Número de mulheres na Câmara aumenta, mas continua baixo no país e no RS

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Número de mulheres na Câmara aumenta, mas continua baixo no país e no RS
Número de mulheres na Câmara aumenta, mas continua baixo no país e no RS
Deputados durante a votação do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, momento em que se percebe a predominância masculina na Câmara | Foto: Antonio Augusto/ Câmara dos Deputados

Débora Fogliatto

Se em 2014 a bancada feminina compunha menos de 10% da Câmara de Deputados, neste ano a porcentagem aumentou para 15%. O número, porém, ainda não é expressivo, não chegando à metade dos 30% obrigatórios de candidaturas femininas para cada partido. Isso significa que, mesmo que a lei exija a participação delas no pleito, o número de eleitas não é proporcional ao número de candidatas. Na nova legislatura, serão 77 deputadas — em 2014 eram 51 — dos 513 parlamentares.

No Rio Grande do Sul, apenas três mulheres foram eleitas para compor a bancada de 31 deputados gaúchos na Câmara, e os seis mais votados foram homens. A sétima é Fernanda Melchionna (PSOL), com 113.906 votos, que cumprirá seu primeiro mandato no Congresso. Até então, ela é vereadora de Porto Alegre, cargo que exerce pela terceira vez. Também foram eleitas Maria do Rosário (PT), que vai para seu quinto mandato com 96.503 votos, seguida por Liziane Bayer (PSB), que até então era deputada estadual, com 52.614.

Fernanda Melchionna, do PSOL, foi eleita para seu primeiro mandato na Câmara com mais de 113 mil votos | Foto: Guilherme Santos/Sul21

As deputadas eleitas correspondem a menos de 10% da bancada gaúcha, mas o número já representa um avanço, considerando que em 2014 foi apenas uma, Maria do Rosário. Em 2010, além dela, foi eleita Manuela D’Ávila (PCdoB), que atualmente concorre como vice na chapa de Fernando Haddad (PT) à presidência do país.

Câmara Federal: representação feminina nos estados

Proporcionalmente ao número de cadeiras que possui, o local com maior percentual de mulheres foi o Distrito Federal, com cinco dos oito deputados eleitos sendo mulheres, ou seja, 62,5%. Foi a primeira vez que o número de mulheres ultrapassou o de homens eleitos no local. Já em São Paulo, que conta com o maior número de representantes do Congresso, foram 11 mulheres de 70 cadeiras, representando 15%.

Três estados elegeram mulheres para metade de suas cadeiras na Câmara: Acre, Amapá e Piauí, todos os quais possuem oito assentos e elegeram quatro deputadas cada. Por outro lado, Amazonas, Maranhão e Sergipe não elegeram deputadas. Entre as eleitas, os partidos dos dois presidenciáveis se destacam: dez são do PT, legenda de Fernando Haddad, e nove do PSL, de Jair Bolsonaro.

Segundo a Agência Brasil, na lista dos mais jovens eleitos para a Câmara há uma mulher, a estudante de Direito Luiza Canziani (PTB-PR), 22 anos, filha do também deputado federal Alex Canziani (PTB-PR), que perdeu a disputa para o Senado. Reeleita deputada federal, Luiza Erundina (PSOL-SP), 84 anos, no sexto mandato, é a parlamentar mais velha do novo Parlamento.

No Senado, somente quatro das 13 atuais senadoras terão mandato a partir do ano que vem, além de mais sete candidatas foram eleitas, levando o total de mulheres a dez. Nenhuma mulher foi eleita governadora no Brasil, e apenas uma concorre ao segundo turno: Fátima Bezerra (PT), que pode se eleger no Rio Grande do Norte.

Assembleia gaúcha: mulheres são 16%

Já para a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, foram nove eleitas dentre as 55 cadeiras, duas a mais do que em 2014. Dentre elas, as duas mais votadas foram as que disputavam a reeleição: Any Ortiz (PPS), que vai para seu segundo mandato com 94.903 votos, e Silvana Covatti (PP), que em 2010 foi a deputada estadual mais votada com 85.604 votos e, agora, inicia seu quarto mandato com 75.067.

Any Ortiz (PPS) foi a terceira mais votada dentre os deputados e a mais votada dentre as mulheres | Foto: Marcelo Bertani

A terceira mais votada dentre as mulheres foi Luciana Genro (PSOL), com 73.865 votos, que exerceu o cargo pela primeira vez em 1994, e em 2002 passou a ser deputada federal. Em 2008, candidatou-se à Prefeitura de Porto Alegre e, em 2010, após ter trocado o PT pelo PSOL, não se reelegeu deputada devido ao quociente eleitoral. Em 2014, concorreu à presidência da República pelo PSOL.

Também retorna à Assembleia Juliana Brizola (PDT), com 43.822 votos, que já foi vereadora e deputada estadual. Em 2014, ficou como suplente, mas assumiu uma cadeira quando o deputado Diógenes Basegio foi cassado. Um caso semelhante é o de Zilá Breitenbach (PSDB), que alcançou 24.115 votos. Antes de se tornar deputada, Zilá foi prefeita de Três Passos por duas legislaturas, e vai para seu quarto mandato na AL-RS. Em 2014, assim como Juliana, ela ficou na suplência e acabou assumindo o mandato.

Além das cinco que já estiveram na Casa, quatro deputadas eleitas nunca exerceram o cargo. Com 44.755 votos, Kelly Moraes (PTB) exercerá seu primeiro mandato na Assembleia, após ter sido primeira-dama, secretária e posteriormente prefeita em Santa Cruz do Sul. Em 2002, antes de se tornar prefeita, exerceu o cargo de deputada federal. Desde 2016, era vereadora de Santa Cruz. Também estreia no parlamento gaúcho Franciane Bayer (PSB), irmã de Liziane Bayer, a qual até então exercia um mandato na Assembleia e agora se elegeu para a Câmara. Levantando bandeiras religiosas — Liziane é pastora –, Franciane nunca havia exercido cargos políticos anteriormente.

Sofia Cavedon (PT), ao conquistar 32.969 votos, também exercerá o cargo pela primeira vez, após ser vereadora da capital por cinco mandatos e Secretária Municipal da Educação de Porto Alegre em 2002. Já Fran Somensi (PRB), a última deputada eleita, com 15.404 votos, é primeira-dama de Farroupilha, casada com o prefeito Claiton Gonçalves, do PDT.

Mulheres negras

Mesmo com o aumento de candidaturas de mulheres negras para o Legislativo gaúcho, nenhuma se elegeu. Dentre as que se candidataram, a que obteve maior número de votos foi Karen Santos (PSOL), que concorreu a uma vaga como deputada federal e obteve 16.438 votos. Ela é suplente do PSOL na Câmara de Vereadores de Porto Alegre e deve assumir uma cadeira no município quando Fernanda Melchionna for para Brasília. Dentre as que disputavam vaga na Assembleia, Bruna Rodrigues (PCdoB) foi a mais votada, com 12.985, mas não conquistou um assento.

No entanto, em outros estados houve avanços nesse sentido. Na Bahia, Olívia Santana (PCdoB) foi a primeira mulher negra a se eleger para a Assembleia, com mais de 55 mil votos. Em São Paulo, foi eleita uma deputada transexual negra, Erica Malunguinho (PSOL), além de Leci Brandão (PCdoB), que se reelegeu, e da Bancada Ativista, a qual conta com quatro negros dentre os nove integrantes. Em Minas Gerais, a vereadora de Belo Horizonte Áurea Carolina (PSOL) conquistou uma vaga para representar o Estado na Câmara de Deputados, enquanto Andreia de Jesus (PSOL) tornou-se a primeira deputada negra da Assembleia.

No Rio de Janeiro, meses após o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), que segue sem respostas, duas integrantes de sua equipe foram eleitas deputadas. Renata Souza (PSOL), ex-chefe de gabinete de Marielle, e Mônica Francisco (PSOL), que era assessora da vereadora, cumprirão mandatos na Alerj. Além delas, se elegeram Dani Monteiro (PSOL) e Enfermeira Rejane (PCdoB), também autodeclaradas pretas. Três mulheres negras também foram eleitas dentre os 45 parlamentares cariocas que compõem a Câmara Federal: Talíria Petrone (PSOL), muito comparada à Marielle, foi eleita para o Congresso com mais de 100 mil votos, enquanto Benedita da Silva (PT) e Rosangela Gomes (PRB) foram reeleitas para representar o estado.

Primeira mulher indígena

Em Roraima, pela primeira vez na história do Brasil uma mulher indígena foi eleita deputada federal. Joenia Wapichana (Rede) obteve 8.267 votos e se tornou a segunda pessoa indígena a obter um cargo no Congresso. O primeiro foi Mário Juruna, do PDT, em 1982. Joenia foi, também, a primeira mulher indígena a exercer a profissão de advogada no país.


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