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7 de março de 2019
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11:59

8 de março: Porto Alegre terá ato unificado com pauta crítica a Bolsonaro

Por
Sul 21
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Em coletiva, organizadoras do 8 de março falaram da programação para Porto Alegre | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Débora Fogliatto

Construído de forma coletiva, com a participação de mais de cem entidades e movimentos, o 8 de março em Porto Alegre terá uma programação unificada a partir das 7h30, culminando em um grande ato marcado para as 17h, com o tema central “Pela Vida das Mulheres Trabalhadoras”.

Entre as principais pautas deste Dia da Mulher estão o repúdio à reforma da Previdência proposta pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), assim como o combate aos retrocessos que ele representa para os direitos das mulheres; a defesa dos direitos reprodutivos, com ênfase na legalização do aborto;  o combate à violência contra a mulher; e a demanda de justiça para Marielle Franco, vereadora carioca do PSOL assassinada há quase um ano que se tornou símbolo da luta das mulheres.

Em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira (6) na sede do Cpers-Sindicato, representantes de algumas das entidades que organizam o ato falaram da programação e dos temas que serão abordados. Ao longo do dia, sempre no Largo Glênio Peres, ocorrem três painéis, com as temáticas “Feminicídio, violência contra as mulheres e direitos reprodutivos”, às 10h, “Reforma da Previdência: impactos na vida das mulheres trabalhadoras do campo e da cidade”, às 12h30, e “Soberania alimentar e Defesa dos Territórios”, às 15h.

“A reforma da Previdência é um crime contra trabalhadoras do país. Aprofunda desigualdades, atacando as mulheres, principalmente as mulheres negras e rurais”, colocou Luciana Pereira da Silva, diretora-geral do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa).

A vice-presidente do Cpers-Sindicato, Solange Carvalho, destacou que as educadoras terão que trabalhar dez anos a mais caso a reforma da Previdência seja aprovada. “Temos que fazer grande luta, sabendo que as mulheres ainda têm dupla ou tripla jornada”, colocou, destacando que o governo Bolsonaro “persegue as minorias e as mulheres”.

Segundo as organizadoras, é a primeira vez que a capital gaúcha será palco de um ato composto por tantas entidades de forma unificada. O planejamento para o dia começou ainda em janeiro e tem suas raízes ligadas ao movimento “Ele não”, nascido durante as eleições presidenciais de 2018 contra o então candidato Bolsonaro.

A vice-presidente do PSOL-RS, Camila Goularte, lembrou da luta contra Bolsonaro nas eleições e lamentou que, agora eleito presidente, ele tenha promovido uma série de “ataques” contra as mulheres. “Esperamos que as mulheres sigam resistindo a esses projetos nefastos que são neoliberais; que atacam democracia nas escolas, como o Escola sem Partido; atacam as trabalhadoras, como a Reforma da Previdência”, apontou, colocando o 8M como uma oportunidade de “retomada da nossa luta eleitoral do Ele Não”.

É a primeira vez que a capital gaúcha será palco de um ato composto por tantos movimentos de forma unificada | Foto: Guilherme Santos/Sul21

A violência contra a mulher, que tem sido muito discutida no País nos últimos dias devido ao grande número de casos já registrados em 2019, também será tema da mobilização. “No Brasil e no mundo inteiro, as mulheres vão tomar as ruas contra a precarização do trabalho, contra as violências que sofremos. Enquanto a taxa de violência contra mulheres brancas tem diminuído, contra as negras ela tem aumentado. E o Brasil é o quinto país do mundo em violência contra a mulher”, ressaltou Vera Rosane Rodrigues de Oliveira, do coletivo Mulheres em Luta e do PSTU. “O governo Bolsonaro aprofunda a crise de violência contra a mulher”, acrescentou Luelen Gemelli, da União Brasileira de Mulheres (UBM).

Além dos painéis de discussão, ao longo do dia estão previstas também apresentações culturais. Toda a programação ocorrerá sob de uma grande tenda, na qual também haverá serviços sendo prestados, com a presença de advogadas e da Defensoria Pública. “Vai ter um microfone aberto, qualquer mulher vai poder se expressar, é um dia para que as mulheres falem”, disse Neiva Lazzarotto, da Intersindical. Os movimentos estarão no Largo desde as 7h30, quando ocorre uma feira orgânica seguida de café da manhã.

