inteiro e queremos pegar projetos no Brasil inteiro, eventualmente o mentor vai estar próximo e podem se encontrar. Mas a prioridade é um mentor que tenha experiência na área do projeto, porque tem questões bem particulares dentro de cada área”, explica.

A ideia é que a vida desses jovens seja transformada a partir da pesquisa, assim como a de Kawoana foi. “Temos o exemplo de jovens que tinham baixa auto-estima, porque não conseguiam se encaixar naquele modelo tradicional de educação e acharam que nunca iam conseguir fazer alguma diferença. E quando começam a desenvolver seu próprio projeto, percebem que têm potencial, que não precisam esperar que os outros mudem as coisas, que podem fazer algo por esse problema”, afirma, demonstrando sua paixão pelo assunto. Ela acredita que a pesquisa feita por estudantes de Ensino Médio não tenha base na curiosidade, mas sim na vontade de mudar alguma realidade, resolver algum problema.

A jovem atribui a vontade de ajudar os outros também ao incentivo da Fundação Estudar, da qual é bolsista. “Desde que entrei lá, me senti muito encorajada e decidi começar a fazer agora, não esperar estar graduada. A Fundação criou o ambiente fértil para que isso acontecesse”, relatou. As inscrições para a primeira fase, em que os estudantes devem explicar seu projeto de pesquisa e responder à pergunta “por que a ciência pode me fazer decolar?” estão abertas até o dia 22 de março. Após a divulgação dos aprovados, a segunda fase será de entrevistas por Skype com os mentorandos.

 


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora