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3 de maio de 2021
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20:40

Sem acordo no judiciário, professores avaliam convocar greve contra retorno das aulas presenciais no RS

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Sul 21
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Sem acordo no judiciário, professores avaliam convocar greve contra retorno das aulas presenciais no RS
Sem acordo no judiciário, professores avaliam convocar greve contra retorno das aulas presenciais no RS
Governo Leite autorizou a volta às aulas presenciais após mudar critérios do modelo de bandeiras no RS. Foto: Alex Rocha/PMPA

Luciano Velleda

Depois de quase 5h de duração, terminou sem acordo a primeira sessão de mediação sobre a volta às aulas no Rio Grande do Sul, realizada nesta segunda-feira (3), no Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania de Porto Alegre (CEJUSC-POA). A mediação foi proposta na última sexta-feira (30) após entidades de professores acusarem o governo de Eduardo Leite (PSDB) de manobrar para descumprir a decisão judicial que, desde fevereiro, impedia a retomada das aulas presenciais no RS enquanto durasse a bandeira preta no Modelo de Distanciamento Controlado para o enfrentamento da covid-19. 

Após sucessivas derrotas, o governador decidiu semana passada mudar os critérios do modelo e, com isso, passou todo o  Estado para bandeira vermelha, autorizando assim à volta as aulas para todos os níveis de ensino na rede pública e privada. 

“O governo se mostrou irredutível e não apresentou nenhuma proposta”, afirmou Helenir Aguiar, presidente do Centro Professores do Estado Rio Grande Sul (Cpers). Por sua vez, a entidade defendeu a suspensão das aulas, a vacinação dos professores, testagem em massa nas escolas, revisão nos protocolos sanitários e a entrega de equipamentos de proteção de boa qualidade para os educadores, funcionários de escola e alunos. “O governo nos entregou um material de péssima qualidade e que não vai proteger nossos alunos”, destacou Helenir, em entrevista coletiva. 

A diretora de Comunicação do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa), Cindi Sandri, disse que a expectativa com a mediação já não era alta. E explicou que o impasse deve-se à negativa do governo estadual de suspender as aulas para começar a negociação. Para as entidades representativas dos professores que participaram da tentativa de mediação, a suspensão é necessária porque o processo de negociação tende a ser longo e, enquanto isso, profissionais, alunos e familiares já estão correndo risco de contaminação.

“Não há nenhuma alteração positiva no cenário da pandemia no estado desde quando houve a suspensão das aulas presenciais”, afirmou Cindi, enfatizando que os educadores  também querem o retorno das aulas, mas quando as condições da contaminação estiverem controladas, o que ainda não acontece. “Foi uma decepção a intransigência do governos estadual e municipal.”

A presidente da Associação de Mães e Pais pela Democracia (MPD), Aline Kerber, criticou o discurso do governo estadual de “vai à aula quem quer” e disse que a educação no RS está refém de governantes que não querem negociar e desprezam os professores. “Não se aprende em contexto de medo. Os professores estão com medo, os alunos estão com medo, as mães estão com medo. Essa escola é para quem?”

A AMPD é uma das entidades autoras do pedido de suspensão das aulas durante a vigência da bandeira preta, acatado pela Justiça em fevereiro e mantida até a mudança de critérios feita pelo governador Leite na semana passada. “Não vamos negociar vidas”, enfatizou Aline.

Possibilidade de greve

Os professores estaduais e da Capital se reúnem ainda nesta segunda-feira (3) para debater a situação. Diante do impasse, a possibilidade de greve deve ser discutida em ambas as assembleias.  “Com certeza uma das alternativas é começar o movimento grevista, diante da posição irresponsável do governo do Estado”, afirmou a diretora de Comunicação do Simpa, Cindi Sandri. O mesmo tom foi adotado pela presidente do Cpers, Helenir Aguiar. “Não está descartada a possibilidade de greve. A categoria é soberana para decidir quais rumos vamos tomar”, declarou.

O Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania de Porto Alegre (CEJUSC-POA) marcou outra reunião de conciliação para quarta-feira (5). No encontro de hoje, estiveram presentes a secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, a secretária estadual de Educação, Educação Raquel Teixeira, e o Procurador-Geral do Estado, Eduardo Cunha da Costa. O governador Eduardo Leite não participou. Pela Prefeitura de Porto Alegre, participaram o prefeito, Sebastião Melo, e a secretária Municipal de Educação, Janaina Aldino.

Liminar

Independentemente da tentativa de mediação na Justiça, o Cpers, Simpa, AMPD e o Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS) ingressaram no último dia 28 com novo pedido liminar de suspensão das aulas presenciais. As entidades pedem a nulidade do decreto do governo estadual que alterou as cores da bandeira do Modelo de Distanciamento Controlado. A alegação é de que o decreto burlou a decisão judicial que suspendia as aulas.

O pedido de liminar tramita na 1ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre e as entidades esperam que a juíza responsável analise logo o caso e tome uma decisão. O coordenador do Comitê de Crise da Volta às Aulas, Julio Sá, explica que a mediação deve demorar e não se pode esperar o resultado enquanto o risco de professores, alunos e famílias já acontece. “Não se pode aguardar o resultado da mediação.”


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