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25 de outubro de 2020
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14:39

Mobilização consegue suspender corte de guapuruvu em Porto Alegre até que Justiça se manifeste

Por
Sul 21
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Guapuruvu teve todos os seus galhos cortados, mas condomínio quer remover toda a árvore. (Foto: “Parecer para interrupção de supressão de exemplar arbóreo de guapuruvú”, de Paulo Brack.)

Marco Weissheimer

A mobilização iniciada na tarde de sábado (24) por um grupo de ambientalistas, biólogos e moradores conseguiu suspender, na manhã deste domingo (25), a supressão de um guapuruvu de 26 metros de altura, localizado na rua 24 de Outubro, em Porto Alegre. A remoção da árvore foi solicitada pelo condomínio onde ela está situada, em função da queda de um galho de grande porte da árvore, no dia 8 de novembro de 2019, sobre a rede elétrica e um veículo.

A empresa contratada para fazer a supressão chegou a iniciar a poda da árvore, cortando todos os seus galhos e deixando praticamente só o tronco em pé. O trabalho de remoção de toda a árvore foi interrompido no sábado quando um grupo de ativistas chegou ao local e questionou a legalidade do corte que estava sendo efetuado. Os funcionários da empresa alegaram que tinham autorização da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Porto Alegre (Smam) para efetuar o corte e que havia um laudo declarando que a árvore estaria necrosada. No entanto, eles não estavam de posse desses documentos.

Mobilização na manhã deste domingo conseguiu suspender operação de corte (Arquivo pessoal)

No início da manhã deste domingo, o caminhão da empresa voltou ao local e a árvore chegou a ser cintada para a operação de corte. Os manifestantes também chegaram cedo ao lugar e conversaram com integrantes da Brigada Militar solicitando que a ação não fosse autorizada pois estava em curso um processo judicial questionando a operação. A ausência de toda a documentação necessária, a falta de técnicos da SMAM no local e o ingresso com um pedido de liminar junto à Justiça acabaram provocando, com a intermediação da Brigada Militar, a suspensão da operação até que a Justiça se manifeste. Um pouco antes das 10 horas da manhã, o caminhão que efetuaria a supressão da árvore deixou o local. O Ministério Público Ambiental e a Defensoria Pública também foram acionados pelos manifestantes para impedir o corte da árvore.

O biólogo Paulo Brack, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (Ingá), escreveu um parecer na noite de sábado solicitando que “o corte da árvore seja sustado até que se realize uma análise minuciosa das condições vitais do restante do vegetal, já que apresenta sinais evidentes de boas condições fitossanitárias”.

O parecer também solicita à Secretaria Municipal de Ambiente de Porto Alegre “uma nova avaliação mais aprofundada por técnicos independentes, para tentarmos salvar um dos tantos patrimônios verdes de nossa cidade, que já foi considerada a cidade mais bem arborizada do brasil e hoje vem sofrendo  cortes e podas constantes injustificáveis”.

Para Brack, o caso do guapuruvu também “traz à tona a necessidade que se reavaliar os procedimentos que levam às supressões e podas, não raro injustificadas, mas facilitadas após a flexibilização sem base técnica da Lei municipal n. 757/2015, que autorizou particulares contratarem técnicos para defender seus interesses, de podas e cortes, à revelia de uma análise mais detida e isenta anteriormente realizada pela SMAMS”. “É importante”, acrescentou o biólogo,  “que a SMAMS permita uma revisão de seus procedimentos e também da legalidade de mudanças da lei que delegam a particulares a avaliação das condições de exemplares e, com base em laudos contratado técnicos diretamente ligados aos contratantes, o que leva a favorecer um processo indiscriminado de cortes e podas de árvores, inclusive pelo conflito de interesses de parte do técnico contratado e pago para emitir seu laudo”.

Empresa chegou a iniciar corte dos galhos da árvore, na rua 24 de outubro. (Foto: Ivan Trindade)

 


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