Da Redação
Opera Mundi
Aparentemente, uma boa intenção: incentivar os dinamarqueses a participarem das eleições europeias para que tenham influência nas decisões sobre assuntos como regulamentos climáticos, subsídios agrícolas, produtos químicos em brinquedos e até “a quantidade de canela permitida no seu bolo de canela”. O formato, entretanto, pode ser descrito como equivocado.
Um desenho animado criado pelo Parlamento da Dinamarca e divulgado na segunda-feira (12) usa sexo e violência para encorajar a população a ir às urnas no pleito do próximo dia 25 de maio. O personagem principal se chama Voteman (homem do voto, em tradução livre), um rapaz que, quando jovem, perdeu a chance de opinar sobre os rumos da Europa e decidiu “dedicar a vida a fazer todos votarem”, segundo o próprio vídeo.
Voteman é musculoso, um prodígio sexual e, mais importante, violento e permanentemente enfurecido. No começo do clipe, ele aparece com quatro moças seminuas em uma cama, mas, sem cerimônia, empurra todas para fora e se veste rapidamente quando recebe o chamado para sua “missão”, para a qual parte usando golfinhos como pranchas.
Para aumentar a participação nas eleições, ele não mede esforços: arranca a cabeça de um jovem que diz que não vai votar, estapeia e soca pessoas que caminham na rua, usa as estrelas de uma bandeira da União Europeia como dardos para ferir um homem e até interrompe um casal fazendo sexo, para depois atirar a cama pela janela.
“Se você não vai votar, não tente correr, não tente se esconder, porque nós vamos caçá-lo, vamos achá-lo e vamos fazê-lo votar”, ameaça o vídeo. A solução para evitar a perseguição e até mesmo a violência, entretanto, é simples. “O que você tem que fazer? Você tem que votar!”.
No fim do cartum, os criadores esclarecem (e aproveitam para fazer piada): “Voteman é um personagem ficcional. As opiniões expressas são exclusivamente do Voteman. Nenhum hipster foi prejudicado na realização deste filme”.
A ideia, no entanto, não foi tão bem-aceita quanto esperava o Parlamento. Depois de inúmeras críticas, o vídeo foi retirado do Youtube nesta terça-feira (13), embora já tenha sido postado novamente por outro usuário. “Muitas pessoas cujas opiniões eu respeito profundamente perceberam o desenho animado do centro de informação da União Europeia como muito mais grave e ofensivo do que se pretendia”, afirmou Mogens Lykketoft, porta-voz do Parlamento.
Diversos políticos da Dinamarca, que teve participação de cerca de 60% nas últimas eleições europeias, quando a média da UE foi de 43%, acusaram o vídeo de ser sexista e ultraviolento. “Reconheço que no futuro o Folketinget [Parlamento], como instituição, tem de mostrar mais cautela em termos daquilo em que coloca seu nome”, concluiu Lykketoft.
Apesar da relativamente alta participação dinamarquesa nas últimas eleições, a preocupação com o não comparecimento da população às urnas tem razão de ser: no último dia 08 de maio, uma pesquisa do instituto britânico Ipsos-MORI revelou que seis em cada dez europeus “não estão interessados” na votação. Voteman, segundo o Parlamento dinamarquês, seria a opção para fazê-los mudar de ideia.
