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18 de outubro de 2014
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13:28

Uruguai, candidatos de oposição olham para Aécio e se veem no espelho

Por
Sul 21
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Propaganda da Frente Ampla em imóvel do bairro Goes, em Montevidéu. Esse bairro tem recebido investimentos especiais do governo para a solução de problemas econômicos, habitacionais e de geração de renda | Foto: Poti Campos
Propaganda da Frente Ampla em imóvel do bairro Goes, em Montevidéu. Esse bairro tem recebido investimentos especiais do governo para a solução de problemas econômicos, habitacionais e de geração de renda | Foto: Poti Campos

Poti Silveira Campos*

No dia 26 de outubro, Brasil e Uruguai irão às urnas na eleição para presidência da República. No Uruguai, em primeiro turno, em pleito válido também para o Legislativo – 30 senadores e 99 deputados. Além da coincidência de datas, a disputa tem cenário e conteúdos semelhantes. No país vizinho, o Brasil, principal sócio comercial, se tornou fator no cálculo da decisão.Tabaré Vázquez, candidato do governo Pepe Mujica, enfrenta o blanco Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional, e Pedro Bordaberry, do Partido Colorado. A oposição se inspira e destaca a identificação com Aécio Neves.

Tabaré Vázquez é o candidato apoiado pelo presidente Pede Mujica | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Tabaré Vázquez é o candidato apoiado pelo presidente Pede Mujica | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Terceiro colocado nas pesquisas, Bordaberry, por exemplo, afirma que fará a mesma virada realizada pela candidatura do PSDB no Brasil, no primeiro turno. Advogado, filho de Juan María Bordaberry – ditador em 1972 e 1973, e presidente eleito, entre 1973 e 1976 –, o colorado encontrou no desempenho do tucano a esperança de passar para o balotaje, como é chamado o segundo turno por lá. A empolgação é tanta que o candidato se anima até mesmo a fazer discursos em portunhol em localidades de fronteira. E assegura inclusive estar recebendo apoio no mesmo dialeto: “Um paisano de Rivera en portuñol me gritó: ‘Pedro, a virada já começou”, disse ao jornal El Pais.

Jornal de maior circulação no Uruguai, El Pais apóia Lacalle Pou – vale lembrar que o diário foi fundado em 1918 justamente como um veículo do Partido Nacional. Outro filho de presidente – Luis Alberto Lacalle, 1990-1995, e da senadora María Julia Pou –, Lacalle Pou tem 41 anos e pinta de galã de telenovela, na mesma linha de candidato bonitinho, cool, jovem, descolado como Aécio, Collor ou embalagem de margarina. No enfrentamento com Tabaré Vázquez, médico, 74 anos, Lacalle Pou gosta de exibir a vitalidade da juventude e realiza peripécias de atleta de fim de semana, como ficar na posição de bandeira em postes das esquinas da cidade. Uma estrela pop. É a nova direita.

Lacalle Pou é o candidato do El Pais, criado como jornal do Partido Nacional | Foto: Reprodução Youtube
Lacalle Pou é o candidato do El Pais, criado como jornal do Partido Nacional | Foto: Reprodução Youtube

Mas há identificações mais sérias entre Lacalle Pou e Aécio. A relação com o Mercosul é a mais valorizada pela mídia. Vitórias de Dilma e Tabaré tendem a reforçar o bloco, enquanto Aécio e o blanco pretendem abrir as portas para o mundo. Os dois têm em comum ainda, naturalmente, a crítica à ingerência do estado na economia – a ingerência que assegurou em ambos os países, nos últimos anos, a ampliação de políticas sociais extensivas. Se eleito, Lacalle Pou bem que gostaria de revogar a lei que regulamentou o aborto no Uruguai em 2012 – desde então, nenhuma mulher morreu nos mais de 6,7 mil procedimentos realizados – e, claro, da produção e consumo de maconha.

Tal qual ocorre no Brasil, segurança é um dos temas prioritários na campanha. Embora a sensação de insegurança seja notável no Uruguai, o problema parece ser bem menos grave do que ocorre por aqui. De acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), a taxa de homicídios por ano e para cada cem mil habitantes no Brasil atingiu índice de 25,2 em 2013 – a terceira na América do Sul, atrás de Colômbia (30,8) e Venezuela (53,7). Sem dados atualizados da Argentina, o Uruguai ocupa a quarta posição, com índice de 7,9. A média do continente é superior a 20 pessoas assassinadas a cada cem mil habitantes.

Pedro Bordaberry, do Partido Colorado, defende, como Lacalle Pou, a redução da maioridade penal, de 18 para 16 anos | Foto: www.pedropresidente.com.uy
Pedro Bordaberry, do Partido Colorado, defende, como Lacalle Pou, a redução da maioridade penal, de 18 para 16 anos | Foto: www.pedropresidente.com.uy

A principal proposta para reduzir a criminalidade em terras da Banda Oriental, apoiada por Lacalle Pou e Bordaberry, é a redução da maioridade penal, de 18 para 16 anos. O projeto não tem apoio da Frente Ampla de Tabaré e Mujica. Nas ruas de Montevidéu, “no a la baja” é o slogan mais grafitado pelas paredes da cidade. Nas páginas dos jornais, como El Pais, a participação de menores em crimes violentos tem destaque constante, da mesma forma que homicídios sempre rendem bons textos aproximando jornalismo e literatura.

Dom Quixote: personagem da propaganda política da Frente Ampa | Foto: Poti Campos
Dom Quixote: personagem da propaganda política da Frente Ampa | Foto: Poti Campos

Em pesquisa divulgada no dia 15 de outubro, Tabaré e Lacalle se mantiveram estáveis em relação ao levantamento anterior, com 41% e 28%, respectivamente. Bordaberry, na esperança da virada, cresceu quatro pontos percentuais e atingiu 15% da preferência dos entrevistados. No Uruguai, não há horário eleitoral gratuito e Tabaré tem sistematicamente se recusado a participar de debates. No dia 13, o arcebispo de Montevidéu, Daniel Sturla, celebrou na catedral da cidade a Jornada de Oración por La Patria y los Futuros Gobernantes. Aproveitou a ocasião para pedir a realização de debates para a decisão do voto cidadão. Mujica estava lá. Tabaré, não.

*Jornalista


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