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21 de setembro de 2020
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20:14

Bulhões assume reitoria da UFRGS em posse ‘silenciosa’ em meio a protesto de estudantes

Por
Sul 21
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Estudantes realizaram segundo ato contra a nomeação de Bulhões para reitor da UFRGS. Foto: Luiza Castro/Sul21

Marco Weissheimer

Estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul realizaram um novo protesto, na manhã desta segunda-feira (21), contra a indicação, pelo presidente Jair Bolsonaro, do professor Carlos Bulhões, terceiro colocado na eleição realizada pela comunidade universitária, para ser o novo reitor da UFRGS. Convocado pelo Diretório Central de Estudantes (DCE) e por diretórios e centros acadêmicos da universidade, o ato iniciou em frente à Faculdade de Educação e depois se dirigiu em caminhada para a frente da Reitoria da UFRGS. Além do uso obrigatório de máscaras, a organização do ato marcou espaços no chão com a letra “x” para lembrar a necessidade de garantir um mínimo distanciamento durante a manifestação.

As palavras de ordem cantadas durante a manifestação expressavam a contrariedade dos estudantes com a indicação feita por Bolsonaro: “Mas que vergonha, que vergonha deve ser, precisar do Bibo Nunes pra poder se eleger”, “Não vai ter arrego, nomeia interventor e a gente tira teu sossego”, “Tira a caneta da mão, tira a caneta da mão, que não vai ter intervenção”, “Não, não à intervenção, eles querem ditadura, a gente quer educação”, “Alô Bulhões, interventor, aqui na UFRGS tu não pode ser reitor”.

Carlos Bulhões e a vice-reitora Patrícia Pranke foram empossados no gabinete da Reitoria.(Divulgação)

Desde o início da manhã, os estudantes tentaram confirmar a informação de que Bulhões estaria no prédio da Reitoria para uma reunião ou mesmo para já ser empossado. A Reitoria não informou nada a respeito. O único contato que os estudantes conseguiram foi uma rápida conversa com seguranças da Reitoria que não confirmaram a presença de Bulhões no prédio. Mas Bulhões estava lá sendo empossado em uma rápida e silenciosa reunião de gabinete. Um pouco antes do meio-dia, os estudantes realizaram uma plenária na calçada em frente à Reitoria para debater os próximos passos da mobilização em defesa da autonomia universitária e contra o que consideram uma inaceitável intervenção do governo Bolsonaro na UFRGS. Durante toda a plenária, eles não sabiam que o novo reitor já havia sido empossado.

Por volta das 15h, o site da UFRGS publicou uma nota anunciando que a posse do novo reitor indicado por Bolsonaro, de fato, ocorreu na manhã desta segunda-feira, enquanto o protesto dos estudantes acontecia no Campus Central. A página institucional informou:

“Na manhã desta segunda-feira, dia 21 de setembro, o professor Carlos André Bulhões foi empossado no cargo de reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para o período de 2020 a 2024. Entre as primeiras providências estão os atos normativos necessários para que a Universidade siga suas rotinas de forma tranquila, com toda a responsabilidade e excelência que caracterizam a instituição. O termo de posse da nova vice-reitora, professora Patricia Pranke, será efetivado no dia 29 de setembro, conforme orientação do Ministério da Educação”.

Segundo Bulhões, o início dos trabalhos da nova gestão será marcado “por muito diálogo e algumas modificações estratégicas na estrutura organizacional”. “Com o objetivo de reafirmar a excelência do serviço público prestado pela UFRGS, a modernização estará focada na formação dos estudantes, na produção de conhecimento e na integração com a sociedade”, acrescentou.

Estudantes saíram em caminhada da Faculdade de Educação até a Reitoria. Foto: Luiza Castro/Sul21

Representantes do DCE, de diretórios e centros acadêmicos defenderam a realização de plenárias por cursos, nas diversas unidades da UFRGS, nas próximas semanas, para retomar a organização e a mobilização dos estudantes que também acabou interrompida pela pandemia do novo coronavírus. Nos próximos dias, as entidades estudantis se reunirão para definir os próximos passos do movimento que pretende aprofundar a mobilização contra a intervenção por toda a universidade.

Ana Paula Santos, coordenadora do DCE, destacou que a comunidade universitária já manifestou grande rejeição à indicação de Bulhões que está se manifestando também nas redes sociais. “Mais do que a questão de não respeitar a ordem da lista tríplice, o tema central é o que Bulhões representa. No nosso entendimento, alguém que seja nomeado por Bolsonaro vai trabalhar para consolidar o projeto que o atual presidente representa e executa, de desmonte e ataque à universidade pública, de negação do valor da ciência e da pesquisa científica. Isso é o que mais nos preocupa”.

Após o anúncio da posse de Bulhões, na metade da tarde, Ana Paula Santos lamentou o modo como se deu a posse e  disse que a mobilização dos estudantes vai continuar e que a nova gestão já começa marcada pela falta de transparência e de diálogo. “Recebemos a informação de que ele chegou muito cedo e entrou por um local ao qual não temos acesso”, assinalou a estudante. A coordenadora do DCE também manifestou preocupação com algumas das medidas já anunciadas pelo novo reitor como a criação da Pró-Reitoria de Inovação e Assuntos Institucionais que, para ela, é uma porta aberta para o avanço do processo de privatização dentro da universidade, nos moldes do que estava planejado no projeto apresentado pelo ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub.

Confirma mais fotos do ato

Foto: Luiza Castro/Sul21
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Porto Alegre, 21/09/2020: Segundo ato contra a nomeação de Bulhões para reitor da UFRGS. Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
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