Soberania alimentar

O tema da defesa da terra e do território também estará dentre as reivindicações das mulheres este ano, segundo Salete Carollo, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). “Tendo em vista que esse ‘desgoverno’ também elegeu essa minorias – sem terras, indígenas, quilombolas – como os seus inimigos, a retirada de direitos dessas categorias e defesa dos territórios também será uma pauta”, colocou. Por isso, ocorre uma “grande feira”em cada cidade do Rio Grande do Sul que terá programação voltada para o Dia da Mulher, composta por alimentos orgânicos produzidos no campo.

“Essa proposta da feira traz essa dimensão da soberania alimentar e da capacidade que nós camponeses e camponesas temos de produzir alimento de qualidade para todo o povo brasileiro. Em uma semana, o desgoverno autorizou mais de 10 tipos de veneno para serem utilizados no campo. Isso é uma afronta a aquilo que a gente vem defendendo, de que para termos saúde é necessário alimentar-se bem”, apontou.

Coletiva ocorreu na sede do Cpers-Sindicato | Foto: Guilherme Santos/Sul21

O 8M contará ainda com feiras de artesanato e economia popular solidária. Ao meio-dia, ocorre um almoço coletivo. “À tarde temos o tema da soberania alimentar e fechando com um grande ato mobilizado no final da tarde. Daí vamos nos agregar com todas as mulheres trabalhadoras para a gente fazer um grande ato político. Mas as outras atividades também são políticas, alimentar-se é um ato político, trocar ideias sobre os diversos temas é um ato político”, descreveu Salete.

Aborto

A pauta do aborto foi destacada por Maria Fernanda, da Frente pela Legalização do Aborto, que lembrou das mobilizações em toda a América Latina no ano passado, especialmente na Argentina, onde foi votada pelos parlamentares e esteve perto de ser aprovada. “É uma demanda histórica das mulheres e sabemos que as legislações punitivas que tentam criminalizar as mulheres que realizam a interrupção voluntária da gravidez não funcionam para diminuir o número de abortos, mas sim são responsáveis por um número absurdamente grande de morte de mulheres”, resumiu.

Assim como os outros temas, este também está relacionado ao momento político que o Brasil vive, conforme destacou Maria, porque o país passa por um crescimento do conservadorismo, “que não só controla a nossa sexualidade, persegue as minorias, mas também aperta o cerco em torno da autonomia da mulher sobre o seu corpo, sua liberdade sexual e reprodutiva”.

Marielle

As organizadoras do ato destacaram que “março não acaba no oito”, ou seja, há outras mobilizações planejadas para o mês. Mesmo que o dia lembre também a vereadora Marielle Franco, na data que marca um ano de sua morte, 14 de março, acontece um ato específico exigindo justiça. “Ela representava a pauta dos direitos humanos, das mulheres negras, principalmente ela era uma mulher negra que ocupava espaços de poder”, lembra Carla Zanella, integrante do PSOL-RS. “Marielle é um símbolo para nós”, colocou Silvana Conti, da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), destacando que ela era uma mulher negra e lésbica.

Ainda, no dia 22 de março ocorrem manifestações contra a reforma da Previdência. “É um mês de luta, queremos fazer a primeira grande manifestação de massa do ano, mas é só o começo. Queremos ser trampolim para outras manifestações. Agora é o primeiro passo, mas não termina no dia 8”, afirmou Giany Rodrigues, da Resistência.

Confira a programação:

7h30: Feira Orgânica da Reforma agrária

8h: Café da Manhã

10h: Painel – Feminicídio, violência contra as mulheres e direitos reprodutivos
-Dra. Liliane Braga Luz de Oliveira, Núcleo de Defesa da Mulher da Defensoria Pública;
-Misiara Oliveira, secretária estadual das mulheres do PT/RS
-Renata Jardim, advogada e assessora institucional da Themis
-Dra Camila Giugliani, médica de família, integrante do Fórum Aborto Legal e do grupo Musas

12h30: Painel – Reforma da Previdência: impactos na vida das mulheres trabalhadoras do campo e da cidade
– Deputada federal Maria do Rosário (PT-RS)
– Deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS)
– Bernadete Menezes, diretora da ASSUFRGS
-Abigail Pereira, dirigente do PCdoB

14h30: Apresentação de Roberta Moura

15h: Painel – Soberania alimentar e Defesa dos Territórios
-Mãe Carmen de Oxalá, da Assobecaty de Guaíba
-Cibele Kuss, pastora luterana da IECLB
-Suelen Gonçalves, integrante da Frente Brasil Popular e do MNLM

16h: Livraço
-Deputada estadual Sofia Cavedon (PT/RS)

17h30: Ato pela Vida das Mulheres Trabalhadoras
Concentração: Esquina Democrática

19h: Caminhada


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