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17 de agosto de 2015
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17:29

Rede de consumo colaborativo conecta produtor e consumidor de alimentos orgânicos

Por
Sul 21
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Foto: Tribo Viva/ Divulgação
Cestas são compostas por 12 a 15 opções de alimentos orgânicos, um quilo de cada um | Foto: Tribo Viva/ Divulgação

Débora Fogliatto

Um projeto chamado Tribo Viva é mais uma possibilidade na rede de consumo colaborativo que cresce em Porto Alegre. A ação media a compra e a venda de alimentos, mas não estoca, não revende e não distribui. Trata-se de uma iniciativa voltada para produtos orgânicos, que acontece na região metropolitana de Porto Alegre. Criada pelo chef de cozinha Pietro Rocha e pelo publicitário Marcos Delgado, a Tribo é uma start-up que, paralelamente, é muito ativa no mundo real. O modelo basicamente reúne, além de seus criadores, produtores rurais de alimentos orgânicos, um coordenador de entregas e os consumidores.

Desses agentes, cada um cumpre seu papel no ciclo da colaboração: os organizadores identificaram e mapearam os produtores rurais, em sua maioria de agricultura familiar, que trabalham com produção orgânica. Entraram em contato com eles para firmar a parceria e criar uma “oferta”. Basicamente, o produtor informa quais os alimentos que têm e qual o preço de cada um, que são colocados à disposição do público em forma de cesta. Ao mesmo tempo, pessoas se inscrevem no site para serem coordenadores, ou seja, aquele que recebe os alimentos e de quem os consumidores então irão pegá-los. Quando todas as cestas daquela leva são vendidas, ele entra em ação, após pagamentos feitos via transferência, os produtos ficam disponíveis em sua casa ou local de trabalho.

Produtores "Mulheres da Terra", do assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, é um dos parceiros | Foto: Tribo Viva/ Divulgação
Produtores “Mulheres da Terra”, do assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, é um dos parceiros | Foto: Tribo Viva/ Divulgação

A iniciativa surgiu das experiências que o carioca Pietro, de 40 anos, teve morando na Europa, onde o consumo de alimentos orgânicos está muito mais disseminado que no Brasil. “Trabalhei lá durante alguns anos e quando voltei, me mudei para Porto Alegre. Nisso, eu queria dar uma guinada na carreira a partir das perspectivas de sustentabilidade, inclusão, potencial que a gastronomia tem de ser poder transformador na sociedade”, afirmou. Já na capital gaúcha, conheceu seu sócio, que também estava querendo voltar seu ofício para a responsabilidade socioambiental. O chef conheceu sua esposa em Londres e os dois vieram para cá, cidade escolhida por ele por ter achado “mais estratégico, mais propício, com valores comunitários, sócio-políticos e interessantes, melhor para esse tipo de conceito”.

A Tribo tem um ano e meio de existência, mas a plataforma online funciona há menos de dois meses. Antes disso, as encomendas eram feitas pelo Facebook. “Esse novo tipo de economia está se expandindo muito rapidamente na Europa e na América do Norte. Percebemos que essa forma de colaboração tinha um potencial muito grande que poderia representar um diferencial, na questão de gerar acesso às pessoas e a esse tipo de alimentação”, explicou Pietro.

Para ele, a questão vai muito mais além do que a simples compra e venda de alimentos. “A economia colaborativa é realmente um embrião desse pós-capitalismo que está se desenvolvendo. Vemos cada vez mais que a única forma de os cidadãos poderem adquirir e desfrutar dos seus direitos é se organizando para poder suprir essas lacunas que as grandes corporações colocam entre nós e o nosso direito”, reflete. O fundador da Tribo destaca que, nesse sentido, os alimentos são comercializados por preços muito mais baixos do que nos supermercados e sites de compra online, por serem estabelecidos pelos próprios produtores, sem intermediários.

Foto: Tribo Viva/ Divulgação
Alimentos orgânicos não são mais caros, garante Pietro | Foto: Tribo Viva/ Divulgação

No site, os preços estão detalhados em cada alimento, além de haver a taxa de manutenção da Tribo (em geral, em torno de R$ 6 por cesta) e do coordenador da venda, que recebe uma cesta sem precisar pagar. Com cerca de 12 a 15 itens, de um quilo ou 500 g de cada, os preços das ofertas variam de R$ 35 a R$ 51, em média. “A gente está conseguindo quebrar essa mistificação do orgânico ser caro. Porque não é caro, é a representação viva da harmonia da alimentação humana com a natureza. Esse mito é decorrente desses monopólios, da monocultura, dos transgênicos, todas essas loucuras que existem hoje em dia”, afirma Pietro.

Ele conta que o sucesso da rede é perceptível, com cerca de 4 ofertas acontecendo paralelamente por semana. Pessoas de todos os tipos, idades, classes sociais e opiniões político-ideológicas abraçaram a ideia, conforme o organizador. A ideia é chegar a um ponto em que todas as regiões da cidade estejam sendo atendidas paralelamente, embora, por enquanto, a maioria das entregas tenha acontecido principalmente em bairros mais centrais. “As pessoas estão vindo com muita alegria e felicidade participar da nossa rede de consumo colaborativo, vendo que é uma nova forma de consumir e é uma saída para a sociedade. Sabemos que alimento é agregador”, comemora.


